Sucot, festa de sete dias que se inicia no dia 15 do mês judaico de Tishrei, celebra a proteção que D’us ofereceu ao Povo Judeu durante sua jornada de 40 anos a caminho da Terra Prometida. Em nossas orações, nos referimos a Sucot como Zman Simchateinu – “Época de nosso júbilo” – porque o tema da festa é o amor Divino por nós e Sua preocupação com nosso bem-estar.

O nome dessa festividade, Sucot, literalmente significa “cabanas”. Alguns comentaristas explicam que a Torá nos ordena habitar nas Sucot durante a festividade para relembrar as tendas nas quais o Povo Judeu habitou durante os longos 40 anos em que viveram no deserto, e que lhes deu abrigo e proteção. Outros afirmam que as cabanas nas quais habitamos durante a festa de Sucot simbolizam as milagrosas Ananei HaKavod, as Nuvens de Glória, que conduziram, abrigaram e protegeram os Filhos de Israel durante aqueles anos. Quer o nome Sucot se refira às tendas, quer às Nuvens de Glória ou a ambas, trata-se de uma festa que recorda a proteção e o abrigo provido por D’us ao Povo Judeu no Deserto de Sinai.

O Gaon de Vilna pergunta: se o tema de Sucot é a celebração da proteção de D’us aos judeus após o Êxodo do Egito, por que razão essa festa cai no mês de Tishrei e não em Nissan – mês em que celebramos Pessach? E ele responde que se Sucot comemora as Nuvens de Glória – uma visão aceita por Rashi em seu comentário no Chumash –, a data de 15 de Tishrei para o início da festividade está correta. E explica: ainda que as Nuvens da Glória tenham acompanhado o Povo Judeu na saída do Egito, elas desapareceram após o pecado do Bezerro de Ouro. Somente quando D’us concordou em novamente residir em meio ao Povo Judeu e se iniciou o trabalho da construção do Mishkan, o Tabernáculo, as Nuvens voltaram.

A cronologia dos eventos é a seguinte: em Yom Kipur, dia 10 de Tishrei, D’us perdoou nosso povo pelo pecado do Bezerro de Ouro e concordou em voltar Sua Presença ao nosso meio, no deserto. Naquele mesmo dia, Moshé desceu do Monte Sinai trazendo as Segundas Tábuas e informou ao povo sobre a ordem de construir o Mishkan. No dia seguinte, dia 11 de Tishrei, Moshé ordenou ao Povo Judeu que trouxesse os materiais para a construção do Tabernáculo. Eles o fizeram durante os dois dias seguintes (v. Êxodo 36:3). No 14o dia de Tishrei, Moshé disse ao povo que não mais trouxesse material para o Mishkan. E finalmente, em 15 de Tishrei, começaram a construir o Tabernáculo. Foi então que as Nuvens de Glória retornaram. Como Sucot também celebra as Nuvens de Glória que abrigaram nosso povo no Deserto do Sinai, faz todo o sentido que essa festa se inicie em 15 de Tishrei – data em que esse abrigo Divino sobrenatural voltou a proteger o Povo Judeu, permanecendo com eles durante sua longa jornada pelo deserto.

As Quatro Espécies – Arbaat HaMinim

Os dois mandamentos principais da festa de Sucot são habitar na Sucá e segurar as Quatro Espécies.

O Midrash encontra muitos simbolismos no mandamento das Quatro Espécies. Um deles é o seguinte: o Etrog (cidra amarela ou citrus medica) se parece ao coração; o Lulav (folha de palmeira), à coluna vertebral; o Hadass (murta), aos olhos; e o Aravá (ramo de salgueiro), aos lábios. Ao utilizar as Quatro Espécies em conjunto, estamos simbolizando a necessidade que temos de fazer bom uso de nossas faculdades a serviço de D’us.

Lulav

O Midrash compara o Lulav à coluna vertebral devido a seu comprimento e formato. Chama a atenção o fato de que a bênção que recitamos ao cumprir o mandamento das Quatro Espécies apenas mencione o Lulav. Não mencionamos nenhuma das outras três espécies nessa bênção. Isso indica que, de certa forma, o Lulav é a espécie destacada.

O Lulav lembra a coluna vertebral, tão importante para o corpo humano já que sem ela, cérebro e corpo não se poderiam comunicar. A coluna é o caminho para os impulsos do corpo ao cérebro e vice-versa. Junto com o cérebro, a coluna vertebral controla as funções do corpo humano, inclusive seu movimento e comportamento.

O Lulav nos transmite várias lições. Uma delas é a importância de um relacionamento saudável entre o cérebro e o restante do corpo. Nossos Sábios ensinam que se o ser humano deseja ser justo e íntegro e viver uma vida com moralidade e propósito, sua mente deve comandar seu corpo. A racionalidade deve prevalecer sobre nossos instintos e impulsos. A sabedoria deve ditar nosso comportamento.

Hadass

As folhas do Hadass, a murta, se parecem com o olho humano. Essa espécie nos ensina o quão importante é ver os outros com um olhar bondoso e generoso. As obras sagradas do Judaísmo usam o olho como metáfora para descrever as percepções humanas, os sentimentos e desejos em relação aos demais. Por exemplo, o Ayin HaRá, o “olho gordo”, é um famoso conceito que denota inveja e ciúme, e que, como ensina o Talmud, é um fenômeno real – veículo de poder espiritual que pode afetar a vida de outras pessoas. Por outro lado, ter um “olhar bondoso” significa desejar o bem dos demais e julgá-los favoravelmente.

