De acordo com nossos Sábios, o Eterno determinara que RacheL fosse enterrada num túmulo isolado, e não na Gruta de Machpelá, onde estão enterrados os demais patriarcas e matriarcas, para que o local fosse acessível aos seus descendentes. De seu túmulo isolado, ela testemunharia o sofrimento de seus filhos, o Povo Judeu, assim como sua redenção final.
O túmulo de Rachel, Kever Rachel, em hebraico, localizado ao sul de Jerusalém, na cidade de Bethlehem, é o terceiro local mais sagrado no judaísmo. Segundo o Zohar, seu túmulo perdurará até o dia em que o Santo, Bendito Seja, ressuscitar os mortos.
Kever Rachel sempre será um lugar de oração para o Povo Judeu. Por mais de 3 mil anos, os judeus lá têm ido para despejar suas angústias e pedir à nossa matriarca, Rachel, que interceda por eles junto ao Altíssimo. Os que não conseguem ter filhos pedem para se tornarem pais; os doentes, por saúde; os solteiros, que os ajude a encontrar seus pares; os que sofrem, por consolo e alívio. E assim por diante...
Sabemos que nossa mãe espiritual entenderá nossa dor e nossas atribulações, pois as adversidades não lhe eram estranhas. Rachel foi vítima da traição de seu pai, quando este deu sua irmã, Leah, em casamento a Yaacov. E quando ela se tornou a segunda esposa de Yaacov, durante anos não conseguiu engravidar. Finalmente, teve um filho, mas morreu ao dar luz ao segundo, sabendo que não teria a alegria de vê-los tornarem-se homens.
Na Cabalá, Rachel é retratada como a personificação da Shechiná, aspecto imanente de D’us neste mundo, que “desce” para tomar conta de Seus filhos, seguindo-os até no exílio para Se assegurar de que um dia eles retornariam. As profecias de Jeremias revelam que quando Jerusalém foi destruída pelos babilônios, os judeus foram reunidos em Ramá, antes de serem levados cativos para a Babilônia, e lá invocaram a Misericórdia Divina. “Assim diz o Eterno: Ouviu-se um clamor em Ramá, lamento e choro amargo; Rachel está chorando por seus filhos, ela se recusa a se deixar consolar por sua perda, porque já não existem. Assim, disse, porém, o Eterno: que cesse de chorar tua voz e de verterem lágrimas teus olhos, pois recompensa haverá para tua obra. Teus filhos voltarão da terra do inimigo”. (Jeremias, 31:14)
Morte de Rachel
Segundo consta no Seder Olam, Rachel faleceu no dia 11 de Cheshvan, aos 36 anos. Diz a Torá, em Gênese,35-18, que Yaacov estava levando sua família para Hebron quando Rachel entra em trabalho de parto. Foi um parto difícil, e após ela dar à luz a um menino, Binyamin, 12º filho de Jacob, ela deixa esse mundo. Yaacov, porém, não a leva para o Túmulo dos Patriarcas, em Hebron, mas a sepulta no local exato onde faleceu, “no caminho de Efrat” (Gênese, 35-19).
Nosso terceiro patriarca ergue um monumento sobre seu túmulo e assim conta a Torá: “Cada um dos 11 filhos de Yaacov colocou uma pedra sobre o túmulo de Rachel, e Yaacov colocou uma pedra no topo”. Este é um dos motivos para o costume de se colocar uma pedra sobre um túmulo, após visitá-lo.
Yaacov vai revelar a Yossef por que enterrou sua mãe Rachel a caminho de Efrat e não na Gruta de Machpelá, onde estão enterrados os demais patriarcas e matriarcas, quando o chama para fazê-lo jurar que não o sepultará no Egito. Segundo o Midrash, Yaacov lhe diz que D’us assim lhe indicara fazer. Diz ao filho que o Eterno lhe revelara que quando os babilônios levassem os Filhos de Israel ao exílio, eles passariam por seu túmulo. Rachel por eles choraria, implorando a D’us por Sua misericórdia. D’us, então, responderá a Rachel: “Haverá uma recompensa por teus atos, ... teus filhos retornarão para suas fronteiras’” (Rashi, Gênese 48:8). Quando Nebuzaradan, general de Nabucodonosor, levou os judeus ao exílio, eles, de fato, passaram pela tumba de Rachel.
Quando chegasse sua vez, Yaacov e Leah também seriam enterrados na Gruta de Machpelá. Como a esposa preferida, era direito de Rachel ser enterrada ao lado de seu marido. Mas, para socorrer seus filhos, o Povo Judeu, Rachel perdeu sua própria regalia espiritual, o privilégio de ser enterrada na Gruta de Machpelá.
Túmulo de Rachel
Segundo o Midrash, a primeira pessoa a orar no túmulo de Rachel foi Yossef, seu filho mais velho, que tinha apenas sete anos quando a mãe faleceu. Quando ele tinha 17 anos, seus irmãos o venderam como escravo. Estava sendo levado para o Egito, quando conseguiu fugir de seus captores. Correu até o túmulo da mãe e gritou por ela. “Mãe, minha mãe, que me deu à luz, sofrimento. ‘Não temas’, ele ouviu a mãe responder. ‘Vai com eles, e D’us
estará contigo’ ”.
