Tenho profundas reservas com relação ao acordo, mas, como muitos americanos, ainda estou avaliando todas as evidências a favor e contra. Esse é um dos mais importantes debates de nosso tempo, com enormes implicações para o futuro dos Estados Unidos, a segurança e a estabilidade do mundo.
Se você é contra o acordo nuclear firmado com o Irã, está aumentando o risco de uma guerra. Caso seja um democrata contrário a esse acordo, também está colocando em risco sua carreira política. Essa é a mensagem que a Casa Branca e alguns líderes de esquerda estão enviando. Eles têm de parar com isso agora, pois estão corroendo sua credibilidade.
Tenho profundas reservas com relação ao acordo, mas, como muitos americanos, ainda estou avaliando todas as evidências a favor e contra. Esse é um dos mais importantes debates de nosso tempo, com enormes implicações para o futuro dos Estados Unidos, a segurança e a estabilidade do mundo. No entanto, em vez de tentar convencer os americanos sobre os méritos do acordo, seus defensores recorrem à intimidação e, ao mesmo tempo, extrapolam sua defesa.
Na semana passada, o presidente Barack Obama declarou que endossar o acordo não é uma decisão difícil. Discordo inteiramente. Trata-se de uma decisão extraordinariamente difícil e a posição do presidente seria mais convincente se deixasse de banalizar as fragilidades do pacto e exagerar seus benefícios.
Se ele acredita que o acordo “proíbe permanentemente o Irã de produzir uma arma nuclear”, como afirmou em seu discurso em uma universidade americana há uma semana, então deveria examinar novamente o texto, cujas restrições terminam repentinamente após 15 anos, e algumas limitações com relação ao enriquecimento de urânio desaparecem depois de apenas dez anos.
A defesa exagerada do acordo esconde a gravidade da situação e contribui para gerar desconfiança, ao invés de ganhar apoio. Difamar os críticos é ainda menos eficaz. Em seu discurso, o presidente insinuou que aqueles que condenam o acordo são os mesmos que defenderam a guerra no Iraque. A mensagem não foi muito sutil. Os que se opõem ao pacto são belicistas. (Naturalmente, entre os que votaram a favor da resolução sobre a Guerra no Iraque, em 2002, estão o vice-presidente e o secretário de Estado de Obama). E Obama foi mais longe, afirmando: “São aqueles radicais que entoam ‘morte aos EUA’ os que mais se opõem ao acordo. Estão fazendo causa comum com a tática republicana”.
De um presidente que com frequência se queixa do excesso de partidarismo e cujo objetivo declarado é elevar o discurso, o público merecia algo melhor. O que foi emblemático em tudo isso - e me levou a escrever este artigo - foi o tratamento dado ao senador democrata Chuck Schumer.
Em seus argumentos muito sensatos, ele observou que a linha de conduta no acordo não ficou clara. Pessoas sensatas podem discordar e o fazem. Mas, em vez de aceitar uma diferença de opinião apresentada com todo o respeito, o porta-voz do presidente e outras pessoas próximas à Casa Branca insinuaram que a decisão de Schumer poderá lhe custar a oportunidade de se tornar o líder do Partido Democrata no Senado.
O que deveriam ter dito é que o presidente Obama ratificou a legislação que dá ao Congresso autoridade para se expressar sobre o acordo. Esse debate é muito mais importante do que política partidária e considerações pessoais não devem interferir na decisão envolvendo o acordo.
Schumer está certo, esse é um voto de consciência. Cada membro do Congresso, depois de estudar a fundo o teor do acordo e de ouvir todos os argumentos, de ambos os lados, deverá decidir sobre o seu mérito e a Casa Branca tem de se concentrar em defender o mérito, não em usar táticas de campanha para pressionar os democratas a votar unidos.
O comportamento da Casa Branca é especialmente decepcionante quanto à maneira como as coisas se desenrolaram. Toda negociação envolve uma troca. Essa não foi exceção. Concessões importantes foram feitas no último momento, até mesmo em termos de armas e mísseis balísticos. Foram mudanças surpreendentes que terão amplas implicações que exigem um exame cuidadoso.
Durante todo o processo, o presidente e seu secretário de Estado deram garantias de que os EUA não ficariam cercados em um mau acordo. Mas, em seu discurso, na semana passada, o presidente afirmou que o Congresso tem de decidir “se apoia o avanço diplomático histórico” ou o bloqueia “com a objeção da maior parte do mundo”.
O Congresso não deve decidir com base na opinião do restante do mundo, nem na opinião da sociedade americana, que se opõe a esse pacto numa proporção de dois para um, segundo pesquisa recente.
O Congresso tem de fazer a própria avaliação, cuidadosa e árdua - o que possivelmente não conseguirá sem examinar os acertos que ainda precisam ser revelados. Como alguém pode se manifestar sobre um acordo que não conseguiu ler do início ao fim?
Michael Bloomberg é CEO da Bloomberg e ex-Prefeito de Nova York
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Tradução: Estadão Conteúdo