A Romênia, que sempre negou sua participação no Holocausto, prestou em junho de 2021 um tributo sem precedentes aos judeus assassinados no Pogrom de Iasi, em 1941. Tendo sido o mais documentado assassinato em massa na história do Holocausto romeno, este pogrom não foi um evento isolado ou fortuito, mas fez parte de uma longa série de massacres e violências cometidas contra os judeus na Romênia.

Documentos e testemunhas revelam que o pogrom, que ocorreu nos dias 29 e 30 de junho, foi planejado pelo Serviço de Inteligência romeno (SSI), em coordenação com o Estado Maior do Exército romeno e o serviço de inteligência militar alemão, a Abwehr. Unidos por seu profundo ódio aos judeus, incumbiram-se da “execução” os soldados romenos e alemães que estavam na cidade a caminho da frente russa, bem como os gendarmes1, policiais e os habitantes da cidade. Os poucos que tentaram ajudar os judeus também foram mortos. Até hoje é impossível determinar o número de judeus assassinados durante o pogrom, que varia de 6 mil a 15 mil de um total de cerca de 50 mil judeus que viviam na cidade, antes da 2ª Guerra Mundial. Nas semanas e meses seguintes houve a deportação e o extermínio sistemáticos dos judeus de Bessarábia, Bucóvina e Transnístria.

Desde o final da 2ª Guerra Mundial, os governos e a maioria dos historiadores romenos uniram-se em uma conspiração tácita cujo intuito era refutar o papel da Romênia durante o Holocausto. Vale lembrar que o país foi um aliado da Alemanha nazista durante a ditadura do marechal Ion Antonescu, de 1940 até 1944. Nesse período, de acordo com dados do Yad Vashem, entre 380 mil a 400 mil judeus foram assassinados em áreas controladas pela Romênia. Em 1944, com a deposição de Antonescu, a Romênia mudaria de lado.

Com grande surpresa vimos, agora, transcorridos 80 anos dos trágicos eventos, o governo romeno prestar tributo aos judeus assassinados em Iasi. Durante uma sessão parlamentar extraordinária, que contou com a presença dos últimos sobreviventes do massacre, o primeiro-ministro romeno, Florin Citu, admitiu em seu discurso a participação do governo romeno, afirmando que “Um sofrimento inimaginável, crueldade e selvageria... foram infligidos aos judeus sob as ordens do marechal defensor do Nazismo (Ion Antonescu). Nós, como nação, devemos abertamente admitir que nosso passado nem sempre foi glorioso”.

Diferentemente de outros eventos referentes ao Holocausto, sobre os quais não foram encontradas ordens escritas ou precisas, ou cujos documentos foram queimados ao final da guerra, o pogrom de Iasi é altamente documentado. São inúmeros os documentos, ordens e comunicados oficiais, depoimentos de testemunhas oculares, fotos e filmes que revelam os eventos, dia por dia, hora por hora. A seguir, um breve resumo dos acontecimentos.

Pano de fundo

Desde o final do século 15 sempre houve judeus que viviam em Iasi, uma cidade da Moldávia. Nos séculos seguintes, a comunidade se tornou um importante centro da vida religiosa e cultural judaica onde o Chassidismo e o Sionismo viviam lado a lado, e o teatro iídiche florescia – sempre convivendo, no entanto, com um antissemitismo virulento e enraizado, que, em várias ocasiões, explodia em violência.

Ao término da 1ª Guerra Mundial mudanças geopolíticas alteraram as fronteiras da Europa. Iasi passa a fazer parte da Romênia, país cuja constituição, de 1923, estendera, muito a contragosto, a cidadania a praticamente todas as minorias étnicas que viviam no país, inclusive aos judeus. Inconformadas, a Liga da Defesa Nacional Cristã (mais tarde, Partido Nacional Cristão) e a Guarda de Ferro iniciaram uma violenta campanha antissemita, que, em Iasi, culminou, ainda em 1923, num pogrom. Os Guardas de Ferro, também conhecidos como “Movimento dos Legionários” eram um movimento fascistaparamilitar, e professavam uma “ideologia” ultranacionalista, anticomunista, anticapitalista e, acima de tudo, violentamente antissemita.

Na década de 1930, a comunidade judaica romena era uma das maiores da Europa, somando por volta de 760 mil membros, dos quais cerca de 38 mil viviam em Iasi.

