A festa de Sucot se inicia no 15o dia do mês judaico de Tishrei – cinco dias após Yom Kipur. Durante os sete dias dessa festa, habitamos em uma cabana chamada Sucá (daí o nome da festa), onde fazemos nossas refeições e executamos as demais atividades – como estudar a Torá e desfrutar da companhia da família e amigos–, algo que normalmente faríamos em casa. Durante a semana de Sucot, a Sucá passa a ser nosso lar – havendo, mesmo, quem tenha o costume de nela dormir.

As Sucot (plural de Sucá) – cabanas frágeis e temporárias – fazem-nos recordar nossa total dependência do Todo Poderoso. Elas celebram as “Nuvens da Glória” que pairavam sobre nós, judeus, protegendo-nos enquanto vagávamos pelo deserto, durante 40 anos, a caminho da Terra de Israel. Esta festividade também engloba um outro mandamento – referente às Quatro Espécies: o Lulav (um ramo de palmeira), o Etrog (cidra), o Hadáss (galhos de murta) e o Aravá (ramos de salgueiro). A Torá nos ordena juntar essas quatro espécies em nossas mãos. Temos o costume de sacudi-las em quatro direções, após pronunciar a bênção apropriada.

Sucot é chamada de Zman Simchatenu – época de nosso júbilo. Essa festividade de sete dias é muito alegre, profundamente mística e traz em si lições importantes e atemporais. Neste artigo, discutiremos sete dessas lições – uma para cada dia da festividade.

1a Lição: O mundo é nossa residência temporária

Habitamos na Sucá durante a festa de Sucot pois D’us nos ordenou assim proceder. Mas qual o significado deste mandamento? Por que D’us haveria de querer que morássemos em cabanas durante sete dias? São várias as razões. Uma delas é para nos ensinar que o mundo físico onde vivemos é como uma Sucá – uma residência temporária para todos nós. 

Este ensinamento nos é transmitido por uma história acerca do Mestre Hassídico do século 18, Rabi Dov Ber de Mezeritch, conhecido como o Grande Maguid. Esse mestre foi o sucessor do Baal Shem Tov na liderança do Movimento Hassídico. Um dos maiores eruditos em Torá de todos os tempos, o Grande Maguid foi o mestre dos fundadores das grandes dinastias Hassídicas.

Certa vez, um homem rico foi visitar o Grande Maguid e ficou chocado ao ver que ele vivia em uma simples cabana. Consternado com a moradia extremamente humilde do Maguid, ele se ofereceu para proporcionar ao grande Sábio uma moradia de acordo com seu status. Mas o Rabi Dov Ber recusou a oferta, pedindo ao seu generoso interlocutor que descrevesse sua própria casa – que, naturalmente, era uma luxuosa mansão; e que descrevesse suas acomodações quando em viagem. Quando o homem abastado completou sua descrição, o Maguid comentou: “Vejo que suas acomodações em viagem de negócios são bem mais modestas do que seu lar. Pois o mesmo sucede comigo. Sou apenas um viajante neste mundo. Meu verdadeiro lar não é aqui. Por isso minhas acomodações enquanto estou aqui, em trânsito, são muito mais modestas do que minha residência permanente”.

Obviamente não há nada de errado em se ter belas moradias e bênçãos materiais. Nenhum de nós é um gigante espiritual como o Maguid de Mezeritch, para quem os prazeres físicos e o conforto não eram importantes. Mas essa história do extraordinário Mestre Hassídico ecoa um dos ensinamentos trazidos pela festa de Sucot: Somos apenas transeuntes neste mundo físico, que, como a Sucá, é uma moradia temporária. Nosso verdadeiro lar não é aqui, mas lá onde nossas almas habitavam antes de descer a este mundo, e para onde todos nós iremos após terminar nossa missão na Terra. A morada permanente de nossas almas é muito mais majestosa e bela do que as estruturas mais imponentes construídas pelo homem neste mundo físico.

