Os preparativos de Pessach começam bem antes da noite do Seder. Enquanto suas leis são mandamentos bíblicos e, portanto, permanecem inalterados desde a saída dos judeus do Egito, as várias comunidades judaicas espalhadas pelo mundo desenvolveram, no decorrer dos séculos, diferentes hábitos e costumes para preparar a celebração. Hoje, mesmo vivendo em outros países, muitas dessas tradições continuam a ser seguidas.
Polônia
Na noite anterior ao primeiro Seder, como parte da tradição chassídica a Busca do Chamêts era feita com uma pena de galinha, utilizada para "varrer" as migalhas de Chamêts, para dentro de um saco especial, que era queimado no dia seguinte. Antes da busca, a dona da casa costumava espalhar, nos diferentes cantos do lar, dez pedacinhos de pão embrulhados em papel, para que fossem encontrados com maior facilidade.
Hungria
Os Rebes chassídicos ficavam na porta de suas casas, na tarde anterior ao Seder, distribuindo Matsá Shmurá redonda e feita à mão para cada um de seus chassidim e, ao entregá-la, desejavam-lhes um Pessach casher e feliz. Os chassidim consideravam essa Matsá abençoada.
Rússia
Em inúmeras comunidades era costume, na véspera de Pessach, assar durante uma cerimônia especial as Matsot Mitsvot. Todos os líderes comunitários e os rabinos chassídicos participavam do ato e, enquanto recitavam o Halel, os Salmos de Louvor, cantavam e dançavam.
Já a Busca do Chamêts era feita com a ajuda de um pedaço de tecido, uma colher de madeira e uma pena de galinha. Em cada lar, o Chamêts encontrado era embrulhado em um tecido e pendurado em um local bem alto da casa - por exemplo, no lustre - até o dia seguinte, quando era, então, queimado. A participação das crianças na Bedicat Chamêts era fundamental, pois, além de cumprir a mitsvá, divertiam-se.
Etiópia
Os judeus etíopes chamavam a Festa de Pessach de "Fasika" e, em sua homenagem, todo o Chamêts, principalmente a cerveja, era queimado ou jogado fora. Era costume também quebrar a louça de barro utilizada ao longo do ano e fazer uma nova em honra de Pessach.
Era hábito entre os judeus etíopes jejuar parcialmente, alimentando-se apenas de pão torrado, em 11, 12 e 13 de Nissan, os três dias que antecediam Pessach. Comemoravam desta forma os três dias que os Filhos de Israel andaram pelo deserto até D'us lhes enviar o maná. E, no dia 14, jejuavam completamente para se lembrar dos dias da amarga escravidão no Egito.
Índia
Em Cochin não se comia pão o ano inteiro e o arroz era o alimento básico da população. Porém, os judeus assavam pão no Shabat e nos dias de festas, em honra destes dias sagrados. Em Pessach, assavam-se Matsot em fornos especiais. Como combustível, nos fornos, queimavam os galhos usados para cobrir as Sucás e as palmeiras do Lulav, da última festa de Sucot. Isto era feito para ligar uma mitsvá à outra.
Iêmen
Na noite do 13º dia de Nissan, as crianças de cada família competiam entre si para ver quem teria o privilégio de tirar de poços ou de riachos mayim shelanu, ou seja, "a água que repousou", usada para assar as Matsot. Na véspera do dia 14 de Nissan, logo após as preces, os homens faziam a Busca do Chamêts e o queimavam no dia seguinte. Assavam-se Matsot antes de cada refeição, à exceção do Shabat e Yom Tov. Em alguns lares judaicos, havia o costume de que oito mulheres participassem da produção de Matsot: a primeira despejava água na tigela da farinha; a segunda amassava a massa; a terceira a dividia em três porções; a quarta abria a massa até que ficasse bem fina; a quinta acendia o forno; a sexta colocava as Matsot no forno; a sétima as retirava; e a oitava contava os minutos, pois freqüentemente não havia relógio.Todo o processo era muito rápido, não havendo perigo de que a massa fermentasse.
Afeganistão
A preparação para Pessach começava logo depois de Purim. As mulheres ficavam sentadas durante horas a fio, com bandejas enormes sobre os joelhos, selecionando e limpando com muito cuidado o arroz a ser consumido durante Pessach. Para os judeus afegãos, Pessach sem arroz não seria Pessach!
Era costume toda a família participar do preparo da farinha utilizada para as Matsot. Todos ajudavam a encher louças novas de barro com água retirada dos poços ou rios. Esta água era filtrada com uma espécie de gaze branca e colocada num jarro. Utilizava-se um pano limpo para tampá-lo, colocando-se uma faca de ferro sobre o tecido para prevenir espíritos impuros de contaminar a água. O saco de farinha e o jarro de água eram, então, entregues pelos membros da família aos padeiros, que preparavam rapidamente as Matsot, assando-as em fornos que só eram utilizados em Pessach e pertenciam às famílias mais abastadas da comunidade.