Muitas pessoas de boa índole podem ser dominadas por sentimentos de ciúmes, inveja e ressentimento ou mágoa. O Ayin HaRá, infelizmente, é um fenômeno comum entre os seres humanos. Além do mais, temos a tendência de julgar erroneamente aqueles de quem não gostamos. É comum não darmos aos outros o benefício da dúvida.

Quem não combate a inveja e o ciúme e é rápido em julgar os demais deve ter em mente que a energia espiritual negativa se volta contra quem a carrega. O Talmud ensina que os Céus julgam as pessoas da mesma forma como esta pessoa julga os demais. Quem julga os outros favoravelmente é julgado também favoravelmente pelos Céus; e o oposto também é verdadeiro. De forma semelhante, o Baal Shem Tov, mestre da Cabalá e fundador do Movimento Chassídico, ensinava que “um suspiro emitido em virtude da dor de um outro rompe todas as barreiras impenetráveis dos acusadores celestiais. E quando a pessoa se alegra com o júbilo de seu amigo e o abençoa, ela é tão querida a D’us e por Ele aceita como as preces de Rabi Yishmael, o Sumo Sacerdote, no Kodesh HaKodashim”. Em outras palavras: o Altíssimo está mais aberto às preces daqueles que sentem a dor de outras pessoas e se alegram com a felicidade e o sucesso delas.

Aravá

As folhas alongadas do Aravá se parecem com os lábios. Os ramos do salgueiro nos transmitem um dos mais sábios ensinamentos do mais sábio dentre os homens, o Rei Salomão, que escreveu em seus Provérbios: “A vida e a morte estão sob o poder da língua...” (Provérbios 18:21).

Nossos Sábios ensinam que uma das razões para a Torá usar a metáfora da fala para descrever a Criação Divina do Universo é mostrar que as palavras podem construir mundos. No entanto, podem também os destruir. Uma ou outra palavra errada, mesmo se dita, por vezes, de forma descuidada, pode destruir um casamento, uma antiga amizade, o bom nome de uma pessoa e a reputação e solidez de uma empresa. Palavras maldosas já destruíram muitas esperanças, sonhos e vidas. Palavras maldosas já resultaram em guerras e genocídios.

Ensina o Talmud que não há pecado maior do que o de Lashon HaRá – “a má língua”. Aos olhos da Torá, assassinar um caráter ou assassinar uma pessoa são atos que guardam incrível semelhança.

Por outro lado, palavras que expressam sabedoria e bondade têm o poder de erguer vidas e mundos – criando novas realidades. Uma palavra animadora pode curar um coração ferido e restaurar uma alma desprovida de esperança; pode instilar fé e coragem; pode levar a pessoa a seguir seus sonhos e realizar grandes feitos; pode restaurar relacionamentos rompidos e construir novos. Não surpreende o fato de que alguns dos principais mandamentos do Judaísmo sejam cumpridos com palavras: a leitura e o estudo da Torá e a recitação de orações e bênçãos, para citar apenas alguns.

O Aravá nos ensina quedevemos escolher com muito cuidado nossas palavras. A pena é de fato muito mais potente do que a espada – assim como o são as palavras que saem de nossos lábios.

Etrog

A Torá se refere ao Etrog, a cidra amarela, como um belo fruto. Entre as Quatro Espécies, é o que mais atrai por sua aparência. Por seu formato, esse fruto simboliza o coração.

O Etrog nos ensina que a beleza verdadeira está no coração. Muitas pessoas possuem forte coluna vertebral (Lulav) – são sábias e de conduta reta; um olhar bondoso (Hadass) – não guardam rancor, inveja ou ciúme dos demais; e bons lábios (Aravá) – não falam mal dos outros. Mas, apesar disso, não têm coração. Não fazem mal a ninguém, mas tampouco fazem o bem. Não guardam ódio ou falam mal dos outros, mas não se preocupam com ninguém. Falta-lhes amor, calor humano e compaixão.

O Etrog é o fruto da beleza porque não há nada mais atrativo no ser humano do que um bom coração. Bem verdade, o amor não cura todos os males e as boas intenções não substituem a sabedoria. Mas se em nosso mundo houvesse mais corações bondosos, viveríamos em um lugar bem mais bonito.

No Pirkei Avot, cujas palavras deveriam ser gravadas no coração e na mente de todo judeu, ecoa o seguinte ensinamento atemporal: “(Rabi Yochanan) disse a (seus alunos): Procurem saber qual o melhor traço de caráter que a pessoa deve possuir. Respondeu Rabi Eliezer: Um olhar bondoso. Disse Rabi Joshua: Ser um bom amigo. Disse Rabi Yossi: Ser um bom vizinho. Disse Rabi Shimon: Ser alguém que se preocupa com o resultado de suas ações. Disse Rabi Elazar: Ter um bom coração. (Rabi Yochanan) lhes respondeu: Prefiro as palavras de Elazar, filho de Arach, às vossas, pois suas palavras incluem todas as vossas” (Avot 2:10).

BIBLIOGRAFIA

Interlinear Chumash – The Schottenstein Edition – Vayikra – Artscroll Mesorah