Quando dois empresários judeus belgas se instalaram em Petach Tikva, em 1936, dando início a um pequeno negócio no setor de diamantes, jamais poderiam supor que, 50 anos depois, Israel se tornaria um dos três mais importantes centros mundiais de lapidação e comércio de diamantes.


De cada dois diamantes negociados no mercado internacional, um foi lapidado
em Israel; o setor emprega atualmente 15 mil pessoas no país, que trabalham em cerca de 600 empresas. Em 1999, Israel exportou mais de US$ 4,5 bilhões, ou seja, cerca de 22% a mais do que no ano anterior. A importância deste setor é tão grande que o segmento é considerado um item à parte na pauta de exportações israelenses, nem sempre incluído no total da balança comercial do país.

A presença judaica na lapidação e comercialização de diamantes é tão antiga e marcante que já se tornou tradição, entre os negociantes, encerrar qualquer transação, quer envolva ou não judeus, com o mesmo cumprimento, em hebraico: “Mazal u-brachá”. Ou seja, “Sorte e bênção” para todas as partes envolvidas. Mesmo se o negócio for feito por telefone. Quem faz esta afirmação é Gerson Goldschmidt, presidente da Bolsa de Diamantes Brutos da Antuérpia, Bélgica.

Antes da Segunda Guerra Mundial, mais de 70% dos comerciantes e lapidadores de diamantes eram judeus, número que se reduziu para 50% após o final do conflito. Segundo Goldschmidt, as perseguições sofridas pelos judeus, ao longo da história, estão diretamente relacionadas com a sua atuação no comércio principalmente de objetos que pudessem transportar cada vez que fossem obrigados a sair dos países em que viviam. Dentro deste contexto, o setor de diamantes adaptava-se muito bem à realidade judaica.

Outro ponto fundamental mencionado por Goldschmidt é o fato de o comércio de diamantes basear-se na confiança entre as partes e em sua honestidade. “Em quem mais poderiam confiar os judeus, após tantos massacres e perseguições, senão em outros judeus?” Assim, durante séculos, este tem sido um terreno predominantemente judaico. Mas, na última década, a redução da margem de lucro e o surgimento de novos concorrentes no cenário – como por exemplo a Índia, que vem-se especializando na lapidação e comércio de pedras preciosas menores – vêm diminuindo a presença judaica no setor.

A indústria de diamantes de Israel – que inclui corte e lapidação – continua a processar as pedras maiores e mais preciosas do mundo. No entanto, as oficinas concentradas na região de Tel Aviv e Natânia estão enfrentando cada vez mais a concorrência de Mubai e Gujarat – cidades indianas. A nova situação tem exigido dos israelenses pesados investimentos em tecnologia para não perder essa fatia de mercado, que está sendo disputada “pedra por pedra”. Os indianos estão também cada vez mais ativos em Antuérpia, Nova York, Hong Kong, Londres e até em Ramat Gan, onde está situada a Bolsa de Diamantes de Israel.

Laços antigos

A relação entre os judeus e o setor de jóias e pedras preciosas em geral remonta à Idade Média. No século XI, os califas egípcios compravam seus diamantes dos irmãos Tustari, um dos pilares da comunidade judaica do Cairo. Os comerciantes judeus traziam suas pedras da Índia, principal fornecedor do norte da África e do sudeste europeu até o século XVIII. A realeza européia também negociava com os mercadores judeus.

Várias foram as razões que mantiveram os judeus nesse ramo de negócio por vários séculos, entre as quais o fato de nenhuma das atividades ligadas ao diamantes – desde o corte, a lapidação e a própria comercialização – impor restrições à sua participação, a exemplo do que ocorria com outras atividades econômicas. Amsterdã se tornou o principal centro de diamantes do século XV, com a intensa participação dos judeus sefaraditas vindos de Portugal, que ganharam fama por sua arte de cortar, polir e negociar. No século XVII, os joalheiros portugueses e espanhóis emigraram para Nova Amsterdã (a futura Nova York), no novo continente, atuando no setor diamantífero. Em 1920, o distrito de diamantes estava situado no Baixo Manhattan e, posteriormente, foi transferido para a rua 47.


Uma das mais importantes figuras do segmento de diamantes, na África do Sul, em 1860, foi Barney Barnato, um ex-músico e boxeador amador de Londres. Ele foi o principal rival e posterior sócio do barão Cecil Rhodes nas minas de Kimberley. Foi nessa mesma região que, a partir 1902, também começou a atuar Ernest Oppenheimer, como agente de um comerciante londrino. Oppenheimer se tornaria depois o presidente da De Beers, que ainda hoje domina a mineração de diamantes.

Até meados do século 20, toda a matéria-prima da África do Sul era enviada ao exterior para corte e polimento. Com a vinda dos imigrantes judeus após 1945, surgiu uma indústria local. Em 1960, o israelense Moshe Duek comprou a Protea, uma das maiores firmas de comércio de Joanesburgo. Um dos sinais mais concretos da presença judaica no setor pode ser visto no elevador do novo centro de diamantes da cidade: um aviso com o horário dos serviços religiosos diários de minchá e maariv.

