Momento decisivo na história do Oriente Médio, as ações e decisões tomadas por líderes civis e militares nas semanas que precederam a eclosão do confronto determinaram o andamento da guerra mais difícil de Israel.
Na tarde do Yom Kipur de 1973, sábado, 6 de outubro, Egito e Síria atacam Israel. Surpreendido e tendo de lutar em duas frentes, num primeiro momento o país enfrenta dificuldades, mas menos de três semanas depois, em uma das mais impressionantes reviravoltas da história militar, seus exércitos estavam a caminho do Cairo e Damasco.
A Guerra de Yom Kipur foi um rude despertar para Israel. Seis anos se haviam passado desde a atordoante vitória da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando exércitos israelenses conquistaram as Colinas do Golã e a Península do Sinai. Na frente síria, o Golã, apesar dos chamados “dias de batalha”, quando havia intensas troca de tiros ao longo da “Linha Roxa”1, Israel mantinha sua hegemonia. E a fronteira com o Egito, ao longo do Canal de Suez, permanecia calma desde o fim da Guerra de Atrito2, em 1970.
O ataque simultâneo lançado pela Síria e pelo Egito, no Golã e no Sinai, no dia mais sagrado do calendário judaico, encontrou Israel despreparado. Nas primeiras 48 horas, os dois exércitos inimigos avançaram significativamente. Mas, o ímpeto do combate finalmente pendeu para o lado de Israel. Apesar do terrível golpe que tinham levado e de suas perdas iniciais, as forças israelenses reassumiram a iniciativa.
No início da segunda semana do conflito, os sírios já haviam sido rechaçados para além das Colinas do Golã e os israelenses estavam a poucos quilômetros de Damasco.
No Sinai, após uma intensa luta, os israelenses atravessaram o Canal do Suez, adentrando em território egípcio. E minutos antes de entrar em vigor o cessar-fogo determinado pela ONU, estavam a caminho do Cairo e haviam cercado uma divisão egípcia que se encontrava no Sinai.
Embora Israel tenha saído vitorioso, foi uma vitória amarga. A guerra foi ganha graças à bravura e motivação ímpar dos soldados de Israel, aliadas a seu profissionalismo e iniciativa. Mas, o custo em vidas foi altíssimo - 2.800 mortos e 8.800 feridos. As baixas israelenses foram maiores do que a soma total dos mortos nas guerras de 1956, 1967 e na Guerra de Atrito.
Com o fim da guerra, a sociedade israelense passou a externar duras críticas a seus líderes políticos e militares. Não apenas por terem permitido que o país fosse pego desprevenido, mas também por não terem avaliado a situação – e tomado as devidas providências – nos primeiros dias da guerra. Shimon Agranat, presidente da Suprema Corte, foi indicado para coordenar uma comissão de inquérito para investigar os eventos que levaram à guerra e aos reveses dos primeiros dias.
A Guerra de Yom Kipur foi um momento decisivo na história do Oriente Médio. As ações e decisões tomadas por Israel nas semanas que precederam a eclosão do confronto, bem como a Guerra propriamente dita, deixaram profundas marcas no Estado Judeu. O passar dos anos reduziu a censura sobre o tema, principalmente em relação às conclusões da Comissão Agranat, permitindo que atualmente se tenha uma visão mais clara dos eventos.
A “síndrome da vitória”
Na tarde de sexta-feira, 5 de outubro, três milhões de judeus se preparavam para o início de Yom Kipur. As ruas estavam tranquilas, não havia qualquer sinal que indicasse que, menos de 24 horas depois, Israel estaria em guerra com a Síria e o Egito.
