Israel era dominada pelos filisteus quando nasceu Sansão. Sua mãe, Zlelponith, era uma mulher boa e humilde. Chegava a tal ponto sua humildade que era conhecida como "a esposa de Manoah, da tribo de Dan". Passava a vida trabalhando e nunca sorria, não porque estivesse cansada, mas pela tristeza de não ter filhos.
Lá um dia ela viu a figura de um homem, era um anjo do Eterno, disfarçado, que assim falou: "Alegra-te, terás um filho. D'us fará o milagre e, de agora em diante, guarda-te, durante toda a gravidez, de todas as coisas proibidas a um nazireu: não toma vinho nem qualquer outra bebida forte, porque conceberás um filho que, desde o teu ventre, será um nazireu. Portanto, seus cabelos, nunca deverás cortar. Caberá a ele iniciar a libertação de Israel do jugo dos filisteus". Assim disse e assim aconteceu.
E o menino nasceu, já cabeludo, e a mãe lhe deu um nome condizente com sua missão - Sansão, em hebraico, Shimshon, que provém da palavra shemesh, sol, pois ele traria luz e salvação para seu povo. Desde seu nascimento, percebia-se que a bênção de D'us pairava sobre ele - pois que era dotado de força sobrenatural. Crescendo, seus cabelos eram fartos. Quando chegou a rapaz, a cabeleira cobria-lhe a cintura e sua mãe o penteava, fazendo sete tranças que prendia juntas, à altura dos ombros.
De repente, Sansão surpreendeu os pais com uma novidade. Tendo descido um dia a Timnat, onde viviam os filisteus, encontrara entre eles a moça que desejava para esposa, a quem ele encantara. Queria casar-se. Os pais protestaram, contrários ao casamento. "Com tanta moça bonita entre o seu povo, ia ele procurar uma filha dos inimigos?" - "Mas é dessa que eu gosto", respondeu Sansão, decidido. E os pais tiveram que se conformar depois que a jovem concordou em se tornar judia. Eles não sabiam que o verdadeiro objetivo de Sansão, arquitetado e conduzido pela Divina Providência, era desafiar os filisteus. Ele procurava armar uma rixa, mas que fosse pessoal, evitando assim que qualquer ação vingativa atingisse seu povo.
A noiva morava em outra cidade. Para lá ia Sansão, certo dia, atravessando bosques, quando inesperadamente surgiu um leão e avançou para o atacar. O espírito do Eterno se apossou dele. Estendeu os braços, de mãos abertas aparou o salto do animal, e rasgou-o pela boca de meio a meio, com se rasgasse uma folha de papel. Tempos depois, indo pelo mesmo caminho, já para a realização de seu casamento, encontrou a carcaça do leão e, com surpresa, viu dentro dela uma colméia. Rindo-se, recolheu o mel e continuou a jornada, deliciando-se com o produto das abelhas.
Os festejos do casamento iam durar sete dias. Era costume, então, convidar 30 rapazes para acompanharem o noivo. Havia muita música e dança, brincadeiras e, entre estas, Sansão resolveu propor um enigma aos moços. Quem o decifrasse, ganharia 30 lençóis e 30 roupas brancas. Mas se ninguém acertasse, cada um deles teria que dar a ele, Sansão, esse mesmo prêmio. Todos concordaram e Sansão apresentou o enigma: "Do comedor saiu comida. E do forte saiu doçura".
Passavam-se os dias, e nenhum dos rapazes conseguia encontrar a solução. Então, dirigiram-se à mulher de Sansão. "Tu e teu noivo nos convidaram para nos fazerem perder? Jamais acertaremos... Arranca de teu noivo a resposta. Do contrário, te mataremos e ainda tocaremos fogo em todas as terras de teu pai".
A moça concordou, e não mais deixou Sansão em paz, suplicando que lhe revelasse a interpretação do quebra-cabeça. Ele se negava a satisfazê-la, respondendo aborrecido: "Nem para meus pais direi; como também a ti não o direi". Mas ela, em prantos, exigiu-lhe uma prova de amor. "Se me amasses, me contarias...". E Sansão não teve como lhe negar aquela prova de amor.E, na data marcada, os rapazes vieram triunfantes, de posse da resposta certa: "O que é mais doce que o mel e mais forte que o leão?".