A ideologia antissemita nazista encontrara um solo fértil na Romênia. Nas décadas de 1930 e 1940 eram incessantes as acusações da extrema direita e dos jornais romenos contra os judeus. Eram retratados como degenerados, parasitas, estrangeiros racialmente inferiores que exploravam o país bem como a razão para todos os seus problemas econômicos e sociais. Uma declaração de Carol II, rei da Romênia, em janeiro de 1938, é reveladora: “Não se pode negar que haja um forte sentimento antissemita em nosso país. Trata-se de um antigo problema em nossa história”.

No mês seguinte, Carol II arquitetou um golpe contra seu próprio reinado. Valendo-se de poderes emergenciais, instituiu uma ditadura nacionalista e antissemita. Promulgou “o Direito do Sangue”2 e determinou a “revisão” da cidadania dos judeus. Ademais, tomou medidas discriminatórias limitando o direito à propriedade e o acesso à educação, entre outras. Antes ainda de que a Romênia caísse presa da órbita da Alemanha Nazista, as autoridades romenas já adotavam uma política de feroz antissemitismo discriminatório e persecutório – particularmente contra os judeus que viviam nas regiões da fronteira oriental, a quem falsamente associavam ao comunismo soviético, bem como aos que viviam na Transilvânia, identificados com o antigo regime da Hungria.

Preocupado com o crescente poder da Guarda de Ferro, o Rei tenta limitar o poder dos “legionários” (como eram também chamados os membros da Guarda de Ferro). E, nos meses que antecederam o início da 2ª Guerra, a polícia romena e a Guarda de Ferro se enfrentaram em violentos combates de rua. A polícia consegue aprisionar centenas de “legionários”, inclusive alguns de seus líderes, mas, ainda assim, sua corporação, a Guarda de Ferro, continua a ter grande força política e o apoio das massas.

A 2ª Guerra Mundial

Em setembro de 1939 a Alemanha ataca a Polônia. Era o início da 2ª Guerra Mundial. Até o primeiro trimestre de 1940, Carol II manteve uma relativa postura de neutralidade, mas o inegável poderio nazista o fez mudar de atitude em relação à Guarda de Ferro, iniciando uma reaproximação e incluindo alguns de seus líderes no governo. À medida que cresciam a popularidade e o poder dos fascistas, crescia também a pressão política para que o país se aliasse à Alemanha.

No verão de 1940, uma série de antigas disputas territoriais foram diplomaticamente solucionadas de modo desfavorável à Romênia, resultando na perda de praticamente todo o território conquistado após a 1ª Guerra Mundial. O país é forçado a ceder a Bessarábia e o norte da Bucóvina para a União Soviética3, o norte da Transilvânia para a Hungria, e Caliacra e Durostor para a Bulgária. Durante a retirada das tropas romenas da Bessarábia e Bucóvina, os soldados mataram 186 judeus, atirando muitos outros de trens em movimento.

Após as mudanças territoriais ainda vivia no Reino da Romênia uma população judaica de cerca de 600 mil pessoas. A perda de território fez a popularidade de Carol II despencar, reforçando ainda mais as facções fascistas e militares. Em setembro de 1940, o Rei indica o marechal Ion Antonescu como primeiro-ministro. Aliando-se à Guarda de Ferro, Antonescu arma um golpe, força a abdicação do Rei e assume poderes ditatoriais proclamando-se o Conducător (condutor, em romeno). O novo regime, pró-Nazismo, conhecido como o Estado Nacional Legionário, alia-se oficialmente à Alemanha Nazista em 20 de novembro de 1940, tornando-se um de seus mais próximos aliados. Com o novo regime, a discriminação, violência e pilhagem contra os judeus tornam-se política do Estado.

As forças fascistas, insatisfeitas com seu papel dentro do governo, passam a exigir mais poderes, mas Antonescu é inflexível em sua recusa. A resposta da Guarda de Ferro é imediata. Em 21 janeiro de 1941, os legionários se insurgem contra o regime de Antonescu. Bucareste torna-se palco de uma guerra civil, que duraria três dias e que acaba sendo vencida pelo marechal Antonescu, com o apoio do exército alemão. Durante o conflito, os membros da Guarda de Ferro, sem motivo algum além de seu antissemitismo, viram-se contra os judeus da cidade e deslancham um violento pogrom.

Durante esse pogrom, nos dias 21, 22 e 23 de janeiro, e que entraria para a História como o Pogrom de Bucareste, indescritíveis atrocidades foram cometidas contra a população judaica da cidade. Particularmente atroz foi o extermínio de dezenas de judeus no matadouro de animais de Bucareste. Mais de uma centena foram assassinados brutalmente, outros milhares foram espancados, feridos, maltratados e centenas de propriedades judaicas foram destruídas.

