Shimon, o Justo, um dos últimos participantes da Grande Assembleia, afirmava: “Sobre três coisas se sustenta o mundo: o estudo da Torá, o serviço Divino e os atos de bondade”.   (Pirkei Avot).

Na obra Pirkei Avot, A Ética dos Pais, livro sagrado de sabedoria e ética judaica, consta que o mundo é sustentado por três pilares: a Torá; a Avodá, o serviço no Templo Sagrado; e Guemilut Chassadim, os atos de bondade. Cada um desses pilares foi personificado por um dos Patriarcas do Povo Judeu – Avraham, Itzhak e Yaakov – e é por esse motivo que eles são chamados de “os pais do mundo”. Avraham, que amava D’us e os homens, representa Guemilut Chassadim; Itzhak, que se dispôs a ser sacrificado no Monte Moriá, onde foi construído o Templo Sagrado, personifica a Avodá; e Yaakov, o homem que “habitava nas tendas”, dedicando seus dias ao estudo da Sabedoria Divina, simboliza a Torá.

O conceito dos três pilares que sustentam o mundo e a invocação do mérito dos três Patriarcas, que os personificam, é ecoado durante os Yamim HaNoraim, “os Dias Temíveis”, que se iniciam em Rosh Hashaná e terminam ao final de Yom Kipur. Nossos Sábios ensinam que há três formas do homem reverter um decreto Celestial não favorável: a Tefilá, a Teshuvá e a Tzedacá.

A Tefilá, palavra hebraica que é comumente traduzida como “oração”, corresponde à Avodá –  o serviço no Templo Sagrado.  O Talmud define a Tefilá como o “serviço do coração”. Na ausência do Templo de Jerusalém – quando estamos impossibilitados de desempenhar o serviço diário dos sacrifícios, que lá eram oferecidos – empregamos palavras para servirem como substitutos para as oferendas. O motivo pelo qual a Tefilá é um substituto provisório, mesmo que imperfeito para o serviço no Templo Sagrado, a Avodá,  é que os sacrifícios serviam para aproximar o homem de D’us. O próprio termo Corban, “sacrifício”, advém da palavra Karov, “próximo”, revelando que o verdadeiro propósito dos sacrifícios era ligar o homem a seu Criador.

A Teshuvá está claramente associada à Torá, pois, em hebraico, Teshuvá literalmente significa “retorno”, isto é, a volta a D’us. A Torá é a interface entre um judeu e D’us; na ausência dela, a Teshuvá não é possível.

A palavra Tzedacá, quando usada em seu sentido mais amplo, significa a prática de atos de bondade, Guemilut Chassadim. Acredita-se, erroneamente, que a Tzedacá é feita apenas com dinheiro. Na realidade, toda vez que um ser humano faz um ato de generosidade ou bondade com outro, seja no âmbito material ou espiritual, está fazendo Tzedacá.

O motivo básico pelo qual a Torá, a Avodá e Guemilut Chassadim são os três pilares do mundo, é que são três mandamentos Divinos que compreendem todos os outros. Mas há uma explicação mais profunda: a razão pela qual esses três pilares mantêm a existência do Universo é que fazem paralelo aos três tipos de relacionamentos humanos: entre o homem e D’us, entre o homem e os outros seres humanos e entre o homem e ele próprio.

A Tefilá, que desempenha função similar a do serviço no Templo Sagrado, é muito mais do que  a enunciação de palavras sagradas: é uma ligação com o Infinito.  O propósito da reza não é meramente fazer pedidos a D’us,  e sim, é uma forma de se conectar  a Ele. Por meio da Tefilá, o homem, assim como a fumaça dos sacrifícios, ascende aos Céus e se liga à  Fonte de tudo, à Vida de toda a existência. Ao se conectar a D’us por meio da Tefilá, o ser humano se torna um canal para transmitir a plenitude Divina para a Terra. É por esse motivo que o mandamento da Tefilá vale para todos os dias do ano, independentemente das necessidades ou desejos de quem a faz. 

A palavra Teshuvá é frequentemente mal traduzida e mal compreendida. Não significa arrependimento ou remorso, e sim, o retorno do homem à sua essência. A Teshuvá está necessariamente interligada com a Torá, pois essa obra de Sabedoria Divina é o manual que permite ao homem maximizar o potencial de sua alma. A Torá foi dada para o nosso bem: proíbe tudo que faz mal à nossa alma e pede para que pratiquemos atos que fortalecem nossa essência e nossa ligação  com D’us. Quando o ser humano comete algum pecado ou transgressão, ele está ferindo sua própria alma. O pecado não prejudica o Infinito, que é intocável, e sim a essência daquele que o cometeu. Por meio da Teshuvá é dada ao ser humano a oportunidade de retificar qualquer mal que tenha feito a si próprio.

O conceito de Tzedacá, o mais importante mandamento da Torá, também é mal compreendido. Na realidade, não significa caridade – significa justiça. A própria etimologia da palavra ensina que não há nada mais justo do que  alguém contribuir para o bem estar de outros. Nossos Sábios ensinam que aquele que pratica a Tzedacá se torna um canal da benevolência Divina no mundo: de certa forma, um parceiro de D’us em sustentar Seu mundo e Suas criaturas.

Durante os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, D’us julga todos os seres humanos e o mundo como um todo. Os livros místicos ensinam que em Rosh Hashaná, o Rei do Universo toma uma decisão crucial: se o mundo, e todos que habitam nele, têm mérito para existir por mais um ano. Ao fortalecermos os três pilares que sustentam o universo – a Torá (Teshuvá), a Avodá (Tefilá) e Guemilut Chassadim (Tzedacá), torna-se mais fácil “convencer” o Criador de que este mundo no qual habitamos deve ser mantido.

Todo judeu, como filho dos Patriarcas que somos, deve ser uma personificação dos atributos simbolizados por Avraham,  Itzhak e Yaakov: a Torá, a Avodá e Guemilut Chassadim. Ao fortalecer nossa relação com D’us por meio da Tefilá, ao retornamos à nossa essência por meio da Teshuvá, e ao promover atos de bondade e generosidade por meio da Tzedacá, compelimos D’us a não apenas renovar a Criação, mas a decretar e selar, para todo o Povo Judeu e para toda a humanidade, um ano bom e doce, com bênçãos abundantes, materiais e espirituais.

Bibliografia:
Rabi Menachem Mendel Schneerson, Likkutei Sichot
Rabino Chefe do Reino Unido Lord Sacks, Jonathan,Torah Studies - adapted from the works of the Lubavitcher Rebbe, Kehot Publication Society