2ª Lição: A união do Povo Judeu

Além de habitar na Sucá, um importante mandamento da festa de Sucot é ter-se em mãos os Arbaat HaMinim, as Quatro Espécies: três galhos de murta (Hadassim), dois ramos de salgueiro (Aravot), um ramo de palmeira (Lulav) e uma cidra (Etrog) – os quais juntamos e sacudimos em seis direções. E o fazemos todos os dias de Sucot, menos no Shabat.

Um famoso Midrash nos ensina que as Quatro Espécies correspondem a quatro tipos de judeus. O Etrog, com seu gosto delicioso e perfume inebriante, representa o judeu que estuda a Torá e faz boas ações. O Lulav, que produz frutos com sabor, mas sem perfume, simboliza um estudioso de Torá – aquele que se dedica inteiramente ao seu estudo e, portanto, tem pouco tempo para realizar muitas ações de bondade. O Hadáss, que tem perfume, mas não tem sabor, representa um ativista envolvido – aquele judeu que realiza muitos atos de bondade, mas não tem tempo nem aptidão intelectual para estudar muito a Torá. Finalmente, o Aravá, sem gosto e sem perfume, e simboliza o judeu que nem estuda muito a Torá nem realiza muitos atos de generosidade: ele é alguém que ainda não usou seu potencial intelectual nem sua capacidade para fazer deste mundo um lugar melhor.

Aparentemente, ninguém gostaria de ser representado pelo Aravá. A maioria de nós, judeus, gostaria de ser o Etrog ou, quem sabe, o Lulav (aqueles que gostam do estudo), ou ainda o Hadáss (caso não sejam tão dotados, intelectualmente, e prefiram ser ativistas). Mas o mandamento das Quatro Espécies nos ensina que mesmo o Aravá, que simboliza um judeu aparentemente despido de conhecimento da Torá ou da prática de boas ações, é indispensável. Pois sem esta espécie, não se pode cumprir a mitzvá dos Arbaat HaMinim, ponto central na festa de Sucot. Mesmo se tivermos o Etrog mais bonito, um Lulav alto e forte, os Hadassim pujantes e brilhantes, sem o Aravá o mandamento das Quatro Espécies não pode ser cumprido. A mitzvá das Quatro Espécies transmite a lição da importância suprema de nossa união. E nos ensina que precisamos uns dos outros – nenhum de nós é indispensável – mesmo aqueles que possamos julgar sejam Aravot.

Os dois principais mandamentos de Sucot – segurar as Quatro Espécies e habitar numa Sucá – representam uma perfeita união. Como ensina o Talmud: “Cabe a todo Israel habitar em uma simples Sucá”. Ainda que a Lei especifique que uma Sucá deve ter um máximo e um mínimo de altura, não há limite para sua extensão: a Sucá ideal seria aquela que abrigasse todo o nosso povo, o Povo Judeu, em conjunto.

Durante a Festa de nossa Alegria, nós, judeus do mundo todo, em Israel e na Diáspora, vivemos fisicamente em diferentes Sucot, mas espiritualmente, estamos vivendo juntos sob uma Sucá que nos une, a todos. De forma semelhante, reunimos as Quatro Espécies, simbolizando diferentes personalidades, e reconhecemos que nossa diversidade é a nossa força e que cada um de nós tem uma contribuição única a ser feita para o bem maior.

Fazendo uma observação interessante sobre uma das Espécies: O Rei Salomão, o mais sábio dos homens, observou que o Etrog é uma “fruta atormentada”, pois permanece o ano todo na árvore, sob quaisquer condições climáticas. De modo similar, vemos, em nossa vida, que as pessoas mais talentosas são acossadas pela labuta e pelas dificuldades.