Os israelenses não sabiam que, nas Colinas do Golã, a artilharia síria estava posicionada em sua fronteira e que cinco divisões haviam sido despachadas para a região. No dia seguinte, uma pequena força israelense teria que enfrentar um pesado ataque. Tampouco sabiam que o Egito estacionara cinco divisões na Margem Ocidental do Canal do Suez – 100 mil soldados, 1.350 tanques – e que barcos de borracha estavam sendo posicionados à beira d'água para atravessar o canal. No dia seguinte, 450 soldados israelenses, em 16 postos de observação espalhados ao longo da chamada Linha Bar-Lev, e 290 tanques, enfrentariam 70 mil egípcios.
As reduzidas forças de Israel posicionadas nas frentes egípcia e síria eram um reflexo da “síndrome da vitória” que tomara conta do país após 1967. Israel acreditava que nenhum país árabe, individualmente ou em conjunto, poderia desafiar sua supremacia militar. Esse sentimento de invulnerabilidade e a atitude de desdém pela capacidade militar árabe que se haviam infiltrado no subconsciente nacional foram os principais responsáveis pelos erros cometidos pelas lideranças civis e militares do Estado Judeu.
De acordo com a avaliação da Inteligência militar israelense (conhecida pelo acrônimo hebraico AMAN) sobre a capacidade bélica e as intenções dos países inimigos, a Síria não entraria em nenhuma campanha militar sem o Egito, que, por sua vez, não estaria em condições de atacar Israel antes de 1975. Tanto a cúpula militar como a civil utilizavam-se das avaliações da AMAN para a tomada de decisões estratégicas. As que foram tomadas nos meses e dias que precederam o início da guerra seriam profundamente influenciadas pela visão intransigente e dogmática de seu chefe, o General Eli Zeira.
Para assegurar às Forças de Defesa de Israel (FDI) um alerta prematuro em caso de guerra, a AMAN passara a analisar e avaliar as intenções bélicas inimigas não apenas na inteligência coletada, mas também quanto ao “perfil” que traçara do inimigo. Em relação ao Egito, a cúpula da inteligência militar estava convencida de que Sadat não entraria em uma guerra contra Israel antes de 1975. A avaliação decorria de uma informação que a AMAN recebera de importante fonte egípcia, de codinome “a Fonte”3. Posicionada nas altas esferas governamentais egípcias, a Fonte transmitira a Israel que Sadat só enfrentaria Israel se duas condições fossem preenchidas: o fornecimento por parte da União Soviética de bombardeiros de longo alcance e de mísseis Scuds capazes de atingir Tel Aviv. E a AMAN avaliara corretamente: sem o Egito, a Síria não se atreveria a atacar Israel.
Ao assumir seu posto, Zeira herdara e abraçara incondicionalmente essa avaliação, que passou a ser chamada de o “conceito”. Baseando-se apenas nesse “conceito”, o chefe da AMAN passou a garantir à cúpula militar e ao Gabinete da Primeira Ministra Golda Meir que não haveria guerra. O que Zeira não sabia é que, em outubro de 1972, Sadat informara ao Alto Conselho Militar que pretendia enfrentar Israel militarmente sem esperar por aviões de longo alcance ou pelos mísseis Scuds.
Preparando-se para a guerra
Para ter alguma chance de vencer Israel, Sadat estava certo de que era essencial, do ponto de vista estratégico, que o Estado Judeu fosse atacado em duas frentes. Ele também sabia que Hafez Assad, líder sírio, só se arriscaria a uma guerra se tivesse certeza que o Egito estava-se empenhando em uma campanha militar total, que atrairia no Sinai a maior parte da força militar de Israel.
Sadat e Assad tinham objetivos bélicos diferentes. Para Sadat, a guerra era uma opção desesperada, mas não via outra saída se o Egito quisesse recuperar o orgulho nacional destruído após a humilhante derrota sofrida na Guerra dos Seis Dias. Não pretendia recapturar militarmente todo o Sinai, mas queria infligir um golpe curto e certeiro que servisse para sacudir de seu status quo o processo diplomático e político. Sadat queria sentar-se à mesa das negociações com Israel numa posição de maior igualdade. Assad, por sua vez, via a guerra apenas como um veículo para reconquistar, pela força, o território perdido em 1967, e se recusava a reconhecer o direito de Israel à existência e à participação em qualquer processo diplomático que envolvesse esse país.