A Segunda Guerra Mundial transformou o panorama europeu diamantífero. Os nazistas destruíram Amsterdã como núcleo desta indústria e, ao final do conflito, parte dos comerciantes judeus transferira-se para Antuérpia, onde estava renascendo um grande centro da indústria de diamantes controlado por não judeus. Sobreviventes do Holocausto foram, também, para Israel – onde surgia um novo centro de diamantes – e dedicaram-se ao que sabiam fazer – e que os nazistas não haviam lhes tirado: cortar, polir e negociar.

Nova York foi outro local escolhido pelos judeus para reconstruírem sua vida, integrando-se ao já existente segmento de diamantes americano. Mais recentemente, a cidade também recebeu imigrantes de Israel, da ex-União Soviética e da Índia. Estes últimos, atualmente detentores do comércio de pedras menores, vendem seus produtos através de programas de televisão.

Apesar dos chineses e indianos predominarem no comércio de diamantes em Hong Kong, os judeus também participam ativamente desse mercado. Cerca de 80% dos cortadores, polidores e negociantes de Antuérpia são judeus, incluindo muitos ultra-ortodoxos. Segundo Eddy Sterngold, que cresceu ao redor da área onde está o distrito de diamantes da cidade, a região é como um shtetl, cheia de pequenas sinagogas. Atualmente, Antuérpia é mais importante como centro de comercialização de pedras brutas e lapidadas, sendo que cerca de três quartos das pedras compradas e vendidas na cidade foram cortadas e polidas principalmente em Israel e na Índia. Lá, também, a exemplo do que acontece em outros lugares, os negócios são fechados com duas palavras em hebraico: Mazal u-brachá.


Bibliografia:
Losing its Sparkle, artigo publicado em The Jerusalem Report


Israel na rota dos diamantes

Os diamantes fazem todo mundo sonhar, principalmente as mulheres. Alguns ganham notoriedade mundial e se perpetuam através dos tempos como lendas, entre estes, está o Koh-i-Noor – Montanha da Luz. No entanto, por trás desse sonho, está uma realidade que integra os segmentos industrial e comercial. Um dos líderes internacionais da indústria de diamantes lapidados – responsável por cerca de 70% da produção mundial, Israel aspira ser, ao lado de Antuérpia, na Bélgica, um dos principais mercados de negociação de matéria-prima bruta e pedras polidas.

Desde 1937, quando foi inaugurada a Bolsa de Diamantes de Israel, em uma pequena casa em Tel Aviv, muitos passos foram dados no sentido de consolidar a posição do país no mercado internacional. A sede inicial foi transferida para um complexo de quatro edifícios, no subúrbio de Tel Aviv, cujas torres erguem-se imponentes em direção ao céu da cidade. No mesmo local está também situado o Museu Harry Oppenheimer de Diamantes, inaugurado em 1986, órgão vinculado ao Instituto de Diamantes de Israel.

A Bolsa de Diamantes de Israel, cujas torres são chamadas de Shimshon, Noam, Maccabi e Diamond, está cercada por um rígido sistema de segurança. O acesso às dependências internas é permitido apenas para compradores e vendedores e os portões eletrônicos sucedem-se uns após os outros, com inúmeros detetores de metais e de diamantes permanentemente ligados. São cerca de 1.200 escritórios para transações, além de restaurantes, correios, um ambulatório para emergências e outras dependências.

Até 1998, Israel se caracterizava como centro industrial e comercial de diamantes lapidados. Nesse ano, no entanto, foi inaugurada a Bolsa de Diamantes Brutos com um objetivo bem definido: atrair os grandes produtores mundiais levando-os a negociar sua matéria-prima no país. Em 1997, Israel importou cerca de US$ 3,8 bilhões de pedras brutas, dos quais US$ 1,1 bilhão foram comprados da De Beers, responsável por cerca de 80% da distribuição mundial. O restante foi negociado através da Bolsa de Antuérpia. O objetivo de Israel é conseguir atrair pelo menos 15% a 30% dos negócios para o país, diminuindo, assim, a ação dos intermediários e, conseqüentemente, reduzindo o preço da matéria-prima e a dependência das bolsas internacionais.
Atualmente, Israel compra mais da metade da produção mundial de diamantes brutos através da Associação das Indústrias de Diamantes do país (DMA). Fundada em 1944, a DMA visa o desenvolvimento do setor junto ao comércio internacional. Mantém o Instituto de Diamantes de Israel, que oferece programas de treinamento de mão-de-obra, além de um laboratório de Gemologia, que garante o alto padrão de qualidade da lapidação israelense.

Israel possui, também, um grande centro de lapidação na cidade de Natânia, aberto ao público para visitas e compras no varejo, sendo um ponto importante nos roteiros turísticos do país.