Líder espiritual único e proeminente defensor da fé judaica tradicional, o Rabino Dr. Jacob Immanuel Schochet se dedicou de corpo e alma a toda a sua geração de judeus e, com seu brilhantismo e fervor, trouxe muitos deles de volta ao judaísmo.
Rabino chassídico, místico, professor de Filosofia, escritor e tradutor, palestrante de renome mundial e conselheiro pessoal, o Rabino Schochet mesclava um profundo conhecimento da Torá, da Cabalá , erudição, sagacidade e extraordinária oratória com grande talento para o debate, conseguindo inspirar gerações de eruditos, universitários e jovens moças e rapazes judeus, de todos os estilos de vida.
O Rabino Schochet, que viajou por todo o mundo, inclusive pelo Brasil, e escreveu livros que foram traduzidos em várias línguas, inclusive o português, deixou uma impressão duradoura em todos aqueles que o conheceram. Poucos homens conseguiram estimular a mente e iluminar a alma de outra pessoa como ele. Era conhecido por sua mente extraordinariamente aguda e sua alma ardente, por seu senso de humor ruidoso, mas, acima de tudo, por seu amor e paixão por D’us, pelo judaísmo e pelo Povo Judeu. Muito se pode falar sobre esse homem, de um raro calibre de seres humanos – brilhante, destemido, carismático, eloquente, carinhoso e generoso. Mas se quisermos resumi-lo de forma sucinta, diríamos simplesmente: ele era um judeu orgulhoso de sê-lo, que fez com que tantos outros tivessem orgulho de serem judeus.
Seus estudos e seus escritos
Filho do Rabino Dov Yehudah e Sarah Schochet, o Rabino Jacob Immanuel Schochet nasceu na Suíça, em 27 de agosto de 1935. Era o terceiro entre dez filhos. Após a 2a Guerra Mundial, a família se mudou para Haia, na Holanda, onde o Rabino Dov Yehudah serviu durante curto tempo como Rabino Chefe. Em 1951, a família emigrou para o Canadá.
A família Schochet descendia de uma corrente de rabinos lituanos que remontava às academias do Gaon de Vilna e do Rabi Chaim de Volozhin; a família de Sarah também descendia de uma ilustre família rabínica da Lituânia. No entanto, após a família se ter estabelecido em Toronto, filiou-se ao movimento chassídico Chabad Lubavitch.
De 1952 a 1959, o jovem Jacob Immanuel frequentou a yeshivá central do Chabad-Lubavitch, Tomchei Temimim, em Nova York. Foi durante o tempo que passou na yeshivá, enquanto ainda era um adolescente, que desenvolveu um relacionamento muito especial com o Lubavitcher Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson. O Rebe tinha especial interesse pela vida de Jacob Immanuel e o estimulava a desenvolver seus dons intelectuais.
O Rabino Schochet iniciou sua carreira como escritor e tradutor por meio de seu trabalho na secretaria do Rebe e na Kehot Publication Society, editora central do movimento Chabad-Lubavitch. Produziu traduções ao inglês de trabalhos chassídicos fundamentais, vários deles obscuros, que contêm muitas ideias profundas e complexas. Traduziu partes do Tanya, a obra magna do fundador do movimento Chabad-Lubavitch, Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Alter Rebe. É de sua autoria, também, a tradução de Tzavaat HaRivash (“O Testamento de Rabi Israel Baal Shem Tov”), um trabalho de autoria do Baal Shem Tov, o fundador do Movimento Chassídico. O Rabino Schochet também traduziu vários textos litúrgicos, tais como as Selichot (recitadas na semana que antecede Rosh Hashaná), e a Hagadá de Pessach editada pelo Rebe de Lubavitch.
Além de seus inúmeros artigos e traduções, escreveu 35 livros, entre os quais O Grande Maguid (1974) – uma biografia de Rabi Dov Ber, o Maguid de Mezeritch, que sucedeu o Baal Shem Tov na liderança do Movimento Chassídico; Conceitos Místicos no Chassidismo (1979), e a obra em três volumes, A Dimensão Mística (1990).
Em 1959, o Rabino Schochet se torna o líder religioso da Kielcer Congregation, em Toronto, cargo que ocupou até 1996. Subsequentemente, serviu como rabino da Congregação Beth Joseph Lubavitch, na mesma cidade.
Após se casar com Jettie Schochet, em 1961, foi incentivado pelo Rebe a perseguir suas ambições acadêmicas. O Rabino Shochet fez seus estudos no Canadá, nas Universidades de Toronto, Windsor, McMaster e Waterloo. Obteve o diploma de Bacharel em Filosofia, um Mestrado em Estudos Religiosos e um Doutorado em Filosofia. Suas especializações em Filosofia foram Lógica, Epistemologia (Teoria do Conhecimento), Ética e Filosofia da Religião. Sua tese de Mestrado na Universidade McMaster foi “O Tratamento do Antropomorfismo no Targum Onkelos” e sua dissertação de Doutorado em Waterloo versou sobre “O sistema psicológico de Maimônides”.