3ª Lição: A centralidade do estudo da Torá

Como vimos acima, todas as Quatro Espécies - Etrog, Lulav, Hadáss e Aravá – são essenciais para o cumprimento deste mandamento. No entanto, cabe lembrar que antes de cumprir essa mitzvá dizemos a seguinte bênção: “Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos e nos ordenaste segurar o Lulav”. Por que razão essa berachá do mandamento das Quatro Espécies apenas menciona o Lulav? Por que não todas as Quatro Espécies, ou o Etrog, que simboliza o estudo da Torá e a prática de boas ações? Como nos ensina o Talmud, o fato de a bênção mencionar apenas o Lulav indica que esta Espécie tem certa proeminência entre as outras três, mesmo sobre o Etrog.

Por que o Lulav supera o Etrog? Pelo fato de simbolizar os judeus que se dedicam integralmente ao estudo da Torá. Mas o Etrog, por sua vez, simboliza aquele que estuda a Torá, mas também dedica muito de seu tempo a praticar boas ações. O judeu que é simbolizado pelo Etrog não se dedica inteiramente ao estudo da Torá pelo fato de ser ocupado com outros assuntos, também dignos e sagrados. Mas, em se tratando do estudo da Torá, não há dúvida de que o Lulav é superior ao Etrog.

Uma das razões para o Lulav desfrutar da honra de ser a única Espécie mencionada na berachá das Arbaat HaMinim, as Quatro Espécies, é uma indicação para nós do quão importante é o estudo da Torá e o quanto devemos honrar nossos Sábios. O Judaísmo permaneceu vivo ao longo dos milênios pelo fato de nossos mestres e rabanim se terem dedicado integralmente a estudar e ensinar a Torá. Rabi Shimon bar Yochai, um dos pilares do Talmud e autor do Zohar, passou 13 anos em uma caverna dedicando-se ao estudo da Torá, nada mais. E Rabi Akiva, o maior mestre do Talmud, que literalmente sacrificou sua vida para garantir a eternidade da Torá, passou 24 anos longe de casa dedicado ao estudo e à transmissão de nossa herança espiritual. Não fora por esses Sábios, a Torá se teria perdido e, consequentemente, o Povo Judeu teria deixado de existir.

Há muitos que creem que o Etrog personifique o judeu ideal – aquele que estuda a Torá, mas também se empenha em tornar o mundo um lugar melhor. Quem consegue fazer ambas as coisas – judeus que se dedicam a estudar a Torá e que também lideram suas comunidades, ou as auxiliam – certamente merece nossa admiração e reconhecimento. Mas não é raro encontrar pessoas assim. Em todas as sinagogas deparamo-nos com judeus que são simbolizados pelo Etrog: frequentam as orações diárias, estudam a Torá, e também trabalham, dedicando seu tempo, energia e talento para beneficiar outros seres humanos. Por outro lado, os judeus que são simbolizados pelo Lulav, são bem mais difíceis de encontrar. Estudar a porção semanal da Torá ou mesmo uma página do Talmud por dia, não faz de ninguém um Lulav. Poucos são os que verdadeiramente se tornam Sábios – que podem dedicar-se plenamente ao estudo e ao ensino da Torá, de todo coração e com toda a alma. Aquele que é simbolizado pelo Lulav vive e respira Torá. É nisso que pensa ao se levantar até o momento em que o sono o vence, forçando-o a abandonar, por horas, o estudo da Torá.

A Torá constitui a Palavra de D’us: Sua Sabedoria e Vontade. No Zohar está dito que o estudo contínuo da Torá é o que mantém a existência do mundo. O verdadeiro Sábio em Torá - um Lulav genuíno – ergue e mantém o mundo. É um Sefer Torá que anda e respira. Certamente devemos honrar nossos Sábios eseucabedalde conhecimento da Torá – e esta é uma das razões para apenas o Lulav ser mencionado na bênção das Quatro Espécies.

4ª Lição: Sete convidados místicos em todas as Sucot

Não se pode celebrar uma ocasião sozinho, seja um aniversário seja um casamento. Celebramos rodeados de outras pessoas. Por essa razão é costume receber, com alegria, convidados à nossa Sucá. A celebração da festividade, cujo nome é “Época de nosso júbilo”, requer que compartilhemos essa alegria com outros.

