A Women International Zionist Organization, a WIZO tão nossa conhecida, completou 95 anos em julho de 2015. Desde o seu surgimento tem desenvolvido projetos para melhorar a vida da população em Eretz Israel e, hoje, atua em parceria com o Ministério de Bem-Estar e Desenvolvimento Social, na realização de projetos voltados a atender crianças, jovens e mulheres em situação de risco e condições precárias.
Instituição criada por mulheres, na qual estas representam a sua essência e alma, a WIZO Mundial é uma organização apolítica que está presente em 50 países, com mais de 250 mil voluntárias engajadas em atividades ligadas ao bem-estar, integração e desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e mulheres no Estado Judeu.
Em 2008, a Organização foi agraciada com o Prêmio Israel em reconhecimento pelo trabalho na promoção do bem-estar social. Trata-se da mais alta honraria outorgada pelo governo israelense a pessoas e entidades que se sobressaem em seu campo de ação ou que contribuem para a cultura do país. E está entre as poucas congêneres que têm representação na Organização das Nações Unidas, no Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e na Comissão Social e Econômica das Nações Unidas (Ecosoc).
A WIZO nasceu da preocupação de um grupo de mulheres inglesas em relação à situação enfrentada pela parcela feminina na Terra de Israel, decididas a atuar em prol da melhoria das precárias condições da população que ali vivia. Fundada no dia 11 de julho de 1920, foi inspirada pelos sentimentos de solidariedade e amor ao próximo e, acima de tudo, pelo movimento sionista que proliferava na Europa no seio das comunidades judaicas.
Desde então, ano após ano, a entidade foi crescendo, ganhando força e ocupando um espaço maior na área de Responsabilidade Social de Israel. Desde o início, as chaverot (companheiras, nome como as integrantes se autodenominam) da WIZO perceberam que a educação deveria ser a chave para o desenvolvimento e a transformação na sociedade israelense e no mundo. Nesse processo, a mulher, por sua posição na constelação familiar, seria o elemento multiplicador de novos conhecimentos, hábitos e atitudes.
Ativa em vários países através de núcleos locais, que trabalham em sintonia com as diretrizes traçadas pela coordenação mundial sediada em Israel, a WIZO é responsável por mais de 800 projetos implantados em Israel. Seu objetivo hoje, como no passado, é o avanço do status da mulher, bem-estar de todos os segmentos que compõem o universo israelense e o incentivo à educação judaica em Israel e na Diáspora, sempre inspirada pelos ideais sionistas que defendem a igualdade de oportunidades para todos.
Os primeiros passos
A ideia de reestabelecer o Lar Nacional Judaico após dois mil anos de exílio parecia grandiosa no início do século 20. Ainda assim, o movimento sionista crescia, em várias capitais europeias, envolvendo cada vez mais adeptos da ideia de que o povo judeu só poderia realizar-se totalmente como povo caso se reorganizasse como Estado livre e independente em Eretz Israel, sua terra ancestral. Ao término da 1ª Guerra Mundial e com a derrota da Alemanha, a coordenação do movimento que, até então estava nesse país, passou para a Grã-Bretanha, sob a liderança de Chaim Weizmann, que viria a se tornar o primeiro presidente do moderno Estado de Israel.
A concretização de tal objetivo ainda permanecia distante, como um sonho de realização quase impossível. Os judeus da Diáspora, através de suas lideranças, acompanhavam atentamente e com grande preocupação a situação do Yishuv, como era então chamada a comunidade judaica na Terra de Israel. Esforços constantes eram feitos para melhorar a vida da população, seja através do envio de recursos financeiros ou através de programas de voluntários que lá passavam períodos esparsos. Mas as dificuldades eram muitas, tanto pela ameaça dos vizinhos hostis, quanto pelas epidemias, falta de alimentos e, também, de preparo dos habitantes para enfrentar tantas adversidades. O ideal, no entanto, não esmorecia.
Uma visita feita à região em 1918 pelas esposas de proeminentes líderes sionistas que viviam na Grã-Bretanha, entre as quais Rebecca Sieff, esposa de Israel Sieff, secretário político do movimento sionista; Vera Weizmann, esposa do presidente do movimento Chaim Weizmann; e Edith Eder, foi fundamental para a criação da WIZO. Como delegadas de uma Comissão Sionista que fora a Eretz Israel para conhecer de perto o contexto local, defrontaram-se com uma realidade chocante, pois, com o fim da 1ª Guerra Mundial, a situação do Yishuv, que já era difícil, só fez piorar. A das mulheres, em especial, era catastrófica.
Esse grupo de mulheres, cujos maridos estavam profundamente envolvidos no movimento sionista, acreditava que deveriam, elas também, ter uma participação mais efetiva e igualitária na luta pelo retorno a Sion. Parte delas já estava envolvida em conquistas sociais, na Inglaterra, como o direito ao voto, entre muitas outras.
