O Talmud afirma que o simples fato de o povo de Israel perceber a necessidade de se sentir humilde em Rosh Hashaná, faz com que o ano seja muito farto e abençoado. É vital o sentimento de humildade e reverência durante as orações de Rosh Hashaná.

O Talmud nos ensina que "uma única moeda no cofre faz barulho". Porém, quando o cofre está cheio, as moedas não soam ao serem chacoalhadas. O que nossos sábios querem ensinar-nos ao observar este fenômeno natural?

Quando o cofre está vazio, com poucas moedas, é possível escutar o ruído. Isto significa que, quando alguém não possui dentro de si muita sabedoria e nem qualidades especiais é justamente esta pessoa quem faz mais barulho. Porém, aquele que está repleto de virtudes, dificilmente ouvimos algo a seu respeito, pois a humildade que o acompanha faz com que seja bem discreto. Quanto maior e mais importante é a pessoa, mais humilde ela tem que ser.

A Torá designa o maior entre os profetas, Moshe Rabenu, como sendo o mais humilde de todos os seres humanos.

Não podemos elogiar alguém que não tem propriedades particulares como sendo humilde. Se o indivíduo não é sábio, nem possui riquezas materiais, não tem habilidades ou dons especiais, então, de que poderá se orgulhar? Porém, alguém que possui todas estas virtudes e que normalmente pode orgulhar-se de ser alguém especial, mas que, apesar de tudo, mantém-se humilde, este sim deve ser realmente louvado. Assim, Moshe Rabenu tinha todas as qualidades que um ser humano pode almejar. Contudo, soube manter-se humilde.

Existe o costume de nos curvarmos em certos trechos das rezas. O Talmud afirma que toda pessoa tem que se curvar em quatro diferentes partes da Amidá (a oração que é lida de pé e em silêncio). Porém, diz o Talmud, o Cohen Gadol - Sumo Sacerdote - tinha que se curvar a cada bênção; e o Rei de Israel, quando começava a sua oração, fazia sua reverência e só levantava no término da reza. Isto porque quanto maior a pessoa, mais humilde tem que ser. Muitas vezes é necessário exigir isto do ser humano através de atos corporais.

A humildade é uma virtude que aprendemos do próprio Todo-Poderoso. Ao se revelar no Monte Sinai no momento da outorga da Torá, D'us escolheu o Monte Sinai, a mais baixa entre todas as montanhas.

Os benefícios que podem resultar desta grande virtude são inúmeros. Na época do Templo, quando alguém trazia uma oferenda ou um sacrifício, era recompensado. Porém, o humilde, pela sua magnitude e somente pelo fato de ser humilde, é considerado como se estivesse realizando todos os sacrifícios ao mesmo tempo.

O Talmud afirma que a humildade atrai a vitalidade. Por quê? A Torá faz uma abordagem sobre as leis de pureza que existiam naquela época. Umas manchas poderiam aparecer nas paredes da casa e, neste caso, o Cohen - Sacerdote - era convidado para verificar se as manchas eram consideradas impuras. Se assim fosse, a casa inteira era considerada impura. Diz o Talmud que o Cohen tinha que verificar as manchas à luz do dia. Se a casa estava escura e não possuía janelas, era proibido abrir novas janelas para poder verificar as manchas. Assim, já que era impossível determinar o tipo de chagas, a casa era declarada pura. A casa escura conseguiu alcançar sua pureza por ser humilde e sem muita luminosidade.

O livro Shaarei Teshuvá afirma que o orgulho pode levar a pessoa a cometer vários erros e aumenta a intensidade da inclinação para o mal. A Torá diz: "Pois teu coração irá se orgulhar e te esquecerás do Eterno teu D'us que te fez sair da terra do Egito". Orgulhoso ao ponto de se esquecer do Todo-Poderoso? A Torá não estaria exagerando um pouco? Não!