Nos sete dias de Sucot, além de convidar amigos para nossa Sucá e, assim, celebrar refeições festivas em boa companhia, temos o costume, segundo a tradição Cabalista, de também receber sete convidados místicos, os – “os Sete Pastores” – que personificam as sete Sefirot da emoção. E eles são Avraham, Itzhak, Yaacov, Moshé, Aharon, Yossef e David.

O Zohar, obra central da Cabalá, diz: “Quando um homem senta na Sucá na sombra da fé, a Shechiná (a Presença Divina) abre suas asas sobre ele – e Avraham e cinco homens justos, sendo David um deles, estabelecem sua morada a seu lado. O homem deve alegrar-se cada dia da festa acompanhado desses homens que lhe fazem companhia”. (Zohar, Emor 103a).

Esses convidados elevados vêm alimentar-nos de espiritualidade, cada um deles compartilhando a qualidade que lhe é única. De nosso lado, não há hospitalidade maior do que lhes possamos oferecer do que tomá-los como exemplo.

A festa de Sucot é a “época de nosso júbilo”, pois nós, seres humanos, não costumamos celebrar sozinhos. D’us também se junta à celebração e Se regozija conosco, Suas criaturas. Como escreveu o Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Baal HaTanya: “Sucot é chamada de ‘época de nosso júbilo’ – o júbilo de D’us com Israel e o júbilo de Israel com D’us. Ambas as situações se fundem em uma única celebração harmoniosa dos Céus com a Terra”.

E esse regozijo nos une a D’us e a outros seres. E, como, na verdade, a alegria não pode ser celebrada quando estamos sós, somos obrigados a convidar amigos – terrestres e celestiais – para conosco habitar na Sucá.

5ª Lição: Interessar-se por toda a Humanidade

Durante a festa de Sucot, leem-se na sinagoga várias passagens dos escritos dos Profetas. Tais passagens, em especial as profecias de Zechariah e Ezequiel, falam-nos da transformação do mundo e seus povos, que ocorrerão no Final dos Tempos.

O mundo terá que passar por um Dia de Julgamento perante D’us. E, por fim, Ele Se revelará em toda a Sua majestade. E quando isso ocorrer, todos os povos do mundo reconhecerão Sua suprema soberania, e irão a Jerusalém, em peregrinação, para O reverenciar. Como está escrito: “Então, cada uma das nações, dentre as que invadiram Jerusalém, que sobreviver, subirá cada ano para adorar o Rei, o Eterno dos Exércitos, e celebrar a festa de Sucot” (Zechariah, 14:17). Assim, pois, Sucot, símbolo da proteção Divina sobre Israel, será especialmente reconhecido pelos povos do mundo, e eles serão recompensados por isso.

As celebrações de Sucot sempre tiveram um efeito profundo sobre todos os povos. As 70 oferendas levadas ao Templo Sagrado de Jerusalém durante essa festividade correspondiam e serviam de proteção aos 70 povos que descendiam dos filhos de Noé (que, aliás, constituem os povos atuais do mundo). O Povo de Israel levava aqueles sacrifícios como expiação por todos os demais povos, orando por seu bem-estar, bem como pela paz universal e harmonia entre toda a humanidade.

Hoje em dia, tais oferendas são recriadas por meio de nossas orações. Nossa alegria e os serviços religiosos ao longo da semana de Sucot continuam a ter, como em tempos antigos, um impacto cósmico no destino do mundo. Vemos, pois, que a Torá não se preocupa e protege apenas os judeus. A celebração de Sucot visa a atrair as bênçãos e a paz Divinas não apenas sobre o Povo Judeu, mas sobre todo o gênero humano.

6ª Lição: Reverência e amor a D’us

Os místicos judeus ensinam que tudo o que podemos conseguir, com reverência, em Rosh Hashaná e Yom Kipur, pode ser conseguido em Sucot e Shemini Atseret/Simchat Torá com alegria.

