A ameaça de um 'Holocausto silencioso' ronda o povo judeu neste século 21.

Projeções apresentadas por demógrafos israelenses desenharam um cenário pessimista e outro otimista para 2050: a população judaica mundial poderá cair para 12 milhões de pessoas, do atual patamar de 13,2 milhões, ou se expandir e atingir a marca de 18 milhões.

Para se evitar essa “perda” de 6 milhões de judeus, especialistas como o renomado demógrafo Sergio Della Pergola e o presidente da Agência Judaica, Sallai Meridor, propõem ações que englobam, por exemplo, o fortalecimento da educação judaica na Diáspora, a fim de fazer frente ao fenômeno do casamento misto, um dos principais freios ao crescimento da população judaica no planeta.

O cálculo para 2050 foi divulgado por Sallai Meridor. “Ao final dos próximos 50 anos, a população judaica no mundo poderá variar de 12 milhões a 18 milhões”, observou ele. “E neste século 21 o povo judeu terá a capacidade de decidir sobre seu próprio destino”, continuou Meridor, referindo-se à necessidade de intensificar ações que promovam a manutenção de valores judaicos. Segundo o presidente da Agência Judaica, se não forem tomadas medidas para fortalecer a identidade judaica e apoiar aumentos nas taxas de natalidade, o número de judeus diminuirá.

Hoje em dia, a taxa de crescimento da população judaica aproxima-se do zero, destacou Della Pergola. De acordo com seus estudos, o número de judeus cresceu 0,3% de 2000 para 2001, enquanto o índice de expansão da população mundial atingiu a marca de 1,4%. O número atual de judeus (13,2 milhões) está pouco acima do patamar de 11 milhões, registrado em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial e da barbárie nazista. Antes do Holocausto, havia 17 milhões de judeus no planeta.

Meridor e Della Pergola divulgaram as cifras durante o lançamento do projeto “Iniciativa Demografia Judaica”, que vai trabalhar como um núcleo para centralizar e padronizar diversos estudos sobre população judaica e que também vai propor estratégias aos órgãos competentes, a fim de se conseguir a expansão populacional do povo judeu. O projeto, além de ter Meridor e Della Pergola à frente, conta ainda com o vice-primeiro-ministro Natan Sharansky como um de seus comandantes e deve reunir um conselho internacional de especialistas no tema.

Della Pergola destacou, além dos casamentos mistos, as baixas taxas de natalidade na Diáspora como um dos fatores que diminuem a população judaica fora de Israel. Ela registrou, em 2001, uma queda de 0,5%, enquanto o número de judeus israelenses verificou um aumento de 1,5%. O minucioso mapeamento revela ainda que as comunidades da Diáspora apresentam um perfil “mais velho” do que a população israelense, tendência que pode ser explicada também pelo registro de uma taxa de natalidade mais elevada em Israel, onde um casal tem em média 2,6 filhos, contra 1,3 filho na Diáspora. Segundo um estudo de 1995, 27% da população judaica de Israel têm entre 0 e 14 anos, contra 17,6% na Diáspora.

No ano passado, 8,3 milhões de judeus viviam fora de Israel e 4,9 milhões, em solo israelense, segundo os dados de Della Pergola, que é pesquisador da Universidade Hebraica de Jerusalém. O demógrafo destaca o fato de que atualmente 37% da população judaica vive em Israel, e ele calcula que, entre 2030 e 2040, mais da metade dos judeus estará instalada em território israelense.

Mas, de volta ao universo dos desafios enfrentados na Diáspora, Sallai Meridor enfatizou a questão da identidade judaica. “Atualmente, apenas uma em cada quatro crianças judias na Diáspora freqüentam escola judaica”, revelou ele. “Precisamos triplicar esse número. E no século 21, o governo de Israel deve ajudar as comunidades judaicas na Diáspora a fortalecer a educação judaica sionista. Devemos aumentar a aliyah de países ocidentais, em particular da França, da Argentina e da África do Sul, sem nos esquecermos da extinta União Soviética”. Esforços como o anunciado por Meridor e Della Pergola, para ajudar a estancar a hemorragia demográfica judaica são extremamente oportunos. Na verdade, mais do que oportunos, são urgentes.


Jaime Spitzcovsky
O jornalista Jaime Spitzcovsky é diretor do site www.primeirapagina.com.br e articulista da Folha de S. Paulo. Foi editor internacional e correspondente do jornal em Moscou e em Pequim.