Assim, após a visita à Terra de Israel, elas já não tinham dúvida sobre qual o caminho a seguir: unir-se para trabalhar em prol dos carentes, ajudando, assim, na implantação das bases que permitiriam a formação de um Estado Judeu, sólido e igualitário. Sob a liderança determinada de Rebecca Sieff, Vera Weizmann e Romana Goodman, fundaram, em 1918 mesmo, o Comitê Feminino da Federação Sionista Britânica. Alguns meses depois, em 12 de janeiro de 1919, realizaram a sessão de fundação da Federação das Mulheres Sionistas, semente da futura WIZO Britânica, atual Wizo do Reino Unido.
A Federação das Mulheres Sionistas foi o primeiro passo em direção à WIZO Mundial, criada em julho de 1920. Rebecca Sieff e as demais ativistas acreditavam que as mulheres deveriam trabalhar em uma organização própria, através da qual pudessem desenvolver todo o seu potencial, fortalecendo-se umas às outras, em parceria com os homens, mas não dependendo de suas decisões ou prioridades.
Na reunião de fundação da nova entidade feminina, Rebecca Sieff apresentou uma plataforma com os projetos a serem desenvolvidos. Um plano ousado, que demandaria coragem, determinação e muitos recursos, naquela época ainda demasiadamente escassos. Nada, no entanto, poderia deter essa iniciativa, que tinha como objetivo criar uma sociedade sionista, humanista, baseada em oportunidades iguais, focada na educação e no bem-estar das mulheres, crianças e jovens, em cooperação com as comunidades da Diáspora.
Nesse processo, as mulheres seriam uma ferramenta fundamental através da educação e do treinamento, que lhes permitiriam desenvolver habilidades para atuar da melhor forma possível no Estado a ser formado. Rebecca Sieff e suas companheiras acreditavam que destacar a importância da mulher e o valor da sua contribuição, em resposta às necessidades locais, era fundamental para a formação da sociedade israelense. O primeiro passo para isso seria conscientizar o Yishuv sobre a importância da participação da mulher, incluindo-a nos movimentos e nas decisões, pois, muitas vezes, elas se viam como elementos de menor importância.
Desde o início, a WIZO se pautou pela flexibilidade e capacidade de se adaptar às necessidades do momento, características que se vêm mantendo desde então e que têm garantido o seu fortalecimento e continuidade. Foram consideradas áreas prioritárias a educação e formação de crianças, jovens e mulheres em diferentes segmentos; economia doméstica; legislação; saúde e serviços sociais – todas estas áreas completamente negligenciadas na então Palestina.
Em 1921, foi realizado o primeiro congresso da instituição, em Carlsbad, no qual se definiu um plano de ação com as seguintes metas, considerando as necessidades do Yishuv em Eretz Israel: o estabelecimento de um lar para meninas imigrantes; escola agrícola para meninas; fornecimento de equipamentos para uma escola de meninas em Haifa; creche para recém-nascidos cujas mães trabalhavam e um centro para idosos.
Iniciativas de base
É importante destacar que a WIZO começou sua atuação em parceria com outras instituições que já atuavam em Eretz Israel, entre as quais a Organização Médica Hadassah, presente principalmente em Jerusalém e arredores. Outras instituições criadas em Eretz Israel também diretamente ligadas à questão da mulher tornaram-se parceiras da WIZO em função dos objetivos comuns, entre as quais: a Associação de Mulheres, criada em 1917; a Liga das Mulheres para Igualdade de Direitos em Eretz Israel, em 1919; e a Organização das Mulheres Hebraicas, em 1920.
No dia 3 de junho de 1921, foi aberta a primeira clínica da WIZO, na Cidade Velha de Jerusalém, para atender gestantes e mães de recém-nascidos, quando se constatou que um dos principais problemas era a falta de leite materno, consequência direta da desnutrição das parturientes e mães. Era preciso que consumissem leite de vaca, mas a maioria não tinha condições de comprá-lo. Deu-se início, então, a um programa de distribuição de leite nas clínicas pediátricas. A iniciativa rapidamente mostrou-se positiva, pois, para receber o leite, as mulheres frequentavam o local mais assiduamente do que anteriormente. Este programa de distribuição de leite tornou-se conhecido como Tipat Chalav (Gota de Leite) e, em função da demanda, mais uma clínica foi aberta na entrada do Hospital Hadassah. Gradativamente, cada vez mais mulheres e crianças procuravam as duas clínicas.
Os recursos para tais projetos eram escassos e dependiam da boa vontade de quem tinha maiores posses, pois as atividades das clínicas incluíam não apenas a distribuição do leite e o atendimento aos pacientes, mas também a limpeza dos estábulos produtores, a pasteurização, o controle de qualidade e o preparo das mamadeiras seguindo as diretrizes dos médicos. Além de receber o leite, as mães eram orientadas sobre como garantir sua saúde e a de seus filhos.