Na primeira metade do mês de Tishrei, mês de Rosh Hashaná e de Yom Kipur, cabe-nos vivenciar D’us como nosso Rei e Juiz – única Autoridade Absoluta sobre nós e nossa vida. Mas não basta cumprir as leis de Rosh Hashaná e Yom Kipur: falta a esses dias sagrados um elemento de intimidade, de amor e, mais importante, de comunhão com o Divino. Por essa razão, o mês de Tishrei nos dá as festas de nosso júbilo: Sucot e Shemini Atzeret/Simchat Torá. Como ensina a Cabalá, assim como os pássaros precisam de asas para voar, nós, judeus, necessitamos de amor e reverência a D’us para nos elevarmos, espiritualmente.

Há muitos judeus que somente cumprem os mandamentos da Torá por reverência ou temor a D’us. Vão à sinagoga em Rosh Hashaná e Yom Kipur – não por um desejo íntimo de o fazer, mas porque temem que, não o fazendo, serão punidos, de alguma forma, pelos Céus. Para eles, os mandamentos da Torá são um ônus e D’us, um Ser temível. São pessoas que rezam, até efusivamente, em Rosh Hashaná e Yom Kipur, apenas por buscarem a autopreservação. E essas pessoas que apenas reverenciam ou temem a D’us, via de regra não apreciam as ocasiões felizes do Judaísmo, como a festa de Sucot, pois não têm muito amor a D’us. Ainda que sejamos ordenados a venerar o Altíssimo, o relacionamento com o Divino quando destituído de amor é apenas limitado – em geral não sobrevive nem aumenta. Ademais, quem reverencia D’us sem O amar – quem apenas O teme e respeita – demonstra que não entende, plenamente, a essência e propósito fundamental da Torá e seus mandamentos. A Torá nos impõe, explicitamente, servir a D’us com alegria, e a razão para fazê-lo é que o estudo da Torá e o cumprimento de seus mandamentos nos foram dados como uma ponte para conectar o homem finito com D’us Infinito. E é através do estudo da Torá e do cumprimento de seus mandamentos que podemos comungar com o Todo Poderoso. É uma concepção totalmente errada ver a Torá e seus mandamentos como um ônus que, se não cumprido propriamente, levará à punição Divina e ao sofrimento. Devemos ver a Torá e suas mitzvot em sua luz própria, como de fato são: o meio para vencer o enorme abismo entre o homem, finito, e o Altíssimo, Infinito.

Há judeus que temem, mas não amam a D’us, mas também há aqueles que sentem apenas amor sem realmente reverenciá-Lo. D’us é nosso Pai, mas também nosso Rei, e até os reis de carne e osso exigem a devida reverência. Os judeus que amam a D’us mas não O reverenciam estão interessados, apenas, nos aspectos alegres e agradáveis da Torá: podemos vê-los desfrutando das refeições na Sucá, dançando com fervor em Simchat Torá e se alegrando em Purim. Mas talvez não tenham a mesma devoção quando se trata das orações de Rosh Hashaná ou do toque do Shofar. Muitos não cumprem adequadamente as proibições de Yom Kipur. Em Tishá b’Av, eles não são vistos. Devemos servir a D’us com alegria, mas também com a reverência que Ele, Rei Infinito, merece. Não podemos escolher apenas o que é agradável e fácil no Judaísmo: há dias de festa e júbilo, mas também há dias de jejum e de introspecção. Há um momento para a dança, mas também há um momento de oração. 

Os Dez Dias de Teshuvá, que se iniciam em Rosh Hashaná e concluem ao terminar Yom Kipur – são a oportunidade de fortalecer nossa reverência a D’us. Sucot e Shemini Atzeret/Simchat Torá são as oportunidades festivas de aumentar nosso amor a Ele. Ao fortalecermos essas “asas” de nosso serviço Divino, não há limites sobre a altura espiritual que podemos alcançar no restante do ano.

