A milenar saga judaica no Marrocos, onde os primeiros judeus se estabeleceram ainda quando Salomão reinava sobre Israel, está intimamente ligada à conturbada e, por vezes, sangrenta história do país.
Invadido no decorrer de milênios por inúmeros povos - até a chegada dos árabes, que trouxeram o Islã e mudaram para sempre a região - o Marrocos localiza-se no norte da África, na região mais ocidental do Magrebe, em árabe, "lugar onde o sol se põe".
A falta de documentação não permite determinar com exatidão quando os primeiros judeus chegaram à região e, mais especificamente, ao Marrocos. Há provas tangíveis de uma presença judaica a partir da destruição do Segundo Templo, em 70 E.C., mas há estudiosos que acreditam ser bem mais antiga, remontando ao período do Primeiro Templo. Para apoiar a tese, citam inúmeras tradições. Entre estas, uma, segundo a qual, na época do rei Salomão, mercadores judeus percorriam a região em busca de ouro. Alguns deles se teriam estabelecido no Saara marroquino. Já os judeus de Ifrane, cidade ao sul do Marrocos, acreditam descender da tribo de Efraim, uma das Dez Tribos exiladas durante o período do Primeiro Templo.
Ao chegar à região, os primeiros judeus lá encontraram os berberes, povo que até hoje representa importante parcela da população marroquina e cuja história se entrelaça com a da comunidade judaica local.
O domínio romano
No ano de 70 E.C., após ter esmagado na Judéia a Grande Revolta, Tito, general romano, expulsa os judeus da Terra Santa dispersando-os por todo o Mediterrâneo. Alguns milhares se estabelecem no norte da África - inclusive na área que hoje é o Marrocos. A presença judaica na região é atestada pelos artefatos arqueológicos descobertos em Volubilis e por lápides com inscrições em hebraico, que remontam ao século 2 E.C.
Na época, as comunidades judaicas marroquinas eram bem organizadas e possuíam grande autonomia sobre os assuntos internos. Mantinham intenso contato com a Terra Santa, havendo mesmo registros históricos de que Rabi Akiva visitou várias comunidades do Magrebe.
Tal tranqüilidade sofre seu primeiro grande revés quando, no século 4, o cristianismo se torna a religião do Império Romano. Discriminados, os judeus vêem seus antigos direitos civis abolidos e suas sinagogas transformadas em igrejas. Muitos deixam as cidades litorâneas, refugiando-se entre os berberes, nas montanhas Atlas.
Por um breve período, por volta de 406 E.C., quando os vândalos, tribo germânica, conquistam o Norte da África, os judeus voltam a ter liberdade religiosa e independência comunitária. Mas tal período de bonança chega ao fim quando os bizantinos tomam a região. O imperador Justiniano desencadeia um período de cruel perseguição aos judeus.
E mesmo quando visigodos, outro povo germânico, tomam o Marrocos após conquistar a Espanha, a vida dos judeus não apresenta melhora. As perseguições e as conversões forçadas fazem com que milhares deles abandonem a Espanha e as cidades da costa marroquina, buscando mais uma vez refúgio entre os berberes.
Início do domínio islâmico
Por volta de 630, surgia o Islã, novo poder militar e religioso que mudaria para sempre a geopolítica da região. Bastaram apenas quatro décadas para que os exércitos árabes dominassem todo o Norte da África. Para os judeus, a conquista árabe foi um período de grande sofrimento, em que inúmeras comunidades foram totalmente arrasadas.
Os berberes do Atlas resistiram à invasão islâmica e um grande número de judeus se aliou a eles, juntos organizando uma resistência armada que duraria 25 anos. É desse período a história de Kahena, famosa rainha judia da tribo berbere de Jerawa. Principal líder na luta contra as forças islâmicas, entre 687 e 697, Kahena conseguiu mobilizar seu povo nos Aures, atual Argélia, a leste das montanhas Atlas. Sua derrocada marcou o fim da independência das tribos berberes, que então se submetem ao Islã. Serão os seus guerreiros - e não os árabes - os que subjugaram a maior parte do Magrebe em nome do islamismo.
Os primeiros a contar a história de Kahena e das tribos berberes judaizantes resistentes à invasão islâmica foram os historiadores árabes do século 7, e, mais tarde, Ibn Khaldoun, filósofo muçulmano do século 14. Já em tempos modernos, estudiosos como H. W. Hirschberg questionam o fato e até mesmo a possibilidade de que tribos inteiras se tenham convertido ao judaísmo. Apesar de não descartar totalmente a teoria, apontam para o fato de não haver registros de tais conversões, nem tampouco ser a história mencionada em documentos judaicos anteriores ao século 15.
