Quase um quarto de século antes da independência do Estado de Israel, em 1925, foi inaugurada a Universidade Hebraica de Jerusalém, então a segunda instituição de nível superior a ser fundada no país. Ao completar 90 anos, a Universidade aparece no Ranking Acadêmico Mundial das Universidades de 2014 como a primeira de Israel e a 70ª do mundo.

Oferecendo cursos em praticamente todas as áreas, desde História da Arte até Zoologia, abriga a Biblioteca Nacional de Israel. Seus pesquisadores estão na vanguarda da biotecnologia à ciência da computação, da microbiologia à energia solar e engenharia genética, passando pelas ciências humanas, sociais, estudos judaicos e direito. Atualmente, cerca de 40% de toda a pesquisa científica civil em Israel é realizada na instituição. Além dos campi situados em Jerusalém  (Har Hatsofim e Guivat Ram), possui, ainda, um campus na cidade de Rehovot.

Consagrada internacionalmente, a Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ) está, também, profundamente envolvida com a sociedade  israelense. Professores e estudantes fazem trabalhos voluntários nos segmentos social, cultural e educacional fora dos campi, comprovando, assim, a responsabilidade social da instituição em relação ao país. Servir à comunidade é um valor essencial para os alunos e docentes, independente de sua área de estudos, concretizando a visão dos fundadores de criar uma “universidade hebraica” comprometida com o país e com a excelência.

Os números são impressionantes e revelam muito do  que é a Universidade hoje: mais de mil professores,  cerca de 23 mil alunos de Israel e do exterior, sete faculdades, 14 institutos, mais de 100 mil ex-alunos,  269 Prêmios Israel (a maior láurea concedida pelo governo), nove Prêmios Wolf, 33 Prêmios EMET  para Arte, Ciência e Cultura e 89 Prêmios Rothschild, além de uma Medalha Fields. A lista de Prêmios Nobel de israelenses inclui oito laureados que passaram pela instituição ou ainda nela atuam, em diversas áreas. Possui, também, 150 acordos de cooperação com  outras universidades e 25 de intercâmbio de estudantes com 14 países.

Aos cerca de 3.800 projetos de pesquisa em andamento na UHJ somam-se 1.500 novos, a cada ano, em todos os campos do conhecimento humano, distribuídos em seus 100 centros de pesquisa. Como comprovação de sua seriedade e excelência, a Universidade recebe cerca de um terço de todos os recursos para pesquisa distribuídos através de concorrência em Israel, além de estar em primeiro lugar no recebimento de verbas internacionais. Cerca de 30% do total de candidatos a doutorado no país são alunos da UHJ e 16% de toda a pesquisa realizada pela instituição é aplicada à indústria de alta tecnologia.
Muitos dos institutos que integram a UHJ são reconhecidos internacionalmente. Destacam-se a principal Faculdade de Medicina de Israel, ligada à Organização Médica Hadassah, as faculdades de Agricultura, Nutrição e Meio Ambiente e o Instituto Rothberg para Estudantes Estrangeiros.  A instituição abriga, também, núcleos importantes como o Centro Samuel Mendel Melton de Educação Judaica para a Diáspora, que capacita educadores e elabora currículos inovadores e criativos para satisfazer a necessidade da educação moderna judaica e o Arquivo  Steven Spielberg de Cinema Judaico. A UHJ é, também, a instituição acadêmica mais importante de Israel na área de coleção, preservação e catalogação de filmes israelenses e judaicos.

Pioneiras em inúmeras áreas, as universidades israelenses têm sido a ponta de lança do desenvolvimento tecnológico israelense e, em grande parte, responsáveis pelos êxitos da indústria do país. Dentro desta filosofia, a UHJ criou, em 1964, a Yissum Research Development Company com o objetivo de ser o braço comercial da instituição, visando proteger os direitos sobre sua propriedade intelectual, além de auxiliar os seus profissionais a fazer o mesmo com as suas invenções, enquanto preserva os objetivos e interesses da UHJ. Desde a sua criação, a Universidade apoia a pesquisa aplicada, sem, no entanto, fazer desta um de seus principais objetivos.

Como parte de sua estratégia, quando a Yissum identifica uma pesquisa com potencial aplicável imediatamente cuida de proteger sua propriedade intelectual através de patentes, copyright e contratos adequados. Em certos casos, sugere a formação de uma nova empresa, as chamadas “spin-off”, para continuidade do trabalho, com a participação do cientista ou cientistas envolvidos, dando atenção também às possibilidades de atrair investimentos e parceiros. 
É importante ressaltar que a empresa recém-criada passa a receber toda a assistência da entidade, além de poder utilizar a infraestrutura acadêmica da UHJ, fato este que garante o alto nível das pesquisas  em pauta.