A natureza do ser humano é feita de tal maneira que quando ele se concentra e pensa em algo vital, não pode desligar-se daquilo e nem consegue dar importância a assuntos menos necessários. Quando alguém acha que merece tudo do bom e do melhor, um carro mais bonito, uma casa mais confortável, roupas de luxo e assim por diante, apesar de não cometer nenhum erro ao desejar tudo isto, estará degradando-se. Pois não terá tempo para pensar nas mitzvot que, a seu ver, não são consideradas algo vital e assim ele chegará a esquecer-se do Eterno. E é esse mesmo o significado da afirmação do Talmud: "D'us diz ao orgulhoso, Eu e você não podemos morar juntos".

Dizem nossos sábios que aquele que é indulgente e humilde será perdoado. Por quê? Pois aquele que pecou, sem dúvida, foi caprichoso ao realizar o pecado. Depois do erro, ao se arrepender, cedeu ao desejo de realizar a vontade do Criador e logo será perdoado. Assim como os seres humanos agem com os seus semelhantes, da mesma forma o Todo-Poderoso atua conosco. Quando alguém foi oprimido, porém não se vinga e sim perdoa, então, com esta mesma atitude o Todo-Poderoso age, também tornando-se misericordioso e aceitando o perdão. Porém, se o indivíduo não perdoar, a lógica diz que se o ser humano não é capaz de perdoar, por que o Todo-Poderoso deveria perdoar nossos erros?

Os sábios do Talmud nos surpreendem com uma afirmação aparentemente injusta em relação aos médicos. Tov shebarofim Leguehinom - O melhor entre os médicos irá ao inferno.

Muitas personalidades, além de serem grandes líderes judaicos e renomados rabinos exerciam também a medicina como profissão. É desnecessário citar como exemplo Maimônides, que se destacava nesta área e atuava como médico particular do sultão. Por que, então, esta atitude em relação a estes que D'us designou como sendo os mensageiros para trazer a cura aos enfermos?

Mais uma vez a afirmação talmúdica não é evidente. Por que somente o melhor entre os médicos merecerá tal castigo e não qualquer outro médico?

Nossos sábios queriam ensinar-nos uma lição de moral que, na realidade, serve para todos e não apenas para os médicos.

Geralmente um médico simples, não muito famoso, sabe de seus limites e reconhecerá logo sua falha quando não acertar o diagnóstico. O problema surge quando o médico é conhecido como o melhor. Como um tal profissional reagirá numa situação que ele desconhece? Será que irá rebaixar-se em consultar outro colega ou irá receitar algum remédio errado ou um tratamento inadequado ao paciente só para não comprometer a sua reputação? Nestes momentos críticos o orgulho não deixa a pessoa abaixar a cabeça e faz com que ela pense que é a melhor, não precisando, portanto, de conselhos ou orientações.

Por isso nossos sábios concluíram que o melhor entre os médicos irá ao inferno... Aquele que acha que é o melhor e que não necessita da opinião dos outros colegas, este, sem dúvida causará muitos danos físicos e morais a seus pacientes. Portanto, será castigado pela sua atitude errada.

O ser humano é orgulhoso por nascença. Esta é a essência de sua natureza. São necessários anos de estudo e de auto-aprimoramento para alcançar a virtude da humildade. É muito comum uma criança ser voluntariosa. A criança chora e se enerva quando a sua vontade não é realizada ou quando é contrariada. Isto é, sem dúvida, sinal de orgulho. "Como?" - a criança resmunga, "eu pedi tal coisa, eu quis aquilo e não estão-me atendendo, como isto é possível?" Quando uma criança é paciente e indulgente, é sinal que não é orgulhosa e que entende que talvez não mereça ver realizado o seu pedido.

Aliás, isto pode servir de teste e de lição para todos. Qualquer um que seja paciente e não se enerve facilmente, demonstra ser uma pessoa indulgente e humilde. Ele não irá ficar descontrolado ao saber que não realizaram sua vontade, pois entende muito bem que talvez não seja possível atender seu pedido.

Que possamos assimilar estes ensinamentos e ser dignos de um novo ano repleto de saúde, alegria e muitas realizações!

Rabino Avraham Cohen