"Eram quatro as mulheres mais lindas do mundo: Sarah, Rahav, Abigael e Esther". (Meguilá, 15a)

A história de Rahav, uma das mulheres mais lindas do mundo, está relatada no Livro de Josué. Após salvar os judeus do Egito e guiá-los durante os quarenta anos em que peregrinaram pelo deserto do Sinai, Moisés chega às margens do rio Jordão. Falece, aos 120 anos, após ter indicado o seu sucessor, Josué, filho de Nun, prestes a entrar na Terra Prometida.

Homem simples, Josué era o fiel discípulo de Moisés. Sempre estivera a seu lado, em sua sombra, pronto para o ajudar. Josué nunca se colocara em evidência e, agora, D'us o escolhia para liderar os Filhos de Israel. Caberia a ele a tarefa de conquistar a Terra Prometida e distribuí-la entre as Doze Tribos.

Josué sabe que, para conquistar a Terra Santa, deve primeiramente conquistar Jericó, cidade que o Talmud classifica como a "chave de Eretz Israel". Resolve, então, no maior sigilo, enviar dois espiões, Pinchas e Calev, a Jericó, para verificar as vias de acesso e as fortificações da cidade. Mas, sobretudo, para sentir o estado de espírito de seus habitantes.

Os dois homens se dirigem à cidade protegida por sete muralhas. Conseguem infiltrar-se até chegar a essas, mas percebem a dificuldade em atravessá-las. É quando avistam uma casa situada junto aos muros da cidade, acima das fortificações, e para lá se dirigem. Era uma hospedaria e sua proprietária era uma mulher de rara beleza: Rahav. Pareceu-lhes que uma hospedaria seria o lugar perfeito para se esconderem, porque a entrada e saída de estranhos não despertavam atenção e por lá corriam as notícias de toda a cidade.

Rahav era uma cortesã. O termo hebraico usado no Livro de Josué para defini-la é zoná, mas alguns de nossos sábios interpretam essa palavra deforma diferente. Como a palavra deriva do verbo zan, que significa "suprir de alimentos", afirmam que o termo indica que Rahav era a proprietária de um local onde se forneciam refeições, uma hospedaria.

Nossos sábios relatam que Rahav era de uma beleza extraordinária e que seu albergue era freqüentado por monarcas e homens poderosos. Era, sem dúvida, a pessoa certa a quem procurar para se obter informações sobre o que reinava entre os habitantes da cidade. Era também uma mulher corajosa e seus atos denotavam grande bondade.

Ao chegar na hospedaria, Pinchas e Calev pedem abrigo. Rahav os recebe, oferecendo-lhes comida e uma cama para descansar. Os dois, no entanto, já haviam sido identificados e sua vida corria perigo.

Na época, o rei de Jericó possuía uma excelente rede de informações. Imediatamente chega a seus ouvidos que dois estrangeiros se encontram na cidade, mais exatamente, hospedados no albergue de Rahav. O rei desconfia de seus motivos e faz saber a Rahav que teria que entregar os dois homens, pois como eram espiões, não havia razão para protegê-los.

Ao saber da vinda dos guardas palacianos à sua casa, Rahav resolve ajudar os dois espiões enviados por Josué e os esconde no telhado. Quando os guardas batem à sua porta, sem titubear ela admite que os dois estrangeiros haviam estado em sua casa, mas não sabia quem eram nem de onde vinham. Afirmou, ainda, que os dois tinham fugido da cidade na noite anterior. Mas, alerta os guardas que se fossem rapidamente atrás deles, com certeza os alcançariam. Os guardas acreditam em suas palavras e saem no encalço dos espiões.

Passado o perigo, ela vai ao telhado, onde escondera os homens de Josué, e lhes revela a razão para agir daquela forma. Não era traidora de seu povo. Ajudava-os, pois como D'us prometera aquela terra a Israel e sendo Ele o Todo-Poderoso, nos céus e na terra, ninguém podia lutar contra Sua Vontade. Com esta explicação, carregada de emoção e convicção, Rahav expressa sua crença em D'us, Único e Onipotente.

Em seguida, Rahav revela o que Josué queria saber. "O pavor sobre vós recaiu sobre nós! Os habitantes da cidade estão aterrorizados perante vós". Não têm coragem de vos enfrentar e todos tremem perante vós, pois, o povo de Canaã soube que, ao sair do Egito, o "Eterno secou as águas do Mar Vermelho" para que Seu povo passasse. Apesar de, na época do Êxodo, ela ter apenas 10 anos de idade, lembrava-se com clareza da comoção causada pelos relatos da saída do Egito, sobre o povo de Canaã. Aquilo mostrava a Onipotência do D'us Único, D'us de Israel.