A retomada das atividades comerciais, aliada ao fato de serem boas as relações entre os governantes e os judeus, faz com que muitos voltem à região, reconstruindo a vida judaica. E, quando da conquista da Espanha, em 711, por Tarik ibn-Ziyad, governador do Magrebe Ocidental, as comunidades judaicas marroquinas passam a ter contatos com as academias da Babilônia tornando-se parte da tradição babilônico-sefaradi.
Somente as comunidades do interior, menores e mais isoladas, continuaram a viver como sempre o tinham feito, muitas destas sobrevivendo, intocadas, até meados do século 20.
Vida judaica sob o Islã
A presença muçulmana no Marrocos perdura até hoje, e não há como descrever, de forma simplista, as condições em que os judeus viveram desde a conquista árabe até a chegada dos europeus, quase mil anos mais tarde minoria permanente, os judeus sofriam mais do que os demais habitantes com a instabilidade política da região, onde, no decorrer dos séculos, com espantosa regularidade, os períodos de paz eram suplantados por outros, de turbulência e matança. A verdade é que sua vida e bem-estar estavam à total mercê dos governantes. Classificados de dhimmis - não-muçulmanos que se recusavam à conversão - os judeus eram passíveis de obediência a uma série de leis, cujo rigor dependia do humor de cada governante. Além do mais, para terem permissão de viver em terras muçulmanas, eram obrigados a pagar altos impostos, talvez suportáveis em tempos de paz, mas exorbitantes em épocas de guerra. Tais tributos eram a maior fonte de ingresso nos cofres públicos e essa situação fiscal explica o interesse dos mandantes na prosperidade judaica e no fato de que, assim que novas cidades eram fundadas, os sultões criarem mellahs - bairros reservados aos judeus. Explica também o número reduzido de conversões forçadas, já que, uma vez convertidos, representariam prejuízo financeiro para o Erário público.
Dinastias trás dinastias no poder
Um período glorioso do judaísmo marroquino teve início no século 9, após a subida ao trono de Idris II. Sua benevolência perante a comunidade judaica permitiu o desenvolvimento do judaísmo marroquino, que recebe o afluxo de judeus de outros pontos do Norte da África. O Sultão lhes permite estabelecer-se na recém-construída capital, Fez, que se torna importante centro do judaísmo mundial. Segundo relatos, mais de 90 mil viviam na cidade, inclusive vários dos maiores sábios da época. Entre estes, podemos citar Rabi Yitshak Al- Fassi (ver artigo), Rabi Judah ben David Hayyuj, Rabi Yehuda ben Koraiach e Rabi Dunash ibn-Labarat. O próprio Maimônides deixou a Espanha para viver e estudar em Fez, durante vários anos.
Mas a dinastia idríssida não consegue manter-se no poder e sua queda dá início a um período de turbulências, em que o Marrocos é governado por uma sucessão interminável de dinastias curtas e instáveis. Um período nada favorável aos judeus. Quando, em 1032, Fez cai em mãos berberes, a cidade é devastada e 6 mil judeus massacrados, cabendo idêntica sorte aos que residiam em outras cidades marroquinas.
No mundo muçulmano, os conflitos entre as dinastias religiosas, que se sucediam no poder, era exacerbado por disputas doutrinárias quanto ao rigor da aplicação da lei islâmica. E quando uma dinastia liberal era substituída por uma mais extremista, os judeus eram expostos aos riscos inerentes à sua condição de dhimmis. Contudo, não se pode afirmar que sua vida, no país, fosse pior do que a do restante da população local - até a chegada dos almóadas, em árabe os al-Muwahhidun, a dizer, "os monoteístas".
Rigidamente intolerantes com os não-muçulmanos, os almóadas conquistam o Marrocos em 1147, ocupando sucessivamente grande parte da Espanha, e se mantendo no poder até o ano de 1269. Iniciava-se um século de intenso sofrimento para a comunidade judaica. Relatos da época falam de massacres, conversões forçadas e destruição em massa. Até mesmo o poderoso reino judaico localizado no vale do Draa Oriental, que há séculos era independente, chega ao fim com os conquistadores.
