Israel fechou o ano de 2018 tendo recebido 4.1 milhões de turistas, 14% a mais do que no ano anterior, batendo seu próprio recorde pela segunda vez. O turismo não para de crescer, atraindo visitantes do mundo inteiro.
A revista EuroMonitor classificou Israel o destino turístico de crescimento mais rápido do mundo não só pelos seus tradicionais pontos culturais e religiosos, mas também pelas novas atrações que surgem anualmente, desvendando facetas surpreendentes do país.
Em março de 2019, por exemplo, uma notícia inicialmente divulgada em jornais e revistas especializados ganhou as manchetes da imprensa, em geral, e colocou o país no centro das atenções: o Estado Judeu possui a maior caverna de sal do mundo, medindo 10 quilômetros de extensão em passagens e câmaras subterrâneas. Denominada de Caverna Malcham, bateu o recorde de 13 anos mantido pela Caverna 3N, no Irã, com cerca de sete quilômetros.
O fato foi confirmado após um trabalho de mapeamento de dois anos, realizado no local por um grupo internacional formado por 80 espeleólogos, de nove países, e coordenado pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Segundo os especialistas, Malcham foi modificada pela ação da chuva, que dissolveu sua superfície, e, com o tempo, irá se expandir ainda mais. Esta nova recordista mundial está localizada no Monte Sodoma, no extremo sudoeste do Mar Morto, perto do local árido em que, segundo a Torá, a mulher de Lot foi transformada em uma estátua de sal.
A Caverna Malcham foi descoberta pelo professor Amos Frumkin, diretor da Unidade de Pesquisas de Cavernas da Universidade Hebraica de Jerusalém, na década de 1980. Utilizando os métodos disponíveis na época, ele e sua equipe estimaram que a caverna media, então, cinco quilômetros. Há dois anos, porém, o espeleólogo israelense Yoav Negev decidiu completar o trabalho de Frumkin. Fundador do Clube Israelense de Exploradores de Cavernas, uniu-se ao especialista Boaz Langford para organizar uma equipe internacional, em parceria com a Universidade Hebraica. Em 2018, a equipe passou 10 dias cartografando a caverna. Em 2019, outra equipe voltou ao local para 10 dias adicionais de medições.
Enormes blocos de sal – alguns de cor âmbar devido à poeira a minerais – sobressaem-se para formar estruturas singulares, que receberam sugestivos nomes dados pelos especialistas. Um destes blocos, que parece ter sido talhado, é chamado “A Guilhotina”. Outros blocos de sal encontrados em outras áreas são chamados, por exemplo, “Os 10 Mandamentos”, “Câmara de Casamentos”, onde centenas de estalactites brancas, de diversas formas, criam um efeito muito especial.
Cavernas de Norte a Sul
É quase impossível contar quantas cavernas Israel possui, pois novas descobertas surgem quase diariamente. A maioria é formada pela infiltração das águas das chuvas nos solos; outras por escavações em antigas pedreiras, entre outras formas. Apesar da maioria das cavernas estarem fechadas ao público, outras fazem parte das opções para quem está em busca de um programa diferente.
A pequena Caverna Sorek (Avshalom), também chamada de Caverna de Estalactite, está localizada em uma reserva natural, nas encostas a Oeste das montanhas da Judeia, entre Jerusalém e Beit Shemesh. O local foi casualmente descoberto, há 44 anos, por operários que trabalhavam em uma pedreira de calcário e encontraram, em seu interior, estalactites e estalagmites com aproximadamente quatro metros. Estudiosos acreditam que algumas datam de mais de 300 mil anos ao passo que outras ainda estão em formação.
O Parque Nacional Beit Guvrin-Maresha, localizado em uma área chamada de “terra de milhares de cavernas”, na região central do sul de Israel, possui uma atração especial: o Complexo Bell de Cavernas, com mais de 70 delas conectadas por uma série de passagens. A mais alta dessas cavernas mede mais de 5 metros de altura!
Escavadas como pedreiras durante o período inicial árabe, entre os séculos 7 e 11 da Era Comum, esse conjunto de cavernas deve seu nome ao fato de seu formato de sino, “bell”, em inglês. Inscrições árabes e cruzes ainda podem ser vistas em suas paredes. O local tornou-se mais conhecido, há alguns anos, quando serviu de cenário para o filme “Rambo III”, de Sylvester Stallone.