Ao longo das décadas, mais do que simplesmente transferir conhecimentos, as universidades formaram uma parceria com a indústria, parceria esta fundamental para as inovações que transformaram Israel em um dos países líderes no campo da alta tecnologia em diferentes setores, passando também a atrair investidores de dentro e de fora do país. Um dos exemplos do sucesso desta estratégia, entre muitos outros, é o Exelon, resultante de pesquisas da universidade e desenvolvido pela Novartis, que retarda o avanço dos sintomas da doença de Alzheimer por seis a 12 meses em mais de 50% dos pacientes.
Do sonho à realidade

Os primeiros passos para o estabelecimento de uma universidade em Eretz Israel remontam ao final do século 19. Era uma época de efervescência intelectual, com o florescimento de ideias de todos os matizes. Algumas foram abandonadas no decorrer dos anos, mas outras se fortaleceram, tomaram corpo e se concretizaram. A Universidade Hebraica de Jerusalém foi uma destas últimas.

Em uma série de artigos publicados em 1882, o rabino, professor de matemática e fervoroso sionista Zvi Hermann Shapira apresentou seus planos sobre uma universidade hebraica na terra dos ancestrais do Povo Judeu e os defendeu durante o 1º Congresso Sionista, em 1897. Mas nenhuma decisão foi tomada sobre esta questão, na época.

Em 1902, Chaim Weizmann, Martin Buber e Berthold Feivel publicaram um panfleto intitulado Eine Judische Hochschule (Uma Universidade Judia), no qual definiam os princípios para a organização de uma universidade do Povo Judeu. Em 1913, o 11º Congresso Sionista aprova a criação dessa instituição em Jerusalém e determina que o hebraico seja o idioma oficial de ensino.

No dia 24 de julho de 1918, pouco após o término da 1ª Guerra Mundial, os mandatários britânicos autorizam a Organização Sionista Mundial a colocar a pedra fundamental da universidade. Decidiu-se, então, que seriam colocadas 12 pedras em referência às 12 tribos de Israel. O local escolhido foi uma área comprada em Gray Hill, no Monte Scopus. A cerimônia oficial foi realizada ainda em 1918 e assistida por milhares de pessoas que vieram de toda a Terra de Israel e, também, do exterior, judeus e não judeus. Um momento marcado por discursos emocionantes e cheios de esperanças. Em 1923, o vencedor do Prêmio Nobel, Albert Einstein, visitou a região. Um entusiasmado defensor da iniciativa, ele proferiu uma palestra sobre a Teoria da Relatividade no Monte Scopus, a primeira conferência científica a ser realizada na recém-criada instituição.

Antes mesmo da inauguração oficial da UHJ, em 1º de abril de 1925, no local onde está instalado atualmente o Anfiteatro Rothberg, surgiam novas faculdades. Em 1924 foram abertos o Instituto de Química e o Instituto de Estudos Judaicos. Presentes ao evento de 1925, além de lideranças judaicas da diáspora, representantes do universo acadêmico mundial. Entre os oradores da noite, Lord Balfour, Sir Herbert Samuel, Dr. Chaim Weizmann, o Rabino Chefe de Israel, Rabi Avraham Yitzhak Hacohen Kook e Haim Nachman Bialik. O sonho de uma instituição acadêmica de nível superior em Eretz Israel já era um fato irrevogável.

O primeiro Conselho de Regentes da Universidade, presidido por Weizmann, incluiu personalidades como Albert Einstein, Sigmund Freud, Martin Buber, Harry Sacher e Felix M. Warburg, além de  grandes nomes da literatura e teologia, além de intelectuais e acadêmicos de renome mundial. Em 1931, a UHJ concedeu seus primeiros títulos de mestrado em artes a 13 alunos.

Ao longo da década de 1930 novos departamentos surgiam e a UHJ florescia rapidamente. Acadêmicos judeus, querendo fugir das políticas antijudaicas e do crescente antissemitismo que tomava conta da Europa, para lá iam atraídos pelo ambiente propício à pesquisa e ao desenvolvimento científico. Também cresceu o número de alunos. Muitos eram jovens judeus europeus que conseguiam autorização das autoridades britânicas para estudar na Terra de Israel.

Em 1934, mais um marco importante na trajetória da universidade: a colocação da pedra fundamental para a construção de um hospital universitário no Monte Scopus, que seria erguido pela Hadassah, a Organização de Mulheres Sionistas da América, e aberto ao público em 1939. Um ano mais tarde, foi aberta a Faculdade de Ciências. No mesmo ano, foi fundado o Departamento de Educação para Professores, o primeiro do país a oferecer treinamento para docentes. Em 1936, foi outorgado o primeiro título de doutorado.

Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, em setembro de 1939,  a cooperação entre a Universidade  e as instituições acadêmicas europeias foi interrompida.  Projetos como treinamento de profissionais da saúde para combater doenças e a produção de medicamentos e vacinas foram algumas das formas de participação da UHJ no esforço de guerra aliado.

Nos idos de 1947, a instituição já registrava um crescimento que revelava sua trajetória futura, com mais de mil alunos e 200 professores, com faculdades de Pedagogia, Ciências Humanas e Sociais, Agricultura (esta na cidade de Rehovot, em 1942), a Biblioteca Nacional Judaica, a imprensa universitária e um Centro para Educação de Adultos.
Época conturbada

O final da 2ª Guerra Mundial não significou a paz na Terra de Israel. Começava, então, a luta pelo estabelecimento de um Estado Judaico soberano em Eretz Israel. Durante a Guerra de Independência, a estrada que levava ao campus do hospital universitário, no Monte Scopus, atravessava áreas sob controle árabe, e os comboios israelenses que se dirigiam ao local eram um alvo fácil para os franco-atiradores. Em janeiro de 1948, os estudos no campus foram interrompidos, mas o hospital ainda funcionava.

Os alimentos e suprimentos começaram a escassear, no hospital,  e, em 13 de abril, um grande comboio, transportando 105 médicos com suprimentos hospitalares partiu com destino ao hospital sitiado, marcado com um “escudo vermelho”. O comandante britânico de Jerusalém assegurou aos judeus que a estrada estava segura.  O comboio seguiu escoltado por  dois carros blindados da Haganá, mas caiu vítima de uma armadilha das forças árabes na região de  Sheikh Jarrad. Os britânicos não permitiram a outros membros da Haganá de ir até o local para ajudar. Depois de muitas horas de luta,  os 78 membros do comboio estavam mortos. O Monte Scopus foi  isolado do resto de Jerusalém  e a universidade tornou-se um enclave judaico em um território hostil controlado pela Jordânia.  Um mês depois, soldados da Legião Jordaniana atacaram o Monte Scopus, mas foram repelidos.

Na primavera de 1949, após a assinatura do cessar-fogo árabe-israelense, as aulas recomeçaram, porém em áreas fora do Monte Scopus. Embora os jordanianos tivessem concordado em permitir o acesso até lá, não cumpriram o  trato e bloquearam a estrada.  A universidade continuou a funcionar temporariamente em outros edifícios de Jerusalém, sendo o mais conhecido o Edifício Terra Sancta. Os estudantes e os professores se tornaram uma parte integral da vida da cidade.

Surge um novo campus

Diante da impossibilidade de acesso a Jerusalém sob domínio jordaniano e, consequentemente ao Monte Scopus e faculdades espalhadas na região, a única opção para garantir a continuidade da UHJ era a construção de um novo campus na área controlada por Israel, o setor ocidental de Jerusalém. Assim, a área escolhida foi Givat Ram, uma região alta entre Rehavia e Beit Hakerem, e o projeto começou a ser executado no início de 1953.

Alguns anos depois foi implantado um campus de Ciências da Saúde em Ein Kerem, no sudeste de Jerusalém, em parceria com a Organização Médica Hadassah, com a construção de um novo centro médico aberto ao público em 1960, como uma alternativa ao que funcionara no Monte Scopus. Inaugurado em  1958 e fazendo parte do 10o Aniversário de Israel, no início de 1967, o novo campus, que posteriormente viria a se denominar Edmond J. Safra, já tinha várias faculdades e contava com mais de 12.500 alunos. O campus se tornou um novo polo intelectual e a movimentação estudantil deu a esta área de Jerusalém uma efervescência até então inexistente.

Com a reunificação de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, começaram os trabalhos de recuperação do campus no Monte Scopus. Em 1981, o local voltou a ser o principal campus da Universidade, que, desde então, não parou de crescer. Novos institutos foram inaugurados, novos programas criados, o número de alunos e docentes aumentou, sempre inspirados pelo ideal dos fundadores de criar uma universidade judaica comprometida com a excelência.

Esta excelência foi confirmada, uma vez mais, com a nomeação de membros de seu corpo docente ou  de ex-alunos para o Prêmio Nobel. Em 2002, o de Economia foi concedido ao professor Daniel Kahneman; em 2004, o de Física, para o professor David Gross; e o de Química para os professores Abraham Hershko e Aaron Ciechanover; em 2005, o de Economia para o professor Robert (Yisrael) Aumann; em 2006, o de Química para o professor Roger D. Kornberg; e em 2009, o de Química para a professora Ada Yonath. Em 2010, a Medalha Fields foi concedida ao Prof. Elon Lindenstrauss.

BIBLIOGRAFIA
Weill, Asher, In Pursuit of Excellence
The Story of the Hebrew University of Jerusalem