Símbolo dos judeus de Beirute, a sinagoga Maguen Avraham, uma das mais belas do Oriente Médio, está sendo restaurada após anos de abandono.
A decisão de iniciar os trabalhos de restauração do edifício foi anunciada pelo governo libanês em maio de 2009. Apesar da hostilidade em relação ao Estado de Israel, o projeto de restauração recebeu o apoio de todas as forças políticas do país, até mesmo do Hezbollah. O projeto esta sendo patrocinado pela comunidade judaica libanesa e por judeus da Diáspora, entre os quais: Joseph Safra, Edgar de Picciotto, Solly Lawi, Freddy Salem, Raoul Picciotto, Gina e Isaac Diwan, D e N Kettaneh, Myrna Ronson. Receberá ainda, US$ 150 mil da Solidere, empresa criada pelo ex-Primeiro Ministro Rafic Hariri, assassinado em 2005, responsável pela maior parte do projeto de reconstrução e revitalização do centro histórico de Beirute. O custo da obra está estimado em $ 1milhão de dólares, até agora foram arrecadados $ 700 mil.
O anúncio do governo sobre a restauração da sinagoga colocou um ponto final nas notícias contraditórias que, nos últimos anos, povoavam a mídia. Hoje, sabe-se que em 2006 já havia um projeto para restaurar a Maguen Avraham, mas que acabou sendo postergado em função da guerra de julho daquele ano entre Israel e o Hezbollah. Boatos que surgiram em 2008 sobre uma possível demolição da Sinagoga foram desmentidos pela Agência Nacional Libanesa de Notícias. Na época, a Empresa Solidere declarou publicamente: "Fazemos questão de preservar o centro da capital como símbolo da convivência das várias religiões no Líbano".
Inaugurada em 26 de maio de 1926, no bairro de Wadi Abu Jamil, a Maguen Avraham era a maior e a mais bela sinagoga de Beirute, e de todo o Líbano.
O enorme pátio à sua entrada já anunciava a grandiosidade da construção. Seu estilo arquitetônico combinava elementos renascentistas e romanescos e o requinte de seu interior impressionava os freqüentadores assíduos e os visitantes. Erguida para atender as necessidades da uma comunidade que vivia um período de grande crescimento e prosperidade, a Sinagoga tornou-se o principal marco judaico de Beirute e do país. Era o centro da vida comunitária e a sede dos projetos filantrópicos comunitários; lá também eram realizados os serviços religiosos, os casamentos, além das comemorações das datas judaicas e atividades culturais. Motivo de orgulho para seus membros, a Maguen Avraham era vista como uma instituição que pertencia a toda a comunidade.
A sinagoga foi praticamente destruída durante a Guerra civil libanesa, ocorrida entre 1975 e 1990. Logo após a invasão do Líbano por Israel, em 1982, grupos islâmicos intensificaram os ataques contra a sinagoga, sendo roubado o que restara. Depois que praticamente todos os judeus libaneses deixaram o país, a Maguen Avraham ficou abandonada e o projeto do então primeiro-ministro, Rafik Harari, para que a Sinagoga fosse restaurada e circundada por um jardim, não foi levado adiante. A construção permaneceu em ruínas mesmo depois da recuperação das áreas ao redor.
Havia rumores sobre o início dos trabalhos desde o início de 2009, mas poucos acreditavam que a obra se concretizasse, considerando-se as crescentes hostilidades entre o Líbano e Israel.
É inegável que este contexto teve e ainda tem um impacto muito grande na pequena e frágil comunidade judaica libanesa, que vive cercada por declarado anti-sionismo e latente anti-semitismo. Oficialmente, esta comunidade ainda compõe um dos 18 grupos religiosos que integram a multifacetada sociedade libanesa, mas são poucos os judeus que ainda vivem no país. Segundo dados oficiais, o número de judeus remanescentes na cidade varia entre 100 e 200 pessoas, uma cifra irrisória comparada aos 9.000 judeus que compunham a comunidade em seus dias áureos.
Até meados de 2009, o local da antiga sinagoga estava totalmente deteriorado; árvores e arbustos cresciam desordenadamente por todos os lados e, nos muros em ruínas, grafites e slogans anti-semitas dominavam a paisagem. Atualmente, o cenário é completamente diferente: os entulhos foram retirados, os muros foram reerguidos e o telhado recolocado.
Nem o governo, nem a empresa da família Hariri têm-se pronunciado sobre o destino da obra ou a data de seu término. É difícil, no entanto, imaginar que a Sinagoga voltará ao seu brilho passado. A Beirute de hoje é muito diferente da que outrora existia.
Tantas mudanças e a incerteza quanto aos planos governamentais em relação à comunidade preocupam os judeus libaneses. "Não sabemos ainda se quando terminar a obra, a sinagoga voltará a ser uma instituição viva ou apenas mais um edifício sem vida", disse uma fonte comunitária à emissora britânica BBC, sem se identificar.