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abril 2001
Ed. 32

Carta do leitor

ANO IX
N. 32
abril 2001
CARTA AO LEITOR: ANO IX N.32 abril 2001

As memórias que uma criança guarda da noite do Seder nunca serão esquecidas. Se queremos realmente deixar em nossos filhos e netos algo duradouro, devemos dar-lhes a oportunidade de viver momentos especiais que possam transformar-se em lembranças inesquecíveis. A memória é como uma âncora de estabilidade na vida dos indivíduos. Ajuda-os a se situar e a estabelecer metas para seu futuro. Na noite do Seder, quando todos os nossos sentidos estão voltados para a vivência imorredoura de nossos irmãos que partiram do Egito após séculos de tirano domínio, devemos contar a nossos filhos e com eles reviver a epopéia do Êxodo, como se nós mesmos estivéssemos saindo da escravidão.

Sob o jugo egípcio, os judeus haviam perdido não apenas a sua liberdade mas a sua espiritualidade, distanciando-se de suas raízes. O libertar-se da escravidão no Egito não representou, portanto, apenas o início do nacionalismo judeu, mas também o momento de criação de uma nação que tinha uma missão universal. Por essa razão, devemos aprofundar-nos nos acontecimentos ligados ao Êxodo para poder entendê-los dentro de uma perspectiva mais ampla.

Tanto a escravidão de nosso povo no Egito quanto a sua libertação devem ser entendidas como componentes do propósito maior da formação de uma nação espiritual. Cada fato, cada momento – desde os dias amargos da escravidão até a milagrosa divisão das águas – tudo o que fizemos e tudo o que , por nós, foi feito nada mais é do que um guia para a espiritualidade. É por isso que devemos pensar no Êxodo como sendo o vetor que impulsiona a nossa espiritualidade. Esta é a função e o espírito da Hagadá – muito mais do que uma simples narrativa histórica, serve de verdadeiro manual indicando as etapas que levaram ao surgimento do povo judeu livre, organizado como uma entidade, chefiado por nosso líder, Moshé, nosso Mestre.

Há várias formas de escravidão, sendo a pior delas a escravidão interna, que cada um de nós cria para si mesmo e que nos cerceia - são os nossos mitzraim - os nossos “Egitos” particulares. Na noite de Pessach, somos lembrados que devemos libertar-nos das correntes exteriores, e muito especialmente das nossas “prisões” individuais. E isto podemos fazer enfrentando os nossos conflitos. Isto, sim, é um dos maiores desafios no processo de liberdade individual, pois como disse o rabino e psiquiatra Dr. Abraham Twerski, o homem parece ter perdido a capacidade de lidar com os conflitos e, ao primeiro problema ou crise, apela a soluções drásticas, desesperadas. Somente ao enfrentar tais obstáculos, o homem consegue descobrir a sua força espiritual.

A história da saída do Egito é contada especialmente às crianças. Moisés foi o primeiro pai que contou a seus filhos os milagres que D’us realizara para os hebreus, nossos antepassados na terra do Faraó, e, desde então, ano após ano, a história é recontada durante o Seder. A noite de Pessach é uma noite diferente, uma noite na qual podemos repassar a nossos filhos a sua identidade judaica, pois é nesta noite que nossa memória individual se funde com a memória coletiva do povo judeu, ao qual orgulhosamente pertencemos.

A Mishná diz que na noite do Seder, “devemos começar o relato com a parte ruim e terminar com a boa”. Devemos dizer a nossos filhos, “Sim, comemos o pão da aflição, mas também bebemos o vinho da liberdade”. Pois o judaísmo é muito mais do que uma sucessão de sofrimentos escritos em lágrimas salgadas. É também a história de realizações, de sobrevivência , de grandes contribuições para toda a humanidade. É uma história de júbilo pela liberdade e pela fé. Saibamos, pois, instilar em nossos descendentes o brio da nação judaica, que carrega em seu seio a missão universal de transmitir os ensinamentos recebidos no Monte Sinai. Criemos ambientes judaicos que, complementando o forte papel da família judaica, possam dar a nossos filhos o sentimento de pertencer a este povo forte e temente a D’s, o povo judeu.


Um Pessach Casher ve-Sameach para nossos leitores e suas famílias!

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