O Estado de Israel e comunidades judaicas de diversas partes do mundo fizeram, nos últimos meses, um pedido justo e oportuno ao Comitê Olímpico Internacional: que na  cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2012, que coincidia com o triste 40º aniversário do massacre de onze atletas israelenses nos jogos de Munique, fosse respeitado um minuto de silêncio.

O Comitê recusou o pedido, argumentando que as vítimas já tinham sido suficientemente homenageadas no decorrer de quatro décadas. Ou seja: não valia a pena atrasar em um minuto – um minuto! – a pomposa cerimônia de abertura. Na verdade, era como se o Comitê dissesse aos judeus para esquecer aquele trágico evento, tal como tem sido repetido por todos aqueles que, ainda hoje, têm a obscena desfaçatez de negar a ocorrência do Holocausto. Enfim, ignoraram a máxima do século passado, mas sempre atual, do filósofo Santayana: “Aqueles que não recordam o passado, estão condenados a repeti-lo”.

Agora, a imprensa alemã vem publicando uma série de reportagens que acusam as autoridades de Munique de terem sido alertadas sucessivas vezes do ataque terrorista contra os israelenses, mas de nada terem feito para impedi-lo. E mais: ao contrário do que se pretendeu apurar, quarenta anos atrás, os grupos alemães de extrema esquerda radical não estiveram envolvidos no episódio. Os terroristas contaram com a ajuda logística de uma facção neonazista.

No dia 14 de agosto de 1972, três semanas antes do atentado, um diplomata alemão estacionado em Beirute soube que “haveria um grave incidente nos Jogos Olímpicos de Munique”. O tal funcionário mandou a informação para a agência de inteligência do Estado da Bavária, onde foi devidamente engavetada. No dia 2 de setembro do mesmo ano, três dias antes da abertura dos jogos, a revista semanal italiana Gente publicou que terroristas do Setembro Negro estavam planejando “um ato sensacional durante as Olimpíadas”. Ninguém tomou conhecimento. Há mais. Antes dos jogos, um psicólogo de Munique participou de um seminário ao final do qual enviou um longo relatório às autoridades locais, tornando a descrever 36 cenários que havia formulado, destinados à segurança das Olimpíadas, incluindo uma proteção especial para a delegação israelense “que poderia ser vítima de um ataque terrorista”. Quando, já depois da tragédia, soube-se da existência deste papelório, a polícia de Munique disse que nada existia em forma escrita sobre o referido assunto. O dito relatório jamais foi encontrado.

Em outubro de 1972, um mês depois do massacre, um indivíduo que se dizia representar um certo “Grupo Combatente Nacional Socialista por uma Alemanha Maior”, de extrema direita, informou à polícia que duas pessoas tinham estado envolvidas no ataque terrorista: Charles Jochheim e Wolfgang Abramowski, ex-integrantes das tropas Waffen-SS. Ambos foram presos e em seu apartamento foi encontrada uma impressionante quantidade de armas e munições, cujos calibres e características eram iguais aos encontrados na Vila Olímpica nos alojamentos dos atletas israelenses. Quando, após exaustivas negociações, estes foram levados para o aeroporto de Furstenfeldbruck, e ali executados dentro de helicópteros, numa desastrada operação da polícia alemã, constatou-se que as granadas sobre eles atiradas eram de origem belga produzidas com exclusividade para a Arábia Saudita. Os terroristas haviam utilizado justamente este tipo de granadas.

Em 1974, os dois ex-SS foram julgados apenas por posse ilegal de armas. Abramowski recebeu a pena de oito meses de prisão e Pohl, de 26 meses. Não se sabe como, nem por que, apenas quatro dias depois da sentença, Pohl foi libertado e fugiu para Beirute.

Nos Jogos Olímpicos de 2012, Israel ficou longe das medalhas esportivas. No entanto, o povo judeu guarda uma medalha, mais valiosa do que quantas possam existir de ouro: a reverência pelos onze mártires sacrificados enquanto defendiam perante o mundo a bandeira azul e branca, tendo ao centro a Estrela de Davi.

Zevi Ghivelder é escritor e jornalista

 

O massacre de 11 atletas e técnicos israelenses nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, foram um evento trágico na história das Olimpíadas. Mas, para o povo judeu, Munique 1972 é mais do que história. É um evento gravado para sempre no coração e na mente de nossa memória coletiva judaica. A História é a nossa história – um evento que ocorreu em alguma outra época a alguma outra pessoa. A lembrança é a minha história – algo que ocorreu comigo e é parte de quem eu sou. História é informação. A lembrança, em contrapartida, é parte da identidade. Os 11 atletas e técnicos de Israel foram visados não apenas em virtude de sua nacionalidade, mas porque eles eram judeus. O ataque foi executado num palco global porque tinha um alvo global: o povo judeu...”.

Rabino Chefe do  Reino Unido Lord Sacks