O primeiro passo que Síria e Egito deram na direção de um confronto bélico foi a reestruturação de seus exércitos e modernização de seus armamentos. Em abril de 1972, a CIA chegou a alertar Israel sobre o aumento e a modernização do poderio militar dos dois países, mas os israelenses não deram importância à informação. Nos meses anteriores à guerra, a União Soviética vendeu e enviou à Síria e ao Egito uma grande quantidade de modernos armamentos. Entre estes, equipamentos para visão noturna, uma nova geração de veículos de infantaria e os mísseis antitanques Saggers, que podiam ser manejados por um único artilheiro. As FDI não demonstraram grande interesse nos Saggers, mas assim que irrompeu a guerra, ficou claro que eles eram uma ameaça à superioridade dos tanques israelenses no campo de batalha.
Para os dois países inimigos, a Força Aérea israelense representava o maior perigo, já que nas guerras anteriores seus extraordinários pilotos haviam imposto grandes perdas a seus adversários. Para tentar neutralizá-la, egípcios e sírios haviam instalado um denso e amplo sistema de defesa antiaérea, equipado com os mísseis superfície-ar – os SAM (do inglês surface-to-air missile) –de fabricação soviética. No Golã, os consultores e técnicos soviéticos assumiram a tarefa de integrar um conjunto desses mísseis com diferentes altitudes, radares e sistemas óticos de controle de disparo.
Apesar de todos os preparativos militares, a surpresa era o elemento-chave da estratégia militar. Se conseguissem surpreender Israel com um ataque simultâneo em duas frentes – no Sinai e no Golã – sírios e egípcios teriam preciosas horas de vantagem para avançar e consolidar suas posições antes que as FDI pudessem reagir de forma decisiva.
Para despistar a inteligência militar israelense, criou-se uma sofisticada campanha de simulação, com informações falsas vazadas para a mídia, inclusive sobre um suposto estremecimento entre Cairo e Damasco. O ministro de Guerra do Egito, Ahmad Ismail Ali, chegou a dizer que o poderio militar de seu país era insuficiente para uma confrontação com Israel. Muito importante nessa campanha foi a habilidade em manter as intenções bélicas em um círculo restritíssimo. Segundo o Mossad, até o final de agosto, apenas quatro membros do alto escalão do exército egípcio e dez do sírio sabiam dos planos. Pouquíssimos soldados sabiam que estavam para entrar em combate até poucos minutos antes de ser lançada a ofensiva.
Israel é alertado sobre as intenções bélicas
No mês de setembro de 1973, Israel recebeu, de fontes confiáveis, 11 alertas sobre as intenções bélicas do Egito e Síria, uma delas inclusive do rei Hussein da Jordânia. No dia 25, Hussein foi a Tel Aviv para se reunir com a então primeira ministra Golda Meir. Há anos o monarca jordaniano vinha mantendo contatos secretos com Israel. Hussein, que duas semanas antes se havia reunido, no Egito, com Sadat e Assad, teria dito a Golda Meir: “Os sírios estão em ‘posição de pré-largada’ para a guerra”.
Em setembro, já estava claro para os israelenses que ganhava ímpeto um maciço acúmulo de forças sírias a Leste da linha de cessar-fogo. A partir de 20 de setembro, fotógrafos de reconhecimento da Força Aérea de Israel (FAI) revelaram que já havia três divisões da infantaria síria, com suas respectivas brigadas de tanques, em sua linha de frente, e mais unidades mecanizadas e de infantaria na segunda linha. Inicialmente, a inteligência israelense interpretou o fato como evidência de exercício de treinamento do exército sírio. Após a batalha aérea travada em 13 de setembro entre aviões israelenses e sírios, a avaliação da AMAN foi de que os sírios temiam um ataque israelense.