Sansão teve certeza de que a noiva lhes tinha revelado o segredo, mas cumpriu sua palavra pagando-lhes o que prometera. No entanto, enraivecido, deixou festas e casamento e voltou para a casa paterna.
Quando, semanas mais tarde, passou-lhe o desapontamento, voltou trazendo um cabrito de presente para a noiva que deixara, em sua ira. Quis vê-la, mas que triste notícia o esperava. "Agora é tarde", disse-lhe o pai da moça. "Pensei que a odiasses e a fiz casar-se com um de seus companheiros". Mas se quiseres, tenho outra filha, mais bonita e mais jovem do que esta".
"Não quero!", respondeu Sansão, enfurecido. "Eu amava aquela que deste ao filisteu. Mas hei de me vingar!". E falou ao pai da moça e ao povo filisteu presente, a quem considerou culpado por não impedirem o casamento, pois que este era também proibido pelo Código de Hamurabi. "Quando for me vingar, terei razão, pois sou inocente."
E, Shimshon foi a Timnat para castigar os filisteus. Caçou trezentas raposas, que amarrou aos pares. Colocou um pedaço de estopa com fogo no rabo de cada uma e as soltou pelos campos dos filisteus. Quando estes viram suas plantações queimadas, coléricos, perguntaram: "Quem teria feito isto?". E lhes responderam: "Foi Sansão, como castigo por lhe terem roubado a noiva".
Os filisteus juraram matar Sansão. Mas ele bem longe estava, metido numa cova, no cume de uma rocha da cidade de Etam. Um poderoso contingente filisteu se armou para contra ele lutar; e se dirigiu a Judá. Não o encontrando, os filisteus procuraram os homens do Reino de Judá com um poderoso exercito. Ameaçaram os homens de Judá exigindo que eles lhes trouxessem Sansão se não quisessem sofrer graves conseqüências. Prometeram não mata-lo, pois ao contrario sabiam que os filhos de Judá jamais iriam entrega-ló.
E lá se foram três mil homens de Judá à cova de Sansão. E disseram-lhe "não sabais que os filisteus dominam sobre nos? Porque fizestes isto? " Shimshom, disposto a se entregar para não prejudicar seu povo, permite que o amarrem com cordas novas.
Quando é entregue aos filisteus, estes o receberam, com gritos de contentamento, e avançaram todos, mais de mil, para o liquidar. Mas, numa fração de segundos, Sansão rebentou as cordas, ficou com os braços livres e, vendo no chão uma queixada de jumento, agarrou-a, com ela se defendeu e com essa mesma ossada matou a todos os que o queriam matar.
Quando sua força intimidou os filisteus e se tornou evidente a todos que o espírito de D-s repousava sobre ele recebeu louvores e honrarias e foi aceito pelo povo de Israel para ser seu juiz, e como tal julgou em Israel, com justiça, por 20 anos.
Certa vez, indo a Gaza, pressentiu que os homens da cidade cercavam a casa onde ele se alojara, querendo matá-lo.Os homens passaram a noite tocaiados, à espera do alvorecer. Quando Sansão saísse, o capturariam. Porém este saiu à meia-noite, arrancou os portões da entrada da cidade e suas trancas, carregou tudo nos ombros e os jogou sobre um monte diante de Hebron.
Passado algum tempo, dirigiu-se ao vale de Sorec e lá conheceu uma mulher por quem se apaixonou. Chamava-se Dalila. E os príncipes filisteus viram que era a sua oportunidade de revanche. Foram ter com Dalila, a quem propuseram: "Se conseguires que ele te diga de onde lhe provém tanta força, havemos de o pegar, para o amarrar e torturar". Se conseguires esta façanha, cada um de nós te dará mil e cem moedas de prata".
Dalila, mulher sem caráter e de grande ambição, imediatamente aceitou a proposta. Agradando Sansão, implorava: "Conta-me onde reside tua força, essa força que ninguém consegue subjugar!". Após muita insistência, Sansão, fingindo falar sério, respondeu: "Aquele que me amarrar com sete cordas de vime fresco, conseguirá me enfraquecer. Serei então como qualquer outro homem".