Foram criados comitês para distribuição de roupas, centros para crianças abandonadas, círculos de costura, entre outros. É importante destacar que um dos diferenciais do trabalho desenvolvido pela WIZO, em Eretz Israel, desde o início, caracterizou-se pela preocupação em, mais do que apenas suprir as necessidades da população carente, dar-lhe as condições para que pudesse se estruturar e desenvolver para então seguir seu caminho. Seguindo este conceito, o trabalho de assistência social não faz caridade e, sim, dá ao indivíduo o que lhe é de direito como membro da comunidade. Não é filantropia, mas auxílio construtivo. O objetivo não é aumentar cada vez mais o número de assistidos, ao contrário, é reduzir este universo através do desenvolvimento de ferramentas que permitam ao indivíduo ocupar seu lugar na sociedade de forma independente. Assim começou a WIZO a trabalhar e assim continua até hoje.
Durante as duas primeiras décadas, a WIZO investiu, também, na capacitação de mulheres na agricultura, não só com a implantação de escolas para meninas, inicialmente, e posteriormente para rapazes, mas com um programa de monitores itinerantes que visitavam os diferentes povoados e assentamentos para treinar a mão-de-obra. Este projeto contribuía para a concretização da visão da instituição de encorajar a mulher a ser independente e produtiva, em qualquer área.
Como disse, certa vez, Rebecca Sieff: “O sonho de nossos sonhos é ver um fazendeiro judeu, com a mulher ao seu lado, ambos treinados para trabalhar na agricultura da Terra de Israel”. Para que o sonho se transformasse em realidade, foi aberta uma escola chamada Maon (Lar) que, mais tarde, tornou-se a Escola para Economia do Lar, dirigida por Maise Shohat. Ali eram ministradas aulas para cultivo de vegetais e flores, criação de abelhas e gerenciamento do lar. Ao longo das décadas de 1920 e 1930, a WIZO uniu-se a outras instituições para a formação de mulheres na área agrícola como, por exemplo, o apoio dado a uma fazenda em Mula, criada em 1926 com 17 alunas. Um dentre muitos outros projetos que receberam o apoio da instituição foi a implantação de hortas domésticas nas casas e pequenos edifícios erguidos em Tel Aviv, nas décadas de 1920 e 1930. A partir de 1930, a WIZO começou a atuar diretamente na área da educação formal, investindo na formação de professores a partir da pré-escola, com ênfase em agricultura.
Apoio aos refugiados
Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial e no seu decorrer, as representações WIZO foram destruídas uma a uma, na Europa: 102 na Polônia, 23 na Bulgária, 69 na Transilvânia. A WIZO Mundial, que tinha 110 mil membros antes do conflito, contava apenas com 55 mil membros após a 2ª Guerra Mundial. Apesar do baque sofrido, a instituição não desistiu de seus objetivos e, após a tragédia da Shoá, a Organização resgatou sobreviventes, tirando-os da Europa e lhes fornecendo recursos para que fossem adiante em Eretz Israel.
A aprovação da Lei do Retorno pelo Parlamento israelense, em 1950, garantiu a todos os judeus o direito de retornar à terra de seus antepassados. Entre 1948 e 1952, 648 mil judeus fizeram aliá, a maioria vinda do Leste Europeu – sobreviventes do Holocausto, e, também, do Norte da África, Iêmen e do Oriente Médio, dobrando a população do jovem país. No recém-criado Estado Judeu, a WIZO começou a atuar na absorção de imigrantes, jovens em situação de risco e busca de igualdade de direitos para as mulheres. A instituição tem tido uma participação importante em todos os momentos da história de Israel, utilizando a experiência adquirida ao longo de décadas para aprimorar seu desempenho. Foi fundamental na absorção dos judeus etíopes e soviéticos nas décadas de 1980 e 1990. Mais recentemente, tem atuado, entre outros projetos, para melhorar as condições das populações do sul do país, sob constantes ataques de mísseis.
Atualmente, a WIZO mantém 173 creches em 76 cidades israelenses, acolhendo mais de 52 mil crianças de seis meses a dez anos em suas instituições, oferece creches para os cinco maiores hospitais do país e em bases da Força Aérea, além de possuir a única creche blindada na regiãode Sderot, sul de Israel, área sob o frequente alvo de mísseis. Mantém, ainda, 54 Centros de Juventude que atendem mais de 22 mil jovens.
Organiza o maior programa anual de Bar e Bat Mitzvá, em Israel, para adolescentes imigrantes e vindos de famílias com dificuldades. Atua, também, junto a pessoas portadoras de deficiência através de diversos programas assistenciais. Possui 29 centros de aconselhamento jurídico e psicológico voltado para as questões da mulher, um disque-denúncia funcionando 24 horas por dia para atendimento a mulheres vítimas de violência e maus-tratos, além de administrar abrigos femininos e centros de prevenção e apoio às vítimas da violência doméstica.
Mantendo sua tradição de investir permanentemente na capacitação da mulher, oferece cursos específicos de treinamento e programas de liderança a essa população. Um dado importante revela o perfil da instituição quanto à educação: em termos numéricos, a WIZO é a organização que mais contrata profissionais nessa área em todo o Estado de Israel. À frente da WIZO Mundial, como presidente, brilham em seu trabalho, atualmente, Tova Ben-Dov e Rivka Lazovsky, como presidente executiva.