Mas, para os judeus da Romênia, o pior ainda estava por vir. O ataque do Eixo contra a União Soviética iria marcar formalmente o início do extermínio. Nos meses que precederam a invasão, a propaganda antissemita oficial romena intensificara os ataques contra os judeus, acusando-os de serem “parasitas” e “agentes bolcheviques”, já preparando o caminho para o seu extermínio.

Os preparativos para o pogrom

Dez dias antes do ataque alemão à União Soviética, executado de 22 de junho de 1941, Hitler informou seus planos ao marechal Antonescu. Durante a Operação Barbarossa, código para a invasão, tropas romenas se juntaram à Wehrmacht. A contribuição romena foi enorme, com a participação de 1,2 milhão de soldados, número inferior apenas às forças nazistas enviadas para a frente russa.

A cidade de Iasi era localizada próxima à fronteira soviética e, dos cerca de 100 mil habitantes, por volta de 50% eram judeus. Oficiais dos exércitos romeno e alemão consideravam a presença de uma população judaica perto da fronteira soviética uma “ameaça militar”, uma “quinta coluna”4 pronta a ajudar ao inimigo, razão pela qual pediram ao governo romeno sua imediata “remoção”.

Várias providências foram tomadas nesse sentido. O SSI criara o “First Operative Echelon”, o primeiro escalão de agentes de campo – 160 homens encarregados de esmagar quaisquer ameaças à “segurança interna” – ou seja, judeus e comunistas, que pudessem dificultar a guerra. Em junho os agentes partiram para a Moldávia, tendo entre os objetivos secretos varrer todos os judeus da região, por deportação ou extermínio. O próprio Antonescu ordenara a deportação dos judeus entre 18 e 60 anos, que viviam entre os rios Siret e Prut, para o campo de concentração em Targu Jiu, ao sul da Romênia. Especificamente no tocante aos judeus de Iasi, o General C. Z. Vasiliu, durante uma reunião da Gendarmaria, ordenara especificamente “a limpeza do terreno”. A ordem implicava medidas repressivas contra os judeus de Iasi por deportação ou liquidação.

Outro fato revelador das funestas intenções romenas foi a ordem dada no dia 20 de junho pela Inspetoria de Preparação Paramilitar de Iasi a jovens judeus, no sentido de cavarem sepulturas, com 30 metros de comprimento cada, no cemitério judaico. As valas ficaram prontas no dia 26.

Quando, em 22 de junho, foi deslanchada a invasão da União Soviética, estavam estacionados em Iasi soldados da 14a Divisão romena, 300 gendarmes, tropas alemãs incluindo as SS e 800 policiais.

A Força Aérea Soviética bombardeou a cidade no dia 24. O pânico tomou conta dos habitantes. Os militares e Guardas de Ferro espalharam boatos de que os judeus de lasi estavam a serviço do Exército Vermelho, fornecendo sinais terrestres para os aviões soviéticos. Uma histeria antijudaica se alastrou pela cidade. Os policiais iniciam a procura de supostos colaboradores entre os judeus e pedem à população cristã que marquem suas casas com cruzes em local de fácil visibilidade.  

Após o segundo bombardeio soviético, no dia 26, líderes da comunidade judaica são convocados à Chestura, a sede central da polícia, onde são informados de que todos os judeus da cidade eram considerados culpados de colaborar com “os pilotos soviéticos judeus”. Os primeiros 317 judeus são aprisionados na Chestura.

As mentiras engendradas pelas SSI de que os judeus estavam ajudando os soviéticos, aliadas ao enraizado antissemitismo, elevaram o ódio aos judeus a níveis jamais vistos em Iasi. Por toda a cidade cartazes incitavam os habitantes: “Romenos! Cada ‘judeuzinho’ morto é um comunista morto. É chegada a hora da vingança!”

Na noite de sábado, 28 de junho, soldados romenos e alemães, membros do SSI, policiais e centenas de moradores começaram a saquear e assassinar judeus. Milhares foram mortos em suas casas e nas ruas. Outros milhares foram presos por patrulhas romenas e alemãs e forçados a marchar até a Chestura. Indiscriminadamente e em fúria ensandecida, os judeus eram caçados como animais. Eram surrados e quando já não conseguiam se erguer e caminhar, eram abatidos a tiros, fazendo das ruas um mar de sangue e corpos amontoados. Como se não bastasse, os transeuntes ainda cuspiam nos judeus e lhes atiravam pedras e cacos de vidro, paus e o que mais lhes viesse às mãos. E quem tentasse ajudar os judeus também era morto. Milhares dos nossos que haviam sido aprisionados para entrar no pátio da Central de Polícia tiveram que passar por um corredor de oficiais das SS, gendarmes romenos, policiais e civis que, armados com barras de ferro, os açoitavam. Após a guerra, um dos oficiais romenos declarou que apenas naquela noite eram cerca de 3.500 os “suspeitos” judeus amontoados e aprisionados no pátio da Chestura.

O massacre continuou durante o dia. Os soldados alemães e romenos e os policiais passaram a atirar diretamente na multidão, sendo ajudados por civis. Quem tentava escapar era morto. Os perpetradores e o populacho retiravam todos os objetos de valor dos corpos. A cena era apocalíptica.

Em seguida, os próprios judeus foram forçados a remover as vítimas e atirá-las nas valas que haviam sido cavadas anteriormente no cemitério judeu. Enquanto alguns judeus recebiam ordens de ir jogando as vítimas nessas valas comuns, algumas ainda com vida, outros iam cavando novas sepulturas coletivas. “Cavamos e cavamos, sem interrupção, durante quatro dias e quatro noites... Meus camaradas e eu atiramos por volta de 6 mil inocentes naquelas valas macabras” ...

Ainda que seja quase impossível determinar-se o número exato de vítimas do massacre de Chestura, os historiadores acreditam que no mínimo 6 mil judeus foram exterminados naquele pogrom, sendo mais provável que o número passe de 10 mil. Outros milhares foram presos, amontoados em vagões de transporte de animais e, depois, deportados por trem a Calarasi e Podul Iloaei, cidades localizadas a sudoeste de Iasi, como veremos abaixo.

Os trens da morte

No domingo, 29 de junho, os militares e a Polícia decidem evacuar os judeus que ainda estavam detidos na Chestura. Consultado, o Ministério do Interior aprovou a evacuação. Dois trens da morte partiram de Iasi, lotados de judeus praticamente empilhados, com as frestas dos vagões seladas por tábuas pregadas à última hora, tornando quase impossível a respiração das vítimas a serem transportadas. No primeiro deles, havia 2.530 judeus, entulhados em grupos de 150 em cada compartimento. O destino era a cidade de Calarasi. Esses vagões de carga levavam a sórdida inscrição “Comunistas judeus” ou “Assassinos de soldados alemães e romenos”.

Durante a viagem os prisioneiros não podiam abrir as portas dos vagões em busca de ar para respirar e não receberam água nem alimento. O calor era insuportável e a superlotação impedia qualquer movimento. Muitos enlouqueceram antes de morrer. O trem se deteve em várias cidadezinhas, mas a Polícia proibiu, sob pena de morte, que qualquer ajuda fosse prestada ao carregamento humano do trem quando abriam as portas para remover os corpos dos mortos. Segue-se o relato de um sobrevivente: “Abriram-se as portas do vagão e ouvimos vozes distantes que nos ordenavam atirar os corpos dos que não haviam resistido. Quem estava fora, na estação, não se acercava dos vagões devido ao fedor que deles exalava...”.

O primeiro trem da morte a deixar Iasi na manhã de 30 de junho, com 2.530 judeus, chegou a Calarasi, seu destino, na tarde de 6 de julho, com apenas 1.011 sobreviventes, alguns dos quais acabaram morrendo nos dias subsequentes. Haviam percorrido aproximadamente 500 quilômetros em seis dias e meio, no auge do verão, praticamente sem água. A selvageria foi tão intensa que mesmo o nazista Hans Frank, Governador Geral da Polônia, ao ouvir o relato dos acontecimentos, deu mostras de desagrado com a brutalidade adotada no massacre de Iasi.

Mais de 1.400 judeus tinham sido mortos no primeiro trem da morte. Os sobreviventes foram internados em Calarasi, no pátio do 23o Regimento da Infantaria. Durante sua detenção, outros 99 prisioneiros morreram. Após a permissão para que um representante da comunidade judaica de Bucareste os atendesse, com suborno e corrupção foi possível melhorar as condições de vida dos judeus até eles serem libertados, em 30 de agosto de 1941.

A história do segundo trem da morte é mais breve, mas igualmente horrenda. Em 30 de junho, 1.902 judeus foram amontoados em um segundo trem, sendo que no último vagão havia 80 corpos que foram recolhidos na estação. Eles haviam sido fuzilados, esfaqueados com baionetas ou esmagados com martelos!

O trem levou oito horas para cobrir os 20 quilômetros entre Iasi e Podul Iloaei. Superlotação, desespero, calor e sede causaram muitas mortes. Ao chegar ao destino, alguns vagões continham 100 mortos e apenas três ou quatro sobreviventes. Dos 1.902 judeus que haviam sido amontados nos vagões, morreram 1.194. Os sobreviventes receberam permissão de voltar a Iasi quatro ou cinco semanas depois.

O marechal Ion Antonescu, em uma reunião do Conselho de Ministros a 5 de abril de 1941, fez uma declaração sobre a liquidação dos judeus romenos, que descrevia precisamente o que havia ocorrido em Iasi: “Deixei o populacho solto e livre para massacrar os judeus. Retirei-me para o quartel-general e após o massacre, restaurei a ordem”.

O pogrom de Iasi representa o início do processo genocida implementado pelas autoridades romenas. A destruição do judaísmo romeno foi sistemática na Bessarábia, Bucóvina do Norte e Transnístria.

A Batalha de Stalingrado (agosto de 1942 a fevereiro de 1943) mudaria os rumos da guerra. Acreditando que a derrota do Terceiro Reich fosse apenas uma questão de tempo, Antonescu decidiu melhorar a imagem da Romênia perante os Aliados. Em outubro de 1942, ele interrompe os preparativos para a deportação da população judaica da Romênia a campos de concentração nazistas, revogando um acordo anterior com Hitler e se afastando de sua política inicial contra os judeus. Além disso, a Romênia pressiona o governo alemão para não deportar judeus romenos que ainda estavam em território alemão, chegando mesmo a facilitar a emigração de uns poucos judeus romenos para a então Palestina. A decisão de Antonescu salvou milhares de vidas judias, mas as forças romenas continuaram a brutalmente exterminar centenas de milhares de judeus, principalmente os que residiam na Bessarábia, Bucóvina e Ucrânia Ocidental.

Na primavera europeia de 1944, o exército soviético arrasou a maior parte da Transnístria e conquistou a Bessarábia nas primeiras semanas da ofensiva de verão. Quando as tropas soviéticas se agruparam no Rio Prut, que separa a Moldávia da Bessarábia, um grupo de políticos da oposição derrubou Antonescu, assinando, em 23 de agosto de 1944, um armistício com a União Soviética. A seguir, as tropas romenas lutaram ao lado das tropas soviéticas através da Hungria, chegando à Alemanha.

Em 1946, Antonescu foi julgado na Romênia como criminoso de guerra. Condenado, é executado. Outros oficiais do regime romeno pró-Nazismo foram julgados, após a guerra, mas a maioria dos perpetradores romenos responsáveis por exterminar judeus nunca foram levados à justiça.

No julgamento dos diretamente implicados no pogrom de Iasi, 46 pessoas foram julgadas culpadas. Destes, 46% eram membros do Exército ou da Polícia romena. Os demais eram civis, alguns deles antigos membros da Guarda de Ferro ou da Empresa Ferroviária governamental.

Dumitru Pop, social-democrata, em seu discurso perante o Parlamento em 29 de junho de 1947, declarou: “Em Iasi, não foram só os judeus os que foram assassinados. A própria moral foi assassinada. O nome de nosso país foi assassinado”.

E não apenas o seu país teve seu nome assassinado. Outros países seguem assassinando seus nomes, pois, infelizmente, até hoje, são muitos os que continuam a se levantar gratuitamente contra nós, judeus.

Militares responsáveis pela ordem pública e a segurança de uma região.

2Jus sanguinis éa expressãoem latim para “Direito de Sangue”, princípio legal da Lei de Nacionalidade pelo qual a cidadania não é determinada pelo local de nascimento, mas por serem (ou terem sido) um ou ambos os pais cidadãos desse país.

3A Alemanha Nazista havia reconhecido o interesse soviético na Bessarábia em um protocolo secreto ao Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939.

4Quinta coluna – expressão considerada sinônimo de traição, caracterizada pela reunião de um grupo de pessoas que atuam clandestinamente em um país pronto a entrar em guerra ou já em guerra, visando trair seus companheiros, sua pátria ou sua organização.

BIBLIOGRAFIA

Ioanid, Radu, The Holocaust in Romania: The Iasi Pogrom of June 1941. Publicado online pela Cambridge University Press, 12 de setembro de 2008, www.cambridge.org

Ioanid, Radu (Autor), Wiesel, Elie (Prólogo), Florian Alexandru (Introdução) The Iaşi Pogrom, June-July 1941: A Photo Documentary from the Holocaust in Romania, Indiana University Press

“Final Report of the International Commission on the Holocaust in Romania”, Comissão Internacional sobre o Holocausto na Romênia, Bucareste, 11 de novembro de 2004