Dalila correu a contar aos príncipes filisteus, que prontamente trouxeram as cordas. E ela, como se estivesse brincando com Sansão, amarrou-o fortemente. Havia espiões escondidos, aguardando. Dalila então gritou, bem alto : "Os filisteus se aproximam para te agarrar, Sansão!". E ele, num salto, arrebentou os vimes como se fossem fios de linha. E não se soube o segredo de onde provinha sua força.
Dalila não desanimou. Chorosa, queixou-se: "Zombaste de mim, mentiste, não me queres. Vamos, conta-me com que terias que ser amarrado, para que tua força fosse subjugada!". Novamente, lhe deu outra resposta falsa: "Se me amarrassem com cordas novas, como pedi, nunca usadas, eu seria como qualquer outro". Dalila conseguiu as cordas novas, o amarrou e, fingindo-se assustada, gritou novamente: "Os filisteus estão vindo te agarrar, Sansão!". E ele, rindo, arrebentou as cordas, reduzindo-as a palha. E não se soube o segredo de sua força.
Ela, então, zangou-se, chamou-o defalso e jurou que se ele não lhe revelasse o tal segredo, ela o abandonaria. "Bem", disse Sansão, acalmando-a. "Se é assim, te conto: se juntares as sete tranças dos meus cabelos e as fixares numa estaca, serei um homem como outro qualquer". Assim falou e adormeceu. Dalila fez como ele dissera e gritou, como fizera nas outras vezes. Ele despertou, arrancou a estaca, oferecendo-a à moça, divertido diante de sua decepção.
Mas Dalila tanto chorou que lhe deu pena. Ela se lamentava, entre soluços: "Como dizes que me amas se já três vezes zombaste de mim... Diz-me a verdade". E tanto chorou, tanto insistiu, que ele acabou cedendo: "Nunca meus cabelos foram cortados, por ordem de meu D'us. Se minha cabeça fosse raspada, sumiria a minha força; ficaria fraco e vulnerável como qualquer outro homem".
Ela, astuciosa, pressentiu que agora, sim, estava de posse do segredo. Apressou-se a chamar os príncipes filisteus e eles prontamente vieram, já com as moedas para o pagamento por sua traição ao homem que dizia amar.
À noite, quando Sansão voltou, ela o recebeu com carinho, e o fez adormecer, com a cabeça repousada em seu colo. Então veio um homem, cortou-lhe as sete tranças e lhe raspou a cabeça. Isto feito, Dalila gritou, como costumava fazer: "Os filisteus estão vindo para te agarrar, Sansão!".
Ele despertou, pensando resistir e escapar, com a facilidade de sempre. Mas, não sabia que o Eterno dele se afastara. Já sem forças, não pôde resistir quando os filisteus o prenderam. E arrancaram-lhe os olhos. Foi levado a Gaza, onde o torturaram, fazendo-o girar a pesada roda do moinho de trigo, mesmo completamente cego.
Mas, chegaria o dia para que Sansão se vingasse. Os filisteus faziam uma grande celebração em louvor de seus ídolos de pedra. Bebiam, cantavam, dançavam, em seu imenso templo, que abrigava mais de três mil pessoas, que lá se encontravam para festejar da derrota de Sansão. Lembraram-se de mandar trazê-lo, para se divertirem às suas custas, vendo-o sofrer.
Mas, já então lhe haviam crescido os cabelos e fizera novos votos de penitência e cumprimento do nazirato. Acalentava a esperança de se vingar de seus inimigos. Das Alturas Celestiais viera a salvação de Sansão e os filisteus não o sabiam. Aos brados e gargalhadas, exigiam que Sansão dançasse. Ele vinha trazido pela mão de um jovem, a quem disse: "Coloca-me entre as colunas que sustentam o templo para que nelas me apóie". E o rapaz assim fez.
Com os braços cercando as colunas, Sansão clamou ao Eterno: "Senhor meu, D'us de Israel! Lembra-Te de mim e dá-me forças, ainda só mais esta vez! Faz com que eu me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos preciosos! Que eu morra com os filisteus!". Dito isto,vergou as colunas com força. O templo ruiu sobre ele próprio e sobre os milhares de filisteus... E estes o temeram ainda por 20 anos após sua morte, como o haviam temido durante 20 anos de sua vida.
Sultana Levy Rosenblatt é escritora. Este conto faz parte da série: "Para contar a nossos netos ..."