Havia também movimentos de tropas egípcias em direção do Canal de Suez. A inteligência militar israelense os atribuiu a um exercício militar que seria realizado de 1 a 7 de outubro. Não deram importância ao fato de que os egípcios não poderiam realizar um exercício militar nesses dias, pois caíam durante o Ramadã, mês de jejum e orações para os muçulmanos. Assim, embalados por uma dupla ilusão – exercícios militares e nervosismo sírio – Israel permanecia impassível enquanto seus inimigos posicionavam seus exércitos nas respectivas fronteiras.
No dia 30 de setembro foi a vez dos Estados Unidos alertar os israelenses sobre a iminência de um ataque sírio (há quem afirme que a fonte foi o rei Hussein). Henry Kissinger, recém-empossado Secretário de Estado americano, transmitiu a Israel sua preocupação. Naquele mesmo dia, o Mossad reafirmou os alertas de que a guerra eclodiria em breve, simultaneamente, nas frentes síria e egípcia.
Na manhã seguinte, preocupados com as informações sobre as movimentações militares da Síria e do Egito, o General David Elazar, chefe do Estado Maior, e seu vice, o General Israel Tal, bem como outros membros da cúpula militar, reuniram-se com Moshe Dayan, então ministro da Defesa. Zeira serenou os ânimos, reiterando que acreditava ser “pouco provável” a eclosão de um conflito militar. Os demais aceitaram a avaliação. Elazar e Dayan não sabiam, no entanto, que ela não era endossada por toda cúpula da AMAN e tampouco por Zvi Zamir, diretor do Mossad. Tampouco sabiam que as informações das guarnições ao longo do Canal de Suez e dos postos no Golã, sobre a intensa movimentação de tropas, não estavam sendo transmitidas ao Estado Maior.
Para vários generais, no entanto, os sinais apontavam para a guerra. O General Yitzhak Hofi, Comandante Geral do Comando Norte de Israel, por exemplo, externou ao Estado Maior sua preocupação com a concentração síria e a introdução das baterias SAM, alertando que, em pouco tempo, estariam em condições de atacar, de forma avassaladora. No dia 1o de outubro, o General Avraham Mandler colocou seus homens, a 252a Divisão de Blindados no Sinai, em alerta 1.
Naqueles dias fatídicos, outros fatores ajudaram a tirar a atenção dos líderes civis das fronteiras do Egito e da Síria. Na Áustria, no dia 28 de setembro, terroristas palestinos haviam tomado como reféns cinco imigrantes judeus. Uma das exigências para que não fossem executados era o fechamento do Centro de Trânsito de Schönau, em Viena, que recebia judeus soviéticos. O chanceler austríaco, Bruno Kreisky, dobrara-se às exigências e Golda Meir, que estava num congresso na Europa, seguiu até Viena para tentar convencê-lo a não ceder às exigências terroristas. Kreisky se recusou e Golda voltou a Israel na terça feira, 2 de outubro.
Numa reunião do Gabinete, realizada no dia seguinte, a AMAN tranquilizou a primeira ministra sobre os alertas com as intenções bélicas da Síria e Egito. Era verdade que os dois países haviam traçado planos de ataque contra Israel, e que há mais de dois meses esses planos eram do conhecimento de Israel, mas insistiam os chefes da AMAN não haver perigo concreto em futuro próximo.
No dia 4 de outubro, os fatos desmentiam a avaliação da cúpula da inteligência militar. Fotografias aéreas revelaram que a concentração egípcia e síria de tanques, infantaria e SAMs estavam em nível altíssimo, sem precedentes. Os técnicos do Departamento de Pesquisa da AMAN descreveram, posteriormente, o “efeito de golpe de martelo” que as fotografias exerceram sobre eles. E, ainda assim, nada foi feito. Naquele dia, Israel recebe a informação de que famílias soviéticas estavam sendo rapidamente retiradas do Egito e da Síria, em um claro sinal de que algo estava para acontecer.