Em um de seus poemas, Rabi Ibn Ezra descreve a desgraça que se abateu sobre os judeus marroquinos, a quem os almóadas davam como opção a conversão, a morte ou o exílio. Apesar do perigo, milhares deixam o país. Entre os que lá permaneceram, muitos escolhem a morte. A maioria, no entanto, para salvar a vida, aceita pro forma o Islã, enquanto secretamente continuavam praticando o judaísmo. Um dos momentos mais dramáticos para essa comunidade foi quando, consultado sobre a escolha feita pelos cripto-judeus, um sábio que vivia fora do Marrocos deu uma resposta devastadora: teria sido melhor escolher a morte à conversão. As conseqüências foram gravíssimas. Muitos julgaram que se era esse o caso, era melhor, então, abraçar totalmente o Islã. Maimônides, que, à época, residia em Fez, levantou-se em defesa dos cripto-judeus, publicando a famosa "Carta sobre a Apostasia", Igereth ha-Chamad. Nesta, Maimônides rechaça, com veemência, a responsa do sábio, afirmando que este certamente desconhecia a realidade dos que viviam sob o jugo almóada. Ademais, no decorrer de nossa história, outros judeus haviam sido forçados a aceitar, na aparência, uma fé que não era a nossa, fato que não os transformara, por si só, em não judeus. No entanto, advertia Maimônides, o ideal era abandonar os países onde fosse difícil praticar a nossa religião, abertamente.
Com o passar do tempo, de muçulmanos radicais os almóadas se transformaram em governantes refinados. A situação dos judeus também melhorou; no início do século 13 cessaram as perseguições e, aos poucos, foi recuperando seu fôlego o judaísmo marroquino - uma sombra, porém, da vida existente antes da catástrofe. Quando, em 1258, toma o poder uma nova dinastia berbere, os merínides, que reinará até 1456, os judeus entram em novo período de tranqüilidade e prosperidade.
Diáspora sefaradita
Após os violentos pogroms de 1391 e a instalação da Inquisição, levas de judeus deixaram a Espanha, em grande parte já sob domínio cristão. E, entre as paragens que se apresentavam para se estabelecerem, estava o Marrocos. O fluxo aumentou após 1492, quando, entre os 300 mil judeus que preferiram deixar a Espanha a se converter ao cristianismo, muitos escolheram novamente esse país. Ciente de seu talento e elevada cultura, bem como das vantagens que suas habilidades comerciais trariam para o reino, o Sultão abre-lhes as portas.
Em 1497, foi a vez dos judeus que viviam em Portugal ter que optar entre exílio ou conversão, e, outra vez, refugiaram-se no Marrocos, aos milhares. E, nos séculos posteriores, esse mesmo país virou um porto-seguro para conversos que escapavam da Inquisição, ansiosos por retornar ao judaísmo.
Os sefaraditas, chamados de megorashim, ou seja, exilados, fixam-se principalmente no litoral Norte, onde se tornam a maioria. Criam suas próprias comunidades e sinagogas, vivendo conforme suas tradições e costumes. A princípio, os judeus locais, os toshavim ou "residentes", tratavam os refugiados ibéricos com desconfiança.Estranhavam seus hábitos, seus min'haguim; até o idioma era diferente, pois enquanto os sefaraditas falavam espanhol ou português, os toshavim se comunicavam em judeo-árabe. Com o tempo, apesar da enorme influência dos oriundos de Sefarad sobre a vida religioso-cultural das comunidades judaicas do Marrocos, eles próprios acabaram por assimilar aspectos da cultura judaica local, criando uma nova síntese tipicamente marroquina, assim como um novo dialeto, um ladino arabizado, chamado de Haquitia.
Graças a seu talento para o comércio e contatos com toda a diáspora sefardi, os judeus ibéricos se tornaram prósperos mercadores. Seu prestígio junto ao Sultão aumentou ainda mais a partir de 1600, quando os portugueses tomam áreas do litoral atlântico marroquino. As raízes européias dos "exilados" e suas habilidades de negociadores e diplomatas, tornavam-nos indispensáveis entre os governantes árabes e os reis católicos.