As primeiras descrições não bíblicas do local do túmulo de Rachel datam das primeiras décadas do século 4 da Era Comum. A partir do século 5º até meados do século 19, o túmulo de Rachel era assinalado por uma pequena cúpula apoiada por quatro vigas.
A estrutura do domo data do período otomano muçulmano. Em 1841, Sir Moses Montefiore e sua esposa acrescentaram paredes à cúpula e uma longa sala na qual os visitantes podiam descansar e abrigar-se das intempéries.
De acordo com a Partilha da Palestina, determinada em 1947 pelas Nações Unidas, o Kever Rachel deveria ser parte da zona de Jerusalém sob administração internacional, mas após a Guerra de Independência, o túmulo de Rachel Imeinu ficou em mãos da Jordânia. Autoridades jordanianas proibiram os judeus de lá entrar. Os árabes então construíram seu próprio cemitério ao redor do túmulo, e Bethlehem expandiu-se. O túmulo passou a ser parte do centro da cidade.
Somente após 1967, quando Israel reconquistou aquela região, os judeus voltaram a ter acesso ao Kever Rachel. Uma canção popular na época dizia: “Teus filhos voltaram a ti, Mãe Rachel, à frente deles Binyamin e Yossef… Jamais nos afastaremos daqui outra vez, Rachel”.
Porém, em 1995, após o Acordo de Oslo II, a situação mudou. Embora Israel tenha mantido o controle sobre o local do túmulo, a cidade de Bethlehem foi entregue à Autoridade Palestina. Em 1996, face aos incessantes ataques árabes, o ministro das Religiões de Israel construiu uma fortaleza ao redor da pequena estrutura, com duas torres para vigias, grossas paredes de concreto e arame farpado.
Atualmente, somente ônibus e vans à prova de balas têm permissão de passar pelas barreiras de concreto com cinco metros de altura que levam ao Túmulo. Em pequenos intervalos, um ônibus Egged à prova de balas chega ao posto de controle no caminho para Bethlehem e então recebe uma escolta armada. Dois minutos depois, o ônibus chega ao complexo do Túmulo e os passageiros desembarcam dentro de uma estrutura totalmente fechada.
Dentro da fortaleza, a pequena sala antiga em formato de domo, homens e mulheres se aproximam do monumento coberto por panos e sussurram seu segredo e seu sofrimento à Rachel Imeinu. Eles sabem que ela levará suas súplicas ao Altíssimo...
Diz o Midrash
Quando o Templo foi destruído e os judeus estavam sendo conduzidos ao exílio, Abraham postou-se perante D’us e disse: “Mestre do Universo, quando eu tinha 100 anos Tu me destes um filho e, quando este completou 37 anos, Tu me dissestes: ‘Ergue-o em sacrifício diante de Mim’. E eu, vencendo minha natural misericórdia, até consegui amarrá-lo, com minhas próprias mãos. E Tu, não te recordarás de minha devoção, tendo piedade de meus filhos?’ ”
A seguir, veio Itzhak, e disse: “Quando meu pai disse: ‘D’us nos indicará um carneiro para o sacrifício, meu filho’, eu não hesitei e aceitei meu destino; até mesmo estendi o pescoço para ser morto. Não Te lembrarás de minha força tendo piedade de meus filhos?”
Depois veio Yaacov e disse: “Durante 20 anos servi na casa de Labão e, quando parti, Esaú veio para me ferir e eu sofri toda a minha vida para criar os meus filhos. E agora, eles estão sendo levados, como um rebanho, ao sacrifício nas mãos de seus inimigos? Não te lembrarás de minha dor e meu sofrimento, redimindo meus filhos?”.
O próximo foi Moshé, que disse: “Não fui um pastor leal para Israel durante 40 anos? E eu corri à sua frente, no deserto, como um cavalo. E quando chegou a hora de pisar no solo de Israel, Tu decretaste a minha morte, ainda no deserto. E, agora, eles serão exilados - Tu não atenderás meu pranto, por eles?”
Àquela altura, Rachel, nossa matriarca, postou-se diante de D’us e disse: “Senhor do Universo, Tu sabes que era a mim que Yaacov mais amava, tendo servido a meu pai durante sete anos para me desposar. E ao chegar a hora de meu casamento, meu pai me trocou por minha irmã, e eu não guardei rancor por ela e não deixei que a vergonha caísse sobre ela. Se eu, um ser apenas humano, não quis humilhar minha irmã para obter o que tanto desejava, como pudeste Tu, Eterno, D’us vivo e compassivo, ter inveja da idolatria, que não tem real existência, e ordenar o exílio de meus filhos?”
E, de imediato, a Misericórdia Divina foi despertada e Ele assim falou: “Por ti, Rachel, trarei Israel de volta a seu lugar, como está dito: ‘...Não chores e não deixes teus olhos chorarem, pois há recompensa em teus atos... e há esperança para teu futuro que teus filhos retornarão às suas fronteiras’ ”. (Jeremias 31-15).