Uma vasta rede de educação judaica, com mais de 60 projetos que incluem escolas, jardins de infância, centros profissionalizantes e colônias de férias, espalhados por 15 países europeus, num esforço responsável por atingir cerca de 10 mil famílias.
O balanço acima vem das iniciativas de uma fundação que carrega o nome de seu fundador, Ronald S. Lauder, dono de um currículo recheado de investidas significativamente diversificadas, na área dos negócios, diplomacia, filantropia, artes plásticas e atividades comunitárias. Em junho passado, Lauder acrescentou mais um desafio à sua intensa trajetória: assumiu a presidência do Congresso Judaico Mundial, instituição criada em 1936 e sediada em Nova York.
Filho de Joseph e Estée Lauder, criadores de uma das mais bem-sucedidas marcas do mundo dos cosméticos, Ronald começou sua carreira na empresa da família, em 1964, ao comandar a divisão internacional, na Bélgica. Passagens por faculdades em Paris e em Bruxelas, depois de uma graduação em negócios internacionais na prestigiosa Escola Wharton, da Universidade da Pensilvânia, ajudaram a esculpir um perfil profundamente interessado em questões internacionais, com foco especial na Europa.
Em 1983, o Pentágono decidiu valer-se da experiência de Lauder em relação ao Velho Continente e o convidou para assumir o cargo de vice-secretário assistente da Defesa para Política Européia e da OTAN. Seu desempenho chamou a atenção em Washington e o presidente Ronald Reagan nomeou-o embaixador em Viena, no ano de 1986. O período austríaco deixou marcas indeléveis na visão de mundo do empresário-diplomata.
No plano político, o embaixador teve de lidar com a missão de repudiar o passado nazista do então presidente austríaco e ex-secretário-geral da ONU, Kurt Waldheim. No plano pessoal, mergulhou em pesquisas sobre as origens de sua família, que chegam à Hungria. No plano comunitário, dedicou-se a acompanhar o sofrimento de comunidades judaicas espalhadas sobretudo pela Europa oriental, que enfrentaram o Holocausto e depois viveram sob a repressão dos regimes pró-soviéticos.
De volta a Nova York, em 1987, Lauder resolveu implementar projeto de resgate de uma identidade sufocada por décadas e criou a fundação que leva o seu nome. "Prover educação judaica é nosso objetivo primordial", define o texto de apresentação no site da entidade. Vinte anos depois, os números são impressionantes. Em 2006, segundo a agência de notícias "Jewish Telegraphic Agency" (JTA), o orçamento anual da fundação rompeu a barreira dos 10 milhões de dólares.
A extensa rede educacional deixa suas marcas na Alemanha, Áustria, Bielorrússia, Bulgária, Estônia, Eslováquia, Hungria, Letônia, Lituânia, Moldávia, Polônia, Romênia, República Checa, Rússia e Ucrânia. As atividades da fundação ganham também reconhecimento das autoridades locais. Por exemplo, em 1999, a inauguração do novo prédio da escola Lauder-Morasha, em Varsóvia, contou com a presença do então primeiro-ministro polonês, Jerzy Buzek; do prefeito da capital polonesa, Pawel Piskorski, além de representantes do governo federal. Na manhã daquele dia, Ronald S. Lauder havia sido condecorado pelo presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, por sua contribuição para o desenvolvimento das relações judaico-polonesas.
A história da escola em Varsóvia é também bastante ilustrativa dos esforços e conquistas da fundação Ronald S. Lauder. No início, em 1993, 18 crianças recebiam educação judaica num pequeno apartamento. Hoje, a Lauder-Morasha oferece até ensino médio num prédio dos anos 1920, bastante reformado e equipado. "Sem Lauder, é possível que não houvesse nenhuma educação judaica na Polônia de hoje e, se houvesse, seria muito limitada", declarou Helise Lieberman, diretora da escola, à agência JTA.
A Fundação Ronald S. Lauder teceu uma rede flexível que inclui, por exemplo, uma ieshivá em Kishinev, capital da Moldávia, ou apóia programas especiais numa escola pública em Sofia, na Bulgária, onde 30% das crianças são judias. Nas prioridades da Fundação, o ensino do inglês e do hebraico despontam como uma constante, assim como os investimentos para garantir a qualidade das instalações e do corpo docente.
A diversidade geográfica da atividade da fundação impressiona. Em Tula, no interior da Rússia, há um jardim de infância e uma escola de ensino fundamental.
Em Leipzig, na antiga Alemanha Oriental, a fundação patrocinou a abertura de um Centro de Estudo da Torá.
A preocupação de Ronald S. Lauder com o intercâmbio cultural também o levou, em 1987, ano do estabelecimento da sua fundação, a criar um programa de intercâmbio entre estudantes judeus do ensino médio de Nova York e de Viena. A iniciativa prosperou a ponto de mobilizar também jovens de cidades como Budapeste, Varsóvia, Praga, São Petersburgo, Berlim e Sofia.
A preocupação de Lauder com a educação judaica corresponde apenas à ponta do iceberg de suas atividades comunitárias.
Ele já presidiu instituições como o Fundo Nacional Judaico (Keren Kayemet) e a Conferência dos Presidentes das Organizações Judaicas dos Estados Unidos.`
A lista de instituições que contam ou já contaram com sua participação em cargos executivos ou em conselhos engloba, por exemplo, a Fundação da Liga Anti-Difamação, Sociedade Internacional para o Yad Vashem, Conselho para o Memorial do Holocausto nos Estados Unidos e o Museu de Tel Aviv.
O interesse de Ronald Lauder por artes plásticas já atravessou o planeta. Ele fundou o Comitê para Recuperação de Arte, destinado a localizar e resgatar peças roubadas pelos nazistas. O empresário, presidente honorário do Museu de Arte Moderna de Nova York, também ganhou manchetes da mídia internacional no ano passado, quando comprou por um preço recorde um retrato de Adele Bloch-Bauer, pintado pelo austríaco Gustav Klimt. Lauder adquiriu a obra, para doar à Galeria Neue, por 135 milhões de dólares. Até então, o valor mais alto pago por uma pintura havia ocorrido em 2004, na venda, em leilão, de uma obra de Pablo Picasso: 104,1 milhões de dólares. O valor pago pelo quadro de Klimt não foi divulgado oficialmente, mas o "The New York Times" afirmou ter recorrido a algumas fontes para confirmar a cotação.
Sobre o retrato de Adele Bloch-Bauer, esposa de um empresário judeu, Lauder afirmou: "É a nossa Mona Lisa". A nova-iorquina Galeria Neue, localizada na Quinta Avenida esquina com a rua 86, dedica-se à arte alemã e austríaca e teve Lauder como um de seus fundadores.
O interesse de Lauder pela Europa central e oriental transpassa o mundo das artes e invade a indústria da mídia. Ele é fundador e presidente da "CME", uma empresa de televisão que é transmitida a seis países (Croácia, República Checa, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Ucrânia), com uma população total de cerca de 90 milhões de habitantes.
Ronald S. Lauder, com suas incursões em mundos como o dos negócios, da educação, da diplomacia, assume agora, aos 63 anos de idade, o desafio de comandar a principal instituição de representação das comunidades judaicas, espalhadas por dezenas de países. Sucessor de Edgar Bronfman, que dirigia a organização desde 1979, Lauder terá, com o mandato que termina em 2009, a relevante missão de ajudar a modelar o Congresso Judaico Mundial neste atribulado começo de século 21.