A Era moderna
No século 17, instala-se no poder nova dinastia berbere, originária do Sudeste marroquino, os alaouitas, que constituem a família real do Marrocos até hoje. Seus sultãos, buscando contrabalançar as constantes pressões dos turcos otomanos, que, em fins do século 16 já haviam conquistado todo o Magrebe, procuram desenvolver ligações comerciais e diplomáticas com as nações da Europa Ocidental. Nesse cenário, era preponderante o papel dos grandes comerciantes judeus, que não só obtêm dos sultãos virtual monopólio do comércio ultramarino, como se tornam os responsáveis pela diplomacia do país e pela negociação de tratados internacionais. Para os europeus, também, os judeus eram praticamente indispensáveis, sendo os únicos intermediários plausíveis entre o mundo islâmico e o europeu.
Para proteger seus interesses as nações européias começam a instalar consulados no Marrocos, que podiam estender sua proteção a representantes e funcionários locais, via de regra, judeus. Tal "representação judaica" dos poderes europeus provoca um forte ressentimento entre as massas berberes, fazendo com que, até o século 20, os judeus servissem de bode expiatório em qualquer instância em que os muçulmanos discordassem das medidas adotadas pelos estrangeiros.
Fontes judaicas relatam a "dança" das fortunas judaico-marroquinas, na Era moderna. Durante o reinado de Moulay Ismail, por exemplo, em que o Marrocos atingia seu apogeu, dois dos mais importantes conselheiros reais eram judeus, Moshé Ben Attar e Youssef Memran. Mas, com a morte de Ismail, em 1727, o país entra em um período de anarquia durante o qual são arrasadas comunidades judaicas inteiras, no interior. E, se sob o sultanato de Mulay Muhammed (1757-1790), os únicos diplomatas enviados a países ocidentais eram judeus marroquinos, seu filho Mulay al-Yazid encarrega-se de massacrar milhares de judeus em Tetuan, Marrakesh e Meknés.
Um outro fator que influenciava as condições de vida dos judeus marroquinos era a sua posição econômica. Enquanto grandes mercadores e diplomatas formavam uma pequena mas poderosa classe alta, a maioria deles vivia na total penúria, como seus vizinhos muçulmanos. Em busca de um futuro melhor, a partir do século 19 inicia-se um intenso processo de emigração para a Europa, América do Sul, inclusive para a Amazônia, e para Eretz Israel.
O único raio de esperança nesse período foi a chegada, ao Marrocos, da Alliance Israelite Universelle, que abre sua primeira escola em Tetuan, em 1862. Sua missão era dar aos judeus uma educação moderna, francesa, que os ajudasse a melhorar de vida. Em 1912, a Alliance já tinha mais de 27 escolas, em todo o território marroquino, com acima de 30 mil alunos.
A difícil situação dos judeus marroquinos leva, em 1864, sir Moses Montefiori àquele país. Recebido pelo sultão Sidi Mohammed Abd-al-Rahman com grandes honras, Montefiori intercede em favor dos judeus junto ao mesmo, que tudo promete mas nada faz para mudar o status quo.
Protetorado francês
No Marrocos, o domínio colonial inicia-se formalmente em 1912, quando o país é dividido entre Espanha e França, que fica com a maior parte. Tânger é declarada Zona internacional. O tratado provocou uma onda de violência contra os judeus de Fez, que têm a terça parte de seu bairro incendiado, deixando 60 mortos e outras várias dezenas de feridos.
Os franceses governam o país por mais de 45 anos, mantendo o sultão no poder, com um papel apenas figurativo. A mudança é notória; todo o Marrocos é modernizado, urbanizando-se as cidades. Para os judeus locais, o domínio francês traz algum alívio, terminando com a segregação que lhes fora imposta. O processo geral de urbanização faz com que, em número crescente, deixem o interior e se estabeleçam nas cidades, onde lhes é permitido viver fora dos mellahs. Contudo, sob o aspecto de sua situação legal, não há grandes avanços. Eles não detêm igualdade de direitos e vêem frustrada a esperança de receber cidadania francesa, diferentemente do que ocorrera na Argélia.
Os judeus logo se adaptam, e com entusiasmo, à cultura européia, sob cuja influência surge uma elite judaica moderna. Mas, felizmente, a assimilação em massa que se viu na Argélia não se repetiu no Marrocos, graças à força da tradição rabínica marroquina, além da intensa pressão comiunitária sobre seus membros.
A Shoá
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a população judaica do Marrocos somava 225.000 pessoas. Com a queda da França em mãos alemãs, a partir de 1940, o Marrocos francês passa a seguir as determinações do governo de Vichy. No entanto, o sultão Mohamed ben Youssouf , futuro rei Mohamed V, recusa-se a aplicar as leis raciais e a autorizar a deportação dos judeus. Apesar disso, o governo de Vichy "interna" em campos restritos os judeus "estrangeiros" e obriga os "locais" a voltar aos mellahs.