7ª Lição: Hoshaná Rabá: a importância da humildade

Hoshaná Rabá, literalmente a “Grande Salvação”, é o nome do sétimo e último dia da festa de Sucot. Hoshaná Rabá coloca a chancela final do julgamento de cada um de nós: o veredicto anotado em Rosh Hashaná e reafirmado em Yom Kipur é finalmente chancelado e ratificado nesse dia. Como ensina o Zohar: “Este é o dia do julgamento final para a água, fonte de todas as bênçãos... No sétimo dia de Sucot o julgamento do mundo é finalizado e os editos são expedidos pelo Rei”.

Hoshaná Rabá, último dia de Sucot, é quando a Corte Celestial toma as decisões finais acerca dos julgamentos feitos nos Dez Dias de Teshuvá. O Parecer Celestial assinado em Rosh Hashaná e confirmado em Yom Kipur é ratificado em Hoshaná Rabá. Daí a importância e o poder desse último dia de Sucot – que, de certa forma, é mesmo comparadoa Yom Kipur.

É interessante que o serviço de Hoshaná Rabá gire em torno do Aravá, os ramos de salgueiro, que, como vimos acima, representa o judeu que não tem muitos conhecimentos sobre a Torá nem pratica muitos mandamentos Divinos. Como ensina o Talmud: “Em Hoshaná Rabá… os Cohanim rodeavam o altar do Templo com ramos de salgueiro”.

Em Hoshaná Rabá, selecionamos um simples salgueiro para uma mitzvá muito especial. Aliás, esse dia é chamado de “Dia do Salgueiro”. O mandamento realizado com esses ramos é tão importante que os Mestres do Talmud ordenaram o calendário judaico de forma que Hoshaná Rabá jamais caia no Shabat – já que nesse dia não é permitido segurar o Aravá.

Por que o Aravá – a menos ilustre entre as Quatro Espécies – é a protagonista do dia da Grande Salvação? Pelo fato de não haver qualidade maior perante D’us do que a humildade. Moshé, o maior de nossos profetas e líderes, foi o homem mais humilde que já existiu. O problema de muitos dos eruditos em Torá, líderes, ativistas e filantropos – todos eles judeus simbolizados pelo Lulav, o Etrog e o Hadáss – é que muitas vezes lhes falta humildade. Na verdade, essa qualidade é raramente encontrada entre nós, seres humanos. Mas ninguém consegue dedicar-se inteiramente a D’us e à Sua Torá se lhe falta humildade. Nossos Sábios nos ensinam que justamente pelo fato de Moshé ter sido o mais humilde dos homens, ele conseguiu se tornar o maior dos profetas. Como era despido de ego, ele funcionava como um canal transparente que transmitia a Vontade e a Sabedoria de D’us a todo o nosso povo, o Povo Judeu.

Há outra lição fundamental transmitida pelo Aravá: um judeu não é definido pelo que sabe ou faz, mas pelo que é. Certamente devemos honrar nossos Sábios – simbolizados pelo Lulav; admiramos os judeus personificados pelo Etrog; e apreciamos as pessoas envolvidas, que são representadas pelo Hadáss. O Aravá, no entanto, nos ensina que nenhum de nós é mais judeu do que qualquer outro de nossos irmãos, judeus como nós.

A Grande Salvação vem a nosso mundo quando nele paira a paz e a união, atributos geralmente encontrados entre os verdadeiramente humildes. O Aravá nos ensina que a humildade é um canal para as maiores bênçãos, e a isso se deve seu papel primordial em um dia de tão grande importância no calendário judaico – o dia que ratifica o que foi determinado nos Céus em Rosh Hashaná e selado em Yom Kipur.

BIBLIOGRAFIA

Jacobson, Simon. 60 Days – A Spiritual

Guide to the High Holidays. MLC –

Meaningful Life Center.