Israel e China registraram, em janeiro passado, 25 anos do estabelecimento de relações diplomáticas, em meio a um crescimento vertiginoso dos laços bilaterais. A expansão invade campos como cooperação tecnológica, comércio, investimentos, intercâmbio acadêmico e visitas governamentais.

O calendário em Pequim marcava 24 de janeiro de 1992, quando os ministros das relações exteriores David Levy e Qian Qichen assinaram o acordo diplomático. A aproximação ocorria graças ao final da Guerra Fria, período histórico moldado, sobretudo, pelo embate entre os chamados mundos capitalista e comunista.

A China já havia, em 1978, deslanchado as reformas responsáveis por injetar economia de mercado em um país ainda dominado politicamente pelo Partido Comunista. Mas foi necessária a queda do Muro de Berlim, em 1989, para aplainar de vez o terreno para a aproximação entre Jerusalém e Pequim, que chegaram a manter contatos secretos, nos campos econômico e militar, em momentos da cinzenta Guerra Fria.

Superada a era de disputas ideológicas e com o advento da globalização, China e Israel embarcaram numa parceria  formada, especialmente nos últimos anos, por acelerada expansão baseada em dois fatores. De um lado o interesse chinês em tecnologia israelense. De outro, o desejo de Israel de se beneficiar do crescente mercado consumidor da China.

O governo em Pequim, depois de três décadas de decolagem econômica baseada em exportações e investimentos, constrói um novo modelo de desenvolvimento, cujos pilares principais são o mercado interno em expansão e a aposta em inovação e tecnologia, na transição de uma economia apoiada na indústria para um modelo voltado sobretudo ao setor de serviços.

Pequim, portanto, encontra em Jerusalém um parceiro importante para suas ambições tecnológicas. No ano passado, investidores chineses despejaram cerca de 500 milhões de dólares em startups israelenses. “Há ainda espaço amplo para expandir uma cooperação pragmática em áreas como novas fontes de energia, agricultura moderna, tecnologia biológica”, escreveu Zhan Yongxin, embaixador chinês em Israel, em texto publicado no site “Jpost.com”.

Diversos projetos de cooperação florescem na área governamental e acadêmica. O Ministério de Relações Exteriores de Israel implementa, há dois anos, um comitê intergovernamental para inovação, responsável por articular cooperação entre diversas instâncias dos governos israelense e chinês.

No mundo acadêmico, também cresce o intercâmbio. São exemplos a Universidade de Tel Aviv, onde se inaugurou um centro de inovação em cooperação com a Universidade Tsinghua, da China. O Instituto Technion, sediado em Haifa, abriu filial na cidade chinesa de Shantou, em parceria com uma instituição acadêmica local.

A cerimônia de lançamento, em dezembro de 2015, contou com a presença de Shimon Peres, que faleceria no ano seguinte, do megaempresário Li Ka-shing, de Hong Kong, e de Ofir Akunis, ministro israelense de Ciência, Tecnologia e Espaço, entre outras personalidades do mundo da pesquisa. Doador e entusiasta do projeto, Li Ka-shing discursou: “Em nossos dias e em nossos tempos, ninguém tem a mínima dúvida de que inovação tecnológica sustenta a habilidade de um país em criar riqueza coletiva, e que isso é o estímulo-chave para o sucesso individual. Criatividade é o pilar definidor de nossa era, projetando-nos para o futuro”.

Enquanto Pequim investe pesadamente na criação de um modelo econômico baseado em inovação, Israel, país famoso por suas startups, implementa nova ênfase em sua política externa, buscando ampliar participação em mercados asiáticos. Portanto, relações com países como China e Índia ganharam, nos últimos anos, mais peso na agenda diplomática israelense.

O desempenho da balança comercial sino-israelense ilustra os novos tempos. Em 1992, quando do estabelecimento das relações diplomáticas, o fluxo bilateral atingia 50 milhões de dólares por ano. Hoje, a cifra ultrapassa 11 bilhões, o que faz de Pequim o maior parceiro comercial de Israel na Ásia e o terceiro maior no mundo.

Israel e China já mantêm negociações para um acordo de livre comércio, iniciativa planejada para turbinar ainda mais investimentos e vendas entre os dois países. Empresas israelenses olham com interesse para a ascendente classe média chinesa, hoje avaliada em cerca de 350 milhões de pessoas.

A diplomacia de Israel também investe na abertura de novas representações. Além da embaixada em Pequim, conta com consulados em Guangzhou e Chengdu, importantes centros econômicos regionais na China.

Nos céus, se verificam ecos do intercâmbio intenso, com 14 voos por semana entre Israel e China. Recentemente, a chinesa Hainan Airlines passou a operar no trajeto, explorado há vários anos apenas pela israelense El Al.

O noticiário também invadiu o cenário esportivo, pois em 2016 o time chinês Guangzhou R&F contratou Eran Zahavi, artilheiro da liga israelense por três temporadas seguidas. A transferência rendeu 8 milhões de dólares aos cofres do Maccabi Tel Aviv, cifra recorde na história do futebol de Israel.

O ritmo de avanço das relações sino-israelenses, no entanto, enfrenta também críticas, oriundas de setores políticos e da defesa. Os chamados céticos da parceria com o gigante asiático apontam para os laços sólidos de Pequim com o Irã e aliados, e argumentam que a aproximação com a China não pode se dar às custas de diminuição de contatos com os Estados Unidos.

A ascensão econômica e política da China e de outros países asiáticos corresponde a um dos principais fatores a moldar o século 21. Portanto, não há como Israel evitar um aprofundamento de suas relações com o mais dinâmico polo da economia global, mas, sem dúvida, protegendo seus interesses estratégicos.

Jaime Spitzcovsky foi editor internacional e correspondente da Folha de S. Paulo em Moscou e em Pequim