Vinte e cinco anos após sua morte à frente da força-tarefa que resgatou os reféns em Entebe, Yonatan Netanyahu ainda é considerado um herói em Israel.

 

Vinte e cinco anos após sua morte à frente da força-tarefa que resgatou os reféns em Entebe, Yonatan Netanyahu – ou simplesmente Yoni, como era chamado – ainda é considerado um herói em Israel e no exterior por aqueles que vivenciaram, mesmo à distância, os eventos ocorridos entre 27 de junho e 4 de julho de 1976. Único militar israelense caído durante a ação, tornou-se símbolo de patriotismo e da luta pela liberdade.

Natan Sharansky, atual líder do Partido Israel Ba-Aliá, representante dos imigrantes da ex-União Soviética em Israel, disse sobre a missão: “Quando eu estava na prisão, na Sibéria, e ouvia aviões sobrevoando a região, sempre me lembrava de Entebe e tinha a certeza de que um dia também seria libertado. Tinha a sensação, e acho que todos os judeus em qualquer lugar do mundo também têm, que se houvesse problemas, Israel faria tudo para ajudar. A pessoa de Yoni foi o símbolo dos acontecimentos. Ele era, ao mesmo tempo, um super-homem e um homem comum. Uma espécie de herói bíblico que nos faz sentir que qualquer um de nós poderia ser como ele ou como os outros que lutavam pela liberdade”.

O nome de Yoni ganhou notoriedade maior quando, após a sua morte, foi lançado o livro As cartas de Yonatan Netanyahu, uma coletânea de textos escritos durante sua juventude e seus anos no exército, cujo conteúdo revelou seus pensamentos íntimos, sentimentos por Israel e suas convicções sionistas. A entrada de seu irmão, Binyamin “Bibi” Netanyahu, para a vida política, nas décadas de 80 e 90, também contribuiu para reviver seu feito em Entebe.

“Yoni não precisava morrer para se tornar uma lenda, pois já o era enquanto estava vivo. Desde criança nós sabíamos que ele seria um homem de atitudes marcantes e decisivas. Aqueles que o conheceram como comandante no exército sabiam que Yoni era um ser humano especial, sabiam do que ele era capaz em combate e a maneira como atuou durante o resgate de um soldado, Yossi Ben-Hanan, na Guerra de Yom Kipur, em 1973”, costuma afirmar Bibi.

Nascido em 13 de março de 1946, era o mais velho de três irmãos – Bibi, três anos mais novo, e Iddo, com seis anos menos que ele. Criado em um lar sionista – o pai era historiador, Yoni é lembrado por seus companheiros de juventude como um indivíduo com uma liderança inata. Segundo Naomi Chazan, deputada da Knesset pelo Partido Meretz que foi sua colega de classe em Jerusalém, Yoni era definitivamente um dos líderes da classe e tinha uma personalidade muito competitiva, tanto nos esportes quanto nos estudos. Éramos muito amigos, formávamos um grupo muito unido e ele era muito bom em tudo o que fazia”.

Esta é também a opinião de seu irmão Iddo, que lembra de Yoni brincando nas ruas da vizinhança de Katamon, onde a família morava. “Ele não tinha medo de nada, nem dos garotos maiores. Era um excelente atleta e um exímio jogador de futebol. Quando morávamos nos Estados Unidos, foi capitão do time de segundo grau da Escola Cheltenham, na Filadélfia. Anos mais tarde, o treinador nos disse que ele poderia ