Além de abrigar o principal porto de Israel e sediar conceituadas universidades, a cidade desempenhou um papel fundamental na luta pela independência, sendo a principal porta para os refugiados que imigravam da Europa.

Localizada no norte do país, Haifa é a terceira maior cidade de Israel, estendendo-se ao longo do Mar Mediterrâneo e subindo pelas encostas do Monte Carmel. Sempre foi caracterizada pelo mar que banha seu litoral. Dizem que o nome Haifa surgiu da fusão das palavras hebraicas "Hof" e "Yafe", ou seja, "litoral lindo".

Cada metro quadrado de Israel tem uma história milenar e a região não é exceção. O rei Salomão e o profeta Isaías cantaram louvores ao Carmel, que foi palco de um dos momentos mais dramáticos da luta entre o monoteísmo dos Filhos de Israel e os cultos pagãos. Em suas encostas, o profeta Eliahu, após invocar o Eterno, consegue derrotar os sacerdotes de Baal.

Desde tempos remotos, o porto da cidade, serviu de refúgio para os que fugiam de tempestades e, mais recentemente, para levas de refugiados judeus. Nos anos que antecederam a independência do Estado de Israel, incontáveis imigrantes clandestinos desembarcaram em sua baía.Foi também neste porto que, em 1947, o navio Exodus, carregado de refugiados, foi rebocado pelas autoridades inglesas.

Por causa de suas características topográficas, a cidade, que parece erguer-se em direção aos céus, foi construída em três níveis. A parte baixa inclui a cidade velha, o porto, a parte litorânea e o centro industrial. Subindo a ladeira do monte Carmel, há o distrito de Hadar, onde se realiza grande parte dos negócios. Na parte mais alta está o distrito de Carmel, área moderna que abriga os bairros residenciais. A mudança de altitude em tão curta distância é ressaltada pelo funcionamento do único metrô de Israel, o Carmelit, que, em meros seis minutos, corta a região da área mais baixa até a mais alta, a uns 280 metros acima do nível do mar.

Com cerca de 250 mil habitantes, Haifa se caracteriza por um rico mosaico de contrastes e tradições, no qual convivem diferentes religiões, culturas e grupos étnicos. Judeus seculares, religiosos e ultra-ortodoxos vivem em paz, lado a lado com cristãos, muçulmanos, drusos e os seguidores da fé Bahai.

Apesar do povoado com o nome "Haifa" só ter surgido por volta do século III aEC, a Haifa moderna inclui vários outros assentamentos ainda mais antigos. O principal é Tel Shikmona. Povoado antiqüíssimo, na costa ao sul da atual cidade, foi o mais importante da região desde a conquista persa, em meados do século VI aEC, até a conquista árabe, ocorrida no século VII da presente Era.

Há várias especulações sobre a localização exata da Haifa antiga. Em mapas e relatos de viajantes datados da Idade Média, aparece na área identificada como Shikmona. Estudos do século XIX também sugeriam um local próximo. Hoje, porém, há uma corrente que atribui o nome Haifa ao povoado cujos vestígios estendem-se desde a área atual do Hospital Rambam até o cemitério judaico, na Yaffo Road.

Raízes antigas

Os antigos fenícios chamavam a área de Zalemona e lá estabeleceram um entreposto comercial sobre o qual há menção no Talmud. Escavações arqueológicas na região de Shikmona revelaram que o local foi habitado desde o século XVI aEC, provavelmente por ser um ancoradouro natural. Em Shikmona, foram encontrados vestígios de edificações que datam desde o Primeiro Templo até o período selêucida.

Foi no Monte Carmel que, durante o reinado de Ahav (871-852 aEC), Eliahu Ha-Navi derrotou os 450 sacerdotes de Baal e a rainha Jezebel, perante todo Israel. Foi um momento crucial para o monoteísmo e para o nosso povo. O Livro dos Reis e o Midrash descrevem com detalhes tais acontecimentos. Destacam o fogo intenso que caiu dos céus quando Eliahu invoca o Todo-Poderoso, bem como a declaração de fé de Israel após testemunhar o milagre: "... O Eterno é D'us! O Eterno é D'us!" (Reis 18:39). Declaração que repetimos, até hoje, ao término do Yom Kipur.

Com a invasão e domínio persa - entre meados do século VI e final do século V aEC - a região se desenvolveu e novas cidades surgiram: Acco, Dor e Tel-Abu Hawan. O povoado com o nome de Haifa que surgiu por volta do século III aEC, é mencionado em documentos, pela primeira vez, em 104 aEC, quando Ptlomeu Lhatyrus, do Egito, em guerra contra o rei judeu Alexandre Yannai, lá ancorou seus navios. Há também outras referências em outros documentos do século II aEC sobre a grande comunidade judaica que lá vivia. Sua principal atividade econômica era a venda de conchas para a indústria de tintas. O Talmud relata que os judeus da cidade se sustentavam catando moluscos múrex - uma espécie de onde se extrai o corante púrpura, usado para colorir o talit. A literatura mishnaica e talmúdica cita sábios que viveram na cidade. O mais conhecido é Avdimi "de Haifa", também chamado de Avdima e Abudima.

Quando o porto foi invadido pela areia, a cidade teve que se mover mais ao sul - local onde foram encontrados túmulos judeus que remontam ao período romano. Dois povoados surgiram nesse período: a Haifa judaica e a Castra Cristã.

Com a queda do Império Romano, a região mudou várias vezes de mãos. Em 628, invasores bizantinos destruíram a comunidade judaica, que conseguiu reerguer-se para, novamente em 1100, ser arrasada pelos cruzados. Enraivecidos pela inesperada resistência, estes últimos massacraram toda a população e destruíram os navios, sua principal fonte econômica. Os judeus que sobreviveram buscaram abrigo no Egito e nos arredores do Monte Carmel.

Durante o domínio cruzado, a região de Haifa se tornou um centro independente que incluía o Carmel, a planície costeira e o vale de Zevulum, separando-se, portanto, da Galiléia. Chamada de Caife, ou Caifás, a região vivenciou nova fase de prosperidade, transformando-se no segundo porto em importância da região, depois de Acco. Durante o século XIII, a cidade renasceu como centro comercial e sua imponente fortaleza foi reconstruída, por determinação de Henrique, o Piedoso, rei da França.

Tal prosperidade, no entanto, não durou muito. Em 1265, Haifa foi capturada pelas forças mamelucas, que arrasaram a maior parte de suas construções. A deliberada destruição das cidades costeiras - como forma de impedir o retorno dos invasores cristãos - trouxe desolação também para a bela Haifa. Não há muitas informações sobre o domínio mameluco em Eretz Israel, entre os séculos XIII e XVI, além das narrativas de viajantes sobre a ruína e decadência que lá grassavam. Ao que tudo indica, assim se manteve até a chegada dos otomanos, em meados de 1500.

O domínio otomano estendeu-se de 1516 até 1918 e pode ser dividido em dois períodos. O primeiro vai de 1516 a 1761, quando Haifa ainda ficava em sua antiga localização, próximo a Shikmona, e foi-se desenvolvendo, aos poucos, principalmente ao redor da antiga cidadela. Mas, quando no século XVII o porto é reativado e o comércio com a Europa revitalizado, cristãos passam a se instalar na cidade. Enquanto foi governada por uma família beduína, de nome Turabay, reinava certa tolerância face às outras religiões.

De 1710 a 1750, o governo turco aperfeiçoou ainda mais a infra-estrutura portuária, aumentando a segurança dos navios que lá atracavam. Nessa época, Daher El-Omar - governador de toda a região noroeste de Eretz Israel - percebe que a cidade poderia ser uma sentinela avançada contra quem desejasse conquistar Acco. Construiu, portanto, fortalezas ao longo da costa, como forma de barrar a entrada de piratas.

Mas o rápido crescimento de Haifa só aconteceu no século XIX, sendo o porto o fator decisivo para isso. As primeiras embarcações a vapor que chegaram a Eretz Israel lá aportaram e a cidade começou a se expandir montanha acima. Durante sua visita a Eretz Israel, em 1898, Theodor Herzl, velejando pela baia de Haifa, percebeu a importância da cidade como entroncamento de rotas comerciais.

A cidade tornou-se ainda mais importante quando, em 1905, foi conectada à ferrovia Hejaz, que ligava Damasco à Península Arábica.

De 1918 a 1948

Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, Haifa tinha cerca de 24 mil habitantes, muçulmanos em sua grande maioria, ficando o restante da população dividido entre judeus (cerca de 15%) e cristãos (com 2%).

Para impedir o avanço das tropas inglesas, os turcos cercaram e minaram a cidade, que mesmo assim caiu em mãos britânicas em apenas dois dias. No dia 23 de setembro de 1918, os ingleses assumiram o controle da cidade, dando início a um ciclo de prosperidade, que contou com ativa participação judaica.

A principal contribuição britânica foi a construção do novo porto, que passou a ter importância internacional. Oficialmente inaugurado em outubro de 1933, reavivou a vida econômica regional, gerando novos empregos e estimulando o surgimento de uma indústria voltada às necessidades portuárias e de navegação. Suas modernas instalações e o término da construção, em 1939, do oleoduto que vinha do Iraque, incentivou a criação de várias indústrias na área, entre as quais se destacam as refinarias de petróleo, marca registrada de Haifa. Foi justamente nesse período que foram implantadas as primeiras estruturas para a construção da Ferrovia da Palestina.

O surto de prosperidade atraiu novos moradores, beneficiando-se com isto o setor de construção. Os judeus dominavam este segmento e foram gradativamente comprando todos os terrenos disponíveis na região média do Monte Carmel, onde ergueram amplos bairros residenciais. Criou-se, assim, uma espécie de subúrbio independente - Hadar Hacarmel, que se estendia do Instituto Technion em direção à área de Wadi Rushmiya - de fato, a Haifa judaica. Poucos judeus viviam em sua parte mais baixa e no antigo distrito comercial. No início de 1920, a comunidade começou a se mudar para pontos mais distantes, criando uma espécie de ilha judaica, que deu origem a subúrbios como Nevê Sha'anan, Bat Galim e Ahuza.

Em 1924, fundava-se, em Haifa, a primeira universidade de Israel, o Technion - Instituto de Tecnologia de Israel. Desde então, esta mundialmente reputada instituição acadêmica formou grande parte dos engenheiros, arquitetos e urbanistas do país. O Technion funciona como centro de pesquisa pura e aplicada nos campos das Ciências e Engenharia, em muito contribuindo para o desenvolvimento industrial de Israel.

Haifa foi a porta de entrada para milhares de imigrantes que chegavam a Eretz Israel no período que precedeu a criação do Estado. Dentre estes muitos lá permaneceram reforçando, com sua presença, a face judaica da cidade. Um censo realizado em 1931 constatou que dentre os 50 mil habitantes de então, 31% eram judeus. Já em 1944, sua presença subiu para 52% dos 128 mil que constituíam a população local.

Durante o Mandato Britânico, a cidade não foi deixada à margem do conflito que eclodia em toda a área do Mandato. Com a ampliação da luta pela criação do Estado de Israel, chegaram até lá os embates, não apenas entre judeus e britânicos, mas, abrindo um novo flanco - a população árabe - especialmente após a Partilha da Partilha pelas Nações Unidas, em novembro de 1947. Haifa fazia parte no território designado para ser o futuro Estado Judeu. E, justamente, era um dos pontos mais nevrálgicos do conflito entre os judeus e as autoridades inglesas, principalmente em virtude das leis restritivas à imigração, que levavam ao aumento do fluxo clandestino. Sua costa era o principal ponto de desembarque para milhares de refugiados. Além dos marcantes protestos públicos, a população judaica envolveu-se de corpo e alma nas operações para receber os imigrantes ilegais e organizar a fuga dos que, após serem detidos, eram enviados para a prisão inglesa, em Atlit.

O porto foi palco de um dos mais trágicos episódios da luta contra as restrições britânicas à vinda dos judeus, em fuga da Europa. Em suas águas, o navio Exodus se transformou, em julho de 1947, no símbolo da luta contra os ingleses. Após capturar o navio, com 4.500 imigrantes ilegais a bordo - todos sobreviventes do Holocausto - as autoridades inglesas o rebocaram ao porto de Haifa, não permitindo o desembarque de nenhum deles. Usando de uma brutalidade que hocou os Comissários da ONU em inspeção no país para dar seu parecer sobre a atuação do Mandato, os soldados britânicos cruelmente arrancaram os refugiados do navio e os deportaram de volta à Europa.

O escritor americano Leon Uris usou a história do Exodus como pano de fundo para seu livro homônimo, no qual relata de forma romanceada os acontecimentos que precederam a criação do Estado de Israel.

O livro foi transformado em filme, sob a direção de Otto Preminger, em 1960, emocionando o mundo inteiro pela dramaticidade de sua narrativa.

Pós-1948

Em sua qualidade de principal porto para as indústrias e refinarias de petróleo na então Palestina, as forças de libertação judaicas consideravam o controle de Haifa como um objetivo crucial da Guerra de Independência, que se seguiu. Na véspera de Pessach de 1948, entre 21 e 22 de abril, as forças da Haganá assumiram o controle da cidade, impondo, desde então, a hegemonia judaica na área.Durante a Guerra da Independência, quando se fecharam as fronteiras dos países árabes, Haifa foi o ponto de ligação de Israel com o restante do mundo.

Com a criação do Estado, a economia da cidade se recuperou rapidamente devido à intensa atividade portuária e ao fato de ser a principal porta de entrada para as levas de imigrantes que não paravam de chegar. Milhares de recém-chegados foram absorvidos, levando à criação de novos bairros residenciais. Em 1953 iniciava-se um projeto urbanístico, arquitetônico e de transportes, na cidade, além da implantação de redes de educação e saúde e a criação de inúmeras instituições públicas. A Universidade de Haifa foi fundada em 1963.

Predominantemente industrial, Haifa, além de abrigar uma das duas refinarias, possui grandes multinacionais na área de high-tech como a Intel, IBM,Microsoft, Motorola, entre muitas mais.

Cidade multicultural

Notabilizada pelos judeus por abrigar a Caverna do Profeta Eliahu e a histórica cidade de Shikmona, no sopé do Monte Carmel, Haifa é de uma riqueza multicultural realmente inegável. Constituindo hoje um pulsante e diversificado centro cultural e étnico, serve de lar para judeus, árabes, ahmedis, bahaís e drusos, destacando-se por seu grau de pacífica coexistência.

A vida artística e cultural da cidade é intensa, os festivais de cinema e de música realizados atraem visitantes e aficionados do país e do mundo. Concertos ao ar livre de grupos de jazz e da Orquestra Sinfônica de Haifa tambem fazem parte de seu rico calendário anual.

Bibliografia:

Israel, Editora Steimatzky, 1991

http://mfa.gov.il

http://www.inisrael.com

http://haifa.muni.il

http://www.goisrael.com