Outras cavernas que atraem a atenção dos turistas são as 11 localizadas na região de Qumran e que remontam a fatos importantes da história judaica, na região. Uma seita de judeus – a seita de Qumran ou do Mar Morto viveu na área desde 150 AEC até 68 EC, quando o local foi destruído pelos romanos, durante a Grande Revolta Judaica (66-73 EC). A seita guardava pergaminhos que haviam sido escritos entre o século 2 AEC e o século 1 EC em cavernas próximas a Qumran. Tais manuscritos foram encontrados a partir de 1947 e se tornaram conhecidos como os Manuscritos do Mar Morto. Os Pergaminhos estão expostos na Cúpula do Livro, um anexo do Museu de Israel, em Jerusalém.
Situada em uma região de calcário na Alta Galileia, a Caverna HaYonim (Caverna de Pombos) foi usada como moradia entre 250 mil e 12 mil anos atrás. Escavações lá realizadas trouxeram à tona lâminas, braseiros, pisos e túmulos.
“Este é um bom exemplo das cavernas naturais pré-históricas e podem ser associadas a dois tipos de seres humanos que coexistiram no início da Era Glacial – o Homo Sapiens e o Neandertal”, explica Frumkin. “No chamado Período Natufiano1, cerca de 11 mil anos atrás, as pessoas começaram a construir pequenas casas – estruturas assim podem ser vistas na entrada desta caverna”.
Não muito distante da Caverna HaYonim está a Caverna Tabun (Caverna Forno). Lá foi encontrado um esqueleto feminino Neandertal de cerca de 120 mil anos. O local é assim chamado por se assemelhar a uma chaminé (forno é tanur, em hebraico, e tabun, em árabe). Há indícios de que diferentes grupos de seres humanos viveram no local entre 500 mil e 40 mil anos atrás.
Tabun é a mais alta dentre as três Cavernas Carmel situadas na Reserva Natural Nahal Me’orot. Alguns degraus levam os turistas do Centro de Visitantes até a entrada. Escavações realizadas no local identificaram ferramentas de caça e de trabalho em metal, além de pilhas de ossos de antílopes e outros restos de alimentos.
A Caverna Hanahal (El-Wad) é a maior desse complexo. No Centro de Visitantes, um audiovisual sobre a vida cotidiana pré-histórica e um esqueleto em exposição ilustram os costumes fúnebres da cultura natufiana, há dez mil anos. Mais de cem antigos esqueletos foram desenterrados, alguns com enfeites feitos de pedras, ossos ou conchas.
Marcada por lendas, a Caverna de Zedequias está localizada a cerca de 400 metros abaixo do muro norte da Cidade Velha de Jerusalém. O local é descrito no episódio bíblico em que Zedequias, o último rei de Jerusalém, tentou fugir para Jericó durante o cerco babilônico. Ele foi capturado e torturado, razão pela qual a fonte, na parte de trás da caverna, é chamada de Lágrimas de Zedequias.
Arqueólogos acreditam que foi dessa caverna, uma antiga pedreira, que foram levadas as pedras gigantescas para construir o Segundo Templo, no século 4 antes da Era Comum. A caverna é iluminada e há inscrições em hebraico, árabe e inglês. Mais da metade de sua extensão já está aberta ao público para visitação.
A Caverna Pa’ar, na Alta Galileia, formou-se pelo fluxo de água que corria da superfície para um amplo subterrâneo de solo de calcário. “Talvez este seja o melhor exemplo do que acontece em solos de calcário sob ação constante da água”, diz Frumkin.
A Caverna Hariton é a maior de calcário de Israel e um verdadeiro labirinto. Para conhecê-la, é melhor estar acompanhado por um guia, usar sapatos apropriados e levar uma lanterna. Está localizada perto de Belém e ao sul do Herodion de Jerusalém, perto da cidade de Tekoa. Segundo o historiador Flávio Josefo, Hariton foi parte de um sistema subterrâneo de rotas de fuga usado pelos judeus para escapar dos romanos há mais de 2 mil anos. Uma verdadeira visita ao passado da região.
1 Os natufianos eram os povos sedentários caçadores-coletores do Período Epipaleolítico Tardio, que viveram na região do Mediterrâneo Oriental, há cerca de 12.500 e 10.200 an