Rahav pede aos dois espiões a promessa de poupar sua vida e de toda a sua família. Os dois, gratos pela ajuda, prometem atendê-la, agindo com bondade e fidelidade. Prometem que se ela não os traísse e mantivesse em segredo seu acordo, iriam defender com a própria vida, a ela e a seus familiares.

A hospedeira os ajuda a fugir da cidade. Como os portões das muralhas estavam fechados, faz com que desçam de sua janela por uma corda. Uma das paredes da sua casa era contígua a um dos muros e, assim, os dois facilmente pulariam para o outro lado. Rahav os aconselha a não voltar imediatamente para Shitim, local onde Josué e Filhos de Israel estavam acampados, mas ir até as montanhas e lá se esconder durante três dias, tempo suficiente para que seus perseguidores desistissem da busca.

Os dois fugitivos explicam, então, o que Rahav deverá fazer para ser poupada durante o ataque. Dão-lhe uma corda vermelha - a mesma que usariam para a fuga - que ela deveria amarrar na janela. Este seria o sinal. Dessa maneira, sua casa e todos os que lá se encontrassem seriam poupados. Mas, insistem, se alguém saísse de casa ou o acordo fosse revelado, a promessa estaria desfeita.

Descem pela corda e, acatando as instruções de Rahav, escondem-se por três dias nas montanhas. A hospedeira pendura, provavelmente antes do ataque para não despertar suspeitas, a corda em sua janela, como combinara. No fim do terceiro dia, os espiões vão ao encontro de Josué. Depois de ouvir o relato e cientificar-se do medo que lhe tinha o povo de Jericó, o líder dos judeus resolve invadir a cidade.

A queda de Jericó é um marco na história judaica. Apesar de ser praticamente impenetrável, por ser protegida pelas sete muralhas, a cidade é invadida, como que por milagre, por Josué, que segue as instruções do Todo Poderoso.

Quando o povo reunido se encontra na margem ocidental do Jordão, Josué pede que todos os homens façam a circuncisão, já que no deserto, por questão de higiene, não puderam cumprir o pacto de Abrahão. E todos os jovens são, então, circuncidados.

Josué pede para que sete Cohanim, com a Arca Sagrada nos ombros, dessem a volta pela cidade. Durante seis dias, isto é feito. No sétimo dia, eles dão sete voltas. Então, Josué pede que todo o povo toque o Shofar. E o milagre acontece. O som tonitruante faz implodir as muralhas, sem que a mão humana as tocasse, e o povo de Israel, tendo Josué à sua frente, adentra a cidade e conquista Jericó. Nenhuma gota do sangue dos Filhos de Israel fora derramada para conseguir a vitória.

Antes de caírem as muralhas, Josué se dirige ao povo e alerta: "O Eterno vos deu a cidade". A seguir, proíbe saques de qualquer espécie, pois todos os bens do inimigo, ouro, cobre e jóias devem ser recolhidos e queimados, em oferenda a D'us. Tanto a cidade como tudo o que contém deverá ser destruído - com uma única exceção. Rahav e todos os que se haviam abrigado em sua casa seriam poupados.

Ao falar ao povo, Josué repete quatro vezes a ordem de salvar Rahav, desta forma ressaltando a importância de se retribuir a quem nos estende a mão em momentos difíceis.

Derrubada as muralhas, o povo de Israel toma a cidade e destrói tudo o que lá havia. Da janela da casa de Rahav, como combinado, pende uma corda vermelha. Josué manda os espiões resgatarem a mulher. Segundo algumas fontes, 260 pessoas teriam sido salvas e levadas para fora da cidade. Jericó, então, é incendiada e da cidade não sobra pedra sobre pedra.

Arrependida de seu passado, Rahav se converte ao judaísmo. Tão sincera foi, em sua conversão, que teve o mérito de se casar com ninguém menos que Josué. Oito profetas, entre eles Jeremias e Baruch, descenderiam dessa união.

Josué faleceu aos 110 anos, sendo considerado um grande líder e profeta de Israel. Rahav, sua esposa, além de ser uma das mais belas de nossa história, foi também uma grande mulher, corajosa e decidida, uma das 22 heroínas de nosso povo. Não apenas acreditou no D'us de Israel - abraçou Seu povo, ajudando-o a conquistar a Terra Prometida.

Bibliografia:

Curso proferido pelo Rabino David Weitman, "A História desconhecida do povo de Israel" - Sinagoga Beit Yaacov, SP O Livro de Josué, Editora Maayanot.