Bukhara
Os judeus de Bukhara costumam comer Matsá Shmurá durante todos os dias de Pessach. Havia antigamente também o costume de abater um carneiro, às vésperas da festividade. As melhores partes eram distribuídas entre os mais necessitados e o rabino da comunidade. As famílias que não tinham recursos para comprar um carneiro uniam suas economias e compravam um animal, em conjunto.
Iraque
Habitualmente cada família assava suas próprias Matsot. Assavam dois tipos diferentes de Matsá - as do Seder, chamadas de sedarim, eram feitas na própria véspera, enquanto as dos demais dias da festa eram preparadas alguns dias antes do início de Pessach.
Em Bagdá costumava-se usar, na Busca do Chamêts, um prato com um pedaço de pão, uma faca e sal. Enquanto a faca era usada para verificar todas frestas e buracos da casa para que não sobrasse sequer uma migalha de Chamêts, o sal servia para proteger contra espíritos impuros.
Turquia
Manter os restos da velas na chanuquiá desde o final de Chanucá até Pessach era um dos costumes na Turquia. As velas eram usadas na véspera de Pessach para queimar o Chamêts, fazendo-se, assim, a ligação entre as mitsvot.
Tunísia
Era costume cada família trazer no dia 13 de Nissan um shochet para abater um carneiro e, em seguida, como símbolo de proteção, colocar a palma da mão no sangue e imprimi-la na parede externa. O costume tem sua origem no fato de que, no Egito, D'us ordenara aos judeus que abatessem um cordeiro como Sacrifício e aspergissem o sangue nas portas de suas casas. Assim o Anjo da Morte "passaria por cima" de suas casas e os pouparia da décima e última praga que provocou a morte dos primogênitos egípcios.
Marrocos
Os preparativos para Pessach começavam logo após Purim. Em várias comunidades as mulheres pintavam as casas, os móveis, as portas e as janelas de branco. O vinho casher le-Pessach já estava pronto desde Chanucá. Além do vinho, era preparado o arak, chamado de machya, em árabe marroquino, feito de anis, uma das bebidas favoritas da população.
Em cada bairro havia um forno público para assar as Matsot, chamado al fran, e cada família reservava com antecedência uma data específica para preparar as suas. No dia marcado, vizinhos e parentes iam ajudar a família e o preparo da Matsá tornava-se uma grande festa. Um prato especial, chamado "Sechiná", era servido aos convidados.
No Marrocos, os judeus confeccionavam as Matsot redondas, porque na Torá está escrito que "os judeus faziam Ugot Matsot", ou seja, "bolos de Matsá". Durante a Busca do Chamêts havia os que colocavam nos cantos da casa, além dos pedaços de pão embrulhados em papel, também pedaços de fígado assado na brasa. O dono da casa, com uma tigela na mão, coordenava a busca. No dia seguinte, fazia-se uma fogueira onde o Chamêts era queimado. As crianças dançavam e cantavam em volta desta fogueira.
Argélia
Além de se assar a Matsá Shmurá e as Matsot para o consumo durante os dias de Pessach, era costume também fazer uma Matsá Shmurá na forma de yad chamsa (mão) e pendurá-la no quintal durante o ano inteiro, como proteção contra o mau-olhado.
Na cidade de Tlemcen, o 14º dia de Nissan era chamado leil a-ross, que significa "noite das cabeças". Todos os moradores da região deveriam comer o mesmo prato - cuscuz e sopa feita da cabeça do gado.
Síria-Libano
Os preparativos para Pessach, na Síria e no Líbano, se iniciavam logo no dia seguinte a Purim. Começavam pelo arroz que seria consumido durante os 8 dias da festa. A seleção e limpeza do arroz para ver se havia algum grão de trigo era um trabalho que requeria grande cuidado. Antigamente era comum ver as donas-de-casa sentadas com imensas bacias, escolhendo duas vezes e limpando quilos e quilos de arroz, que depois eram armazenados em vidros hermeticamente fechados.
Na semana que antecede Pessach, a casa era revirada ao avesso, todos os cantos eram cuidadosamente examinados e limpos de qualquer traço de Chamêts. A conversa das mulheres só girava em torno desta limpeza. Geralmente os quartos eram limpos de um em um. O drama era quando os filhos esqueciam e, por descuido, levavam algum alimento Chamêts para um quarto que já havia sido limpo! Então, tudo devia ser refeito. Nas cozinhas casherizadas para Pessach, deliciosos doces de amêndoas, damascos e pistaches eram confeccionados para serem consumidos durante toda a festividade. E em todas as casas sentia-se, de longe, o doce perfume da água de rosas. Na véspera de Pessach, na manhã que antecede o Seder, todos os primogênitos iam à sinagoga para as orações e, em seguida, participavam da leitura de um tratado do Talmud para se isentar do Jejum dos Primogênitos. Eles tomavam o vinho do Kidush. Muitos pais levam para casa um copo de vinho para dar ao primogênito que ainda fosse muito pequeno para ir à sinagoga. Quando o primogênito ainda era bebê, o pai costumava molhar seu dedo no vinho e colocá-lo na boca do filho.
Bibliografia
Shkalim, Esther, A Mosaic of Israel's Traditions, Unity Through Diversity, Devorah Publishing Company