A lista dos judeus laureados com o Prêmio Nobel de 2020 incluiu Harvey J. Alter, Medicina; Paul Milgrom, Economia; e Lousie Glück, Literatura. Dois outros laureados com o Nobel de Física têm ascendência judaica.
Fisiologia e Medicina
O prêmio foi concedido a Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice pela descoberta do vírus da Hepatite C, doença considerada um problema mundial de saúde. Harvey J. Alter, 85 anos, virologista e pesquisador do Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos, demonstrou em seus estudos sobre hepatite associada a transfusões de sangue que um vírus então desconhecido era uma causa comum da hepatite crônica.
Alter nasceu em Nova York em 1935, em uma família judaica. No início da carreira, teve a oportunidade de trabalhar com o Dr. Baruch Blumberg, também judeu, um dos vencedores do Nobel de 1976 pela descoberta do vírus da hepatite B. Em seu paper, “The road not taken or how I learned to love the liver: A personal perspective on hepatitis history”, de 2013, Alter escreveu: “Sendo o único filho homem de pais judeus em Nova York, estava pré-determinado que eu me tornaria um médico. Um dos meus amigos, na mesma situação, decidiu não ser médico e nunca mais se ouviu falar dele... Na verdade, meu pai, queria muito ser médico, mas as preocupações financeiras determinaram que fosse de outra forma... Ele se tornou um homem de negócios de sucesso, mas nunca perdeu o interesse na medicina... Lembro-me dele lendo a publicação Science Digest e outras revistas médicas ao invés das páginas de esporte dos jornais”.
Alter recebeu um telefonema comunicando-lhe o prêmio às 4h45. “Foi o melhor despertador que já tive, na vida”, afirmou, contando ter ignorado as primeiras duas vezes em que o telefone tocou antes de atender, devido ao estranho horário. “Reconheço que o incômodo desapareceu em um segundo… Receber este prêmio é algo que você não pensa que um dia lhe acontecerá e algumas vezes pensa que não o merece... e então, acontece! ”
Ao longo de sua carreira, recebeu várias premiações e foi um dos membros eleitos da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos e da Academia Nacional de Medicina, em 2002.
Nobel de Literatura
A poeta americana Louise Glück ficou com o Nobel de Literatura 2020 e, segundo o comitê da Academia Sueca, foi escolhida “por sua inconfundível voz poética, que torna universal a existência individual... Sua poesia é caracterizada pela busca pela clareza, muitas vezes com foco na infância, na vida familiar e no relacionamento próximo com pais e irmãos... ”
Considerada por muitos uma das poetas contemporâneas mais talentosas dos EUA, Glück é conhecida pela precisão técnica e sensibilidade de sua obra sobre solidão, relações familiares, divórcio e morte.
Louise nasceu em Nova York em 1943, sendo seus avós paternos provenientes da Hungria. Em uma entrevista concedida à American Academy of Achievement, em 2012, ela contou que começou a escrever muito cedo, juntamente com sua irmã. Publicou sua primeira coletânea de poemas, Firstborn, em 1968, e daí em diante não parou mais de escrever.
A escritora recebeu o que se poderia chamar de o protótipo da criação judaico-americana. Na obra “Educação de um Poeta”, ela descreve sua educação, “reconhecendo e honrando e mesmo aspirando chegar a realizações gloriosas”, que acredita ser a própria filosofia educacional judaica. Quando seu pai faleceu, escreveu a coleção de poemas “Ararat”, como resposta à grande perda que sofrera. Com o nome da região montanhosa onde Noé “estacionou” a arca após o dilúvio, este é um dos inúmeros trabalhos em que a produção de Louise, sempre tão impregnada de mitologia, busca suas referências na Bíblia judaica. Em outra obra, ela cria sua própria interpretação de um Midrash, comparando a vida de imigrante de seu avô com a históriabíblica deJosé, filho do patriarca Yaacov, no Egito.
Atualmente ocupa a cátedra de Inglês na Universidade de Yale, em Connecticut. Ainda que seus trabalhos abordem temas clássicos, percebem-se traços de sua herança judaica em vários deles. Recebeu vários prêmios e, em 2016, a Medalha Nacional de Humanidades, entregue pelo então presidente Barak Obama.
Nobel de Economia
Paul Milgrom, 77, e Robert Wilson, 83, levaram o Nobel de Economia, este ano, por suas pesquisas, segundo o comunicado da Academia Sueca, “para melhorar a teoria dos leilões, inventando novos formatos, benefícios para os vendedores, compradores e contribuintes, em todo o mundo... Os leilões estão por toda parte e afetam o nosso dia-a-dia”. Ambos são professores da Universidade de Stanford.
Milgrom recebeu a notícia do Nobel de seu colega e vizinho Robert Wilson, que tocou a campainha de sua casa, em Palo Alto (Califórnia), no meio da noite, para lhe dar a notícia. Os responsáveis pelo Comitê Sueco não tinham conseguido falar com ele por telefone. “Foi realmente uma forma estranha de saber da premiação”, disse em entrevista no dia seguinte.
Nascido em uma família judaica em Detroit, em 1948, fez seu bar mitzvá na Congregação Beth Yehudah e se formou na United Hebrew Schools da cidade. No mesmo ano, recebeu um prêmio concedido a jovens pela Women’s Auxiliary of United Hebrew Schools. Foi também madrich na United Synagogue Youth (USY).
O Nobel de Economia ocupa uma cátedra em Humanidades e Ciências na Universidade de Stanford desde 1987. Wilson, com quem Milgrom compartilhou o prêmio, foi seu orientador, tornando-se posteriormente seu colaborador. Formado em Matemática pela Universidade de Michigan, tem mestrado em Estatística e doutorado em Business, pela mesma universidade.
Nobel de Física
O Nobel de Física deste ano também foi compartilhado por três cientistas: o britânico Roger Penrose, o alemão Reinhard Genzel e a americana Andrea Ghez, pelas descobertas sobre buracos negros, um lugar no espaço onde a gravidade é tão forte da qual nem a luz consegue escapar.
Penrose e Guez consideram-se ateus, mas têm ascendência judaica. A avó de Roger Penrose, 89, professor-doutor na Universidade de Oxford, Sonia Marie Nathanson, era judia. Deixou a Rússia no final do século 19. Mas, “escondeu suas origens judaicas e se afastou da família”, como revelou em entrevista ao Jerusalem Post, em 2007. Andrea Ghez, é professora-doutora no Departamento de Física e Astronomia da UCLA, em Los Angeles. Seu avô paterno era judeu da Tunísia, tendo fugido da Itália para os EUA após as leis fascistas antissemitas de 1938.
Os cientistas judeus continuam brilhando e aumentando nosso escore de Prêmios Nobel, que já chega a 208 em meio a mais de 900 laureados – sendo que representamos meros 0, 002% da população mundial.