Zeira recebeu mais dois alertas do Mossad sobre a iminência de uma guerra, mas, mesmo assim, não mudou sua avaliação: era baixa a probabilidade de que uma guerra fosse eclodir.
Confirmada a informação sobre a guerra
Eram as primeiras horas da madrugada do dia 5 de outubro quando, em Londres, o telefone tocou na casa de um agente do Mossad. Do outro lado da linha estava “a Fonte”. Ele queria um encontro imediato, em Londres, com o chefe do Mossad. Logo em seguida, Zvi Zamir foi acordado por seu agente, que lhe transmitiu o pedido e a “palavra” que o informante egípcio acabara de lhe passar. Era o código para “guerra”. Zamir decidiu partir imediatamente para o encontro, na Europa.
Na manhã da 6ª feira, 5 de outubro, a tensão estava no ar na reunião que Dayan teve com Zeira, Elazar e outros membros do Estado Maior. Yom Kipur iniciava-se ao pôr-do-sol e havia decisões a serem tomadas. As mais recentes fotografias aéreas mostravam que, nas últimas horas, crescera ainda mais a concentração de forças egípcias ao longo do Canal e das sírias nas Colinas do Golã. As novas imagens liberaram Elazar da ambiguidade. Há dias ele já vinha embalado pela “baixa probabilidade”, mantra da AMAN. Ele decidiu enviar alerta C – alerta máximo – às Forças Armadas – e colocou a rede de mobilização geral em compasso de espera, cancelou as dispensas das tropas e despachou para o Golã a Sétima Brigada de Blindados. Autorizou, também, o comandante da Força Aérea a convocar os reservistas. Essas providências foram de extrema importância para Israel.
Em Londres, era meia-noite do dia 5 de outubro quando Zamir telefonou para Tel Aviv. Na reunião que tivera com a “Fonte”, o egípcio o informou sem rodeios sobre o que aconteceria nas próximas horas: “O Egito vai atacar antes do anoitecer, seguindo o plano já de posse de Israel”.
Nas primeiras horas do dia 6 de outubro, líderes civis e militares israelenses foram acordados para o mesmo pesadelo – estavam erradas todas as suposições de que não haveria guerra. O ritmo foi-se acelerando rapidamente assim que Elazar foi alertado. Para o chefe do Estado Maior, Israel estava em uma situação potencialmente calamitosa, pois uma das premissas básicas em que se baseava a segurança do país era a de que a Inteligência militar forneceria 5 a 6 dias de alerta de guerra, no pior dos casos, 48 horas para que o país se preparasse.
Na guerra de 1967, as FDI tiveram três semanas para revisar e sincronizar os planos de guerra, preparar os reservistas, os armamentos. Agora, só teriam uma poucas horas.
Às 5:50h, Elazar reuniu-se com Dayan, que ainda duvidava da irrupção de uma guerra. Para sua surpresa, o Ministro da Defesa se opunha a um ataque preventivo – que há poucos meses ele prometera às FDI fazer – e uma mobilização geral dos reservistas. Quando três horas mais tarde Elazar se reuniu com Golda Meir, ela também vetou um ataque preventivo. Em caso de guerra, disse Golda, Israel necessitaria do suporte bélico americano que, ela acreditava, dependia de Israel estar sendo alvo de agressão. Concordou, no entanto, com a mobilização geral. Às 9:25h foi dada essa ordem. No entanto, quatro horas preciosas haviam sido perdidas em discussões. Logo em seguida, Golda colocou o Embaixador americano a par da situação, afirmando que Israel não faria um ataque preventivo.
Às 10 horas, Elazar desceu à Sala de Crise, no subterrâneo – o Poço – para se reunir com Estado Maior e Dayan. Zeira também estava na reunião, apesar de ainda duvidar de que haveria uma guerra.
O Gabinete também foi informado por Golda acerca da situação; nenhum de seus membros sequer imaginava que Israel estivesse à beira de uma guerra. A reunião estava terminando quando um assessor entregou a Dayan um bilhete informando que os aviões egípcios estavam atacando no Sinai. Eram 14h do dia 6 de outubro.
A mobilização total dos reservistas já estava em andamento; mais de 200 mil civis se preparavam para lutar. Muitos deles estavam na sinagoga quando receberam a ordem de mobilização. Os Rabinos subiram aos púlpitos para abençoar os que iam para a frente de batalha, dizendo-lhes “Chazak v´eematz, sejam fortes e corajosos”. Nas ruas, homens usando kipáe talit podiam ser vistos saindo apressados de casa ou das sinagogas. Sabiam que os soldados estacionados nas frentes de combate teriam que enfrentar uma batalha desesperadora. Ao receber a notícia, os reservistas que se encontravam fora de Israel se apressaram a voltar. Todos sabiam que o futuro do país iria ser decidido nos campos de batalha, nos dias que se seguiriam.
A escolha egípcia e síria do dia de Yom Kipur para o início das hostilidades provou ser um erro. Eles calcularam que nesse dia a mobilização seria mais lenta e seus exércitos teriam horas de vantagem, já que os reservistas israelenses eram convocados por códigos transmitidos por rádio cujas estações estariam fechadas nesse dia. No entanto, a mobilização foi muito rápida. Em Yom Kipur era fácil encontrar os reservistas, a maioria estava em casa ou na sinagoga. Ademais, a ausência de trânsito nas estradas permitiu que eles chegassem rapidamente aos pontos de encontro e às bases. De fato, 85% das unidades chegaram às frentes de batalha dentro do tempo planejado, muitos em até metade do tempo. Sua chegada iria mudar o rumo da guerra.
A sorte da guerra é volúvel e o desfecho da batalha é, quase sempre, ditado pela qualidade de seu componente mais básico – o soldado. Quer ele seja comandante ou soldado da infantaria, o destino das nações pode depender de seu desempenho no campo de batalha. Ainda que poucas ações individuais possam ser consideradas fundamentais para o desfecho de uma batalha, há decisões e eventos particulares que podem mudar o jogo. Quase sempre, é o julgamento dos comandantes o que determina a vitória ou a derrota. Esta constatação não foi diferente na Guerra de Yom Kipur, quando a sobrevivência do Estado de Israel, em jogo, foi salva pela coragem e valor dos comandantes e soldados de Israel.
1 Designação da linha de cessar-fogo entre Israel e Síria após a Guerra dos Seis Dias, de 1967.
2 Guerra de Atrito entre Egito e Israel; teve início em 1969.
3 A identidade da “Fonte”, um dos mais intrigantes mistérios da guerra, pode ter sido revelada em 2002 por um escritor israelense, que vivia em Londres, e que alegou ser ninguém menos que Ashraf Marwan, genro de Nasser. Marwan serviu como elemento itinerante para solucionar problemas, tanto para Nasser como posteriormente para Sadat, em assuntos sigilosos de Inteligência e diplomacia.
Bibliografia:
Rabinovich, Abraham, The Yom Kippur War: The Epic Encounter That Transformed the Middle East, Ed. Schocken
Dunstan, Simon e Lyles Kevin, Yom Kippur War 1973: The Sinai, Osprey Publishing
Dunstan, Simon, The Yom Kippur War 1973 - The Golan Heights, Osprey Publishing
Dunstan ,Simon e Lyles Kevin, Yom Kippur War 1973: The Sinai ,Osprey Publishing
Dunstan, Simon, The Yom Kippur War 1973 - The Golan Heights, Osprey Publishing