Autoridade indiscutível em Filosofia Judaica, Misticismo e Chassidismo, foi Professor de Filosofia no Humber College, em Toronto, de 1971 a 1996, e de Filosofia, Direito e Misticismo Judaicos no Maimonides College, na mesma cidade, de 1980 a 1990. Além disso, foi Professor Adjunto de Ética Médica na Faculdade de Medicina de Toronto, de 1983 a 1987.
Guerreiro judeu
O Rabino Jacob Immanuel Schochet fez muito mais do que liderar congregações judaicas, ensinar Filosofia, escrever e traduzir livros. Foi alguém que dedicou sua vida a influenciar judeus e aproximá-los do judaísmo. Ele empregava suas extraordinárias aptidões intelectuais e de oratória, bem como seu profundo conhecimento sobre a Torá, História, Filosofia e Lógica para demonstrar a verdade histórica do judaísmo. Partilhou seus conhecimentos pelo mundo afora, inspirando muitos jovens judeus a abraçar o estudo da Torá e a prática de seus mandamentos.
A partir da década de 1970, se tornou famoso por sua habilidade como debatedor. Recebeu a alcunha de “maior especialista mundial em lutar contra missionários”. À medida que um número cada vez maior de judeus era atraído pelos mais diferentes cultos e organizações missionárias, que empregavam vultosos recursos na tentativa de atraí-los e convertê-los – o Rabino Schochet saiu na ofensiva. Defensor feroz das crenças tradicionais do judaísmo, mestre de todas as facetas do estudo da Torá e, ao mesmo tempo, grande conhecedor da Bíblia cristã, ele emitiu um convite aberto para todo líder de culto e missionário cristão que quisesse enfrentá-lo em um debate público. Seu propósito era, como ele mesmo dizia, não o de ofender ou de se envolver em polêmicas, e sim, o de preservar a integridade espiritual de cada um dos judeus. Declarou que nenhum judeu era dispensável, nenhum deles era um caso perdido e que ele não permitiria que nenhum deles caísse em mãos de um culto ou de missionários proselitistas. Seu empenho em salvar os judeus deu grandes resultados. Muitos foram os que abandonaram tais organizações e retornaram ao estudo e prática do judaísmo. Ademais, sua defesa convicta do judaísmo tradicional inspirou muitos judeus a abraçarem a Torá com orgulho.
O Rabino Schochet também defendeu com ardor a posição Haláchica tradicional sobre a conversão ao judaísmo. Em 1986, publicou um livro, “Quem é judeu?”, discorrendo sobre a questão. Em 1992, publicou “Mashiach: O Princípio do Mashiach e da Era Messiânica na Lei e Tradição Judaicas”. Entre 1980 e 1987, também publicou uma tradução
ao inglês dos primeiros quatro volumes de palestras sobre a Torá proferidas pelo Lubavitcher Rebe (“Likutei Sichot: An Anthology of Talks”. Em seus escritos sobre a Cabalá, o misticismo judaico, o Rabino Schochet aborda profundas questões metafísicas. Ele possuía a rara capacidade de conseguir transmitir ideias complexas com clareza e paixão, tornando-as relevantes a seus ouvintes e leitores. Deu conferências em renomadas universidades americanas, canadenses, inglesas e australianas e falou perante comunidades judaicas em diversos países.
O passamento do Rabino Schochet
Aos 77 anos de idade, após longa doença, o Rabino Dr. Jacob Immanuel Schochet devolve sua alma a seu Criador. Ele faleceu no Shabat, 20o dia de Menachem Av, 5773 – 27 de julho de 2013.
Com seu passamento, o Povo Judeu perdeu um de seus grandes guerreiros espirituais – um homem que lutou, sozinho, contra aqueles que queriam afastar os judeus – especialmente os mais vulneráveis, os que menos conheciam sobre o judaísmo – de seu pacto eterno com D’us e a Sua Torá.
O Rabino Schochet empregou todo o seu conhecimento, talento e vida em benefício de seu povo, a quem ele tanto amou. Ele não mediu esforços para salvar uma única alma judia do perigo espiritual. Com amor e fervor, brilhantismo e humor, instilou orgulho judeu naqueles cujas vidas tocou. Ele era um verdadeiro Homem de D’us, um grande mestre da Torá e uma fonte de inspiração para os que o conheceram. Uma mente privilegiada, um coração destemido, lutou contra a escuridão e dedicou a vida a iluminar a alma dos judeus que careciam de respostas e inspiração. Ele influenciou muitos judeus e os levou a inspirar outros.
A alma desse homem singular, cuja influência é inestimável e que ensinou tanto a respeito do Todo Poderoso e dos mundos superiores, certamente ascendeu às maiores alturas espirituais.
O poeta israelense Natan Yonatan escreveu uma famosa canção intitulada, Haish HaHu (“Aquele Homem”), em que pergunta: Eifoh yeshnam od anashim k’mo ha’ish hahu? – “Onde se encontram pessoas como aquele homem”? É uma pergunta que vale para o Rabino Schochet. E a resposta é que não se encontram mais homens no mundo como ele.
Quanto àqueles entre nós cujas vidas foram tocadas e influenciadas pelo Rabino Schochet – aqueles que compartilham seu amor pelo vínculo eterno entre D’us, a Torá e o Povo Judeu – eles têm diante de si o desafio de aumentar seu empenho para fortalecer nosso povo e seu vínculo com nossa herança espiritual.