Entre os "projetos" nazistas estava a criação de um campo de concentração no Saara, mas o desembarque das forças americanas, em 1942, no Marrocos e Argélia, coloca um fim no sinistro plano. Para celebrar esse milagre, os judeus do Marrocos fixaram o dia 2 de Kislev do ano de 5703 como um outro Purim - e o denominam "o Purim de Hitler".
Com o fim da 2a Guerra e a criação do Estado de Israel, em 1948, a violência anti-judaica torna-se freqüente. Apesar da mão forte do governo sobre os responsáveis, o clima de instabilidade faz com que 67 mil judeus emigrem para Israel, até 1956, ano em que o Marrocos se torna independente. Ao voltar do exílio e retomar o governo de sua nação, Mohamed V concede igualdade de direitos aos judeus e os insere na vida pública. No entanto, pouco depois, são demitidos todos os que detinham algum cargo oficial. A emigração para Israel é proibida, porém, mais de 47 mil conseguem fazer aliá.
Em 1961, quando Hassan II, o 21o monarca da dinastia Alaouita, sobe ao trono, reverte a política do pai no tocante aos judeus, permitindo-lhes, entre outras benesses, emigrar. Mas, apesar da proteção do Sultão, são intensos, no país, os sentimentos anti-judaicos e as agitações contra a comunidade atingem um nível de pico em 1967, quando da Guerra dos Seis Dias. Naquele ponto, a maioria dos que ainda viviam no país decidem partir de vez. Alguns vão para Israel, outros para a França e Canadá. Calcula-se que, em 1970, 35 mil judeus ainda vivessem no Marrocos, protegidos pelo Rei.
Hassan II foi, sem dúvida, o melhor amigo de Israel, em todo o mundo árabe. Em 1986, recebeu Shimon Peres, então primeiro-ministro do país, e se reuniu com uma delegação oficial de judeus de origem marroquina. Ao falecer, em 1999, assume o trono seu filho, Mohamed VI, seguindo a mesma política paterna em relação a Israel. Quando, no ano de 2000, dois jovens marroquinos tentaram vandalizar uma sinagoga, em Tânger, o próprio Rei, em um pronunciamento pela televisão, afirma que não toleraria qualquer ação contra os judeus.
Mesmo assim, em maio de 2003, homens-bomba atacam quatro entidades judaicas, em Casablanca, e realizam um quinto ataque contra o consulado espanhol. Nenhum judeu ficou ferido nos incidentes, por ser Shabat, não havia judeus nos locais atingidos, mas 29 muçulmanos perderam a vida. O rei Mohammed VI visitou o local de um dos atentados, no próprio dia. E, como demonstração de apoio à comunidade judaica, o governo organiza uma grande manifestação pelas ruas de Casablanca, na qual o Monarca reafirma a tradicional proteção de sua família aos judeus marroquinos.
Protegidos pelo Rei, por volta de 6 mil judeus vivem atualmente no Marrocos, sendo que quase todos em Casablanca. Há pequenas comunidades judaicas em Rabat, Marrakesh, Meknés, Tânger, Fez e Tetuan. Apesar de seu número reduzido, os judeus marroquinos continuam tendo importante papel na vida econômica e política do país. Merece destaque o fato de ser judeu um dos principais assessores do Rei, André Azoulay. Outro aspecto notório é o de que as escolas judaicas e as sinagogas, espalhadas pelo país, recebem subsídio do governo. O Marrocos tornou-se um local de grande interesse turístico para os judeus de todas as partes do mundo, alguns em busca da milenar e fascinante tradição judaico-marroquina; outros, para zorear, ou seja, visitar os túmulos dos Tzadikim, e lá invocar pelas bênçãos e orientações divinas - um costume de grande significado entre nossos irmãos marroquinos, de todas as épocas.
Bibliografia:
Stilman, Norman, The Jews of Arab Lands in Modern Times, The Jewsih Publication Society, N.Y.
Mann, Vivian B, Morocco: Jews and Art in a Muslim Land, Merrell Publishers, Catalogo da exposição do Jewish Museum de New York Artigo publicado na revista Kountrass, L'histoire des Juifs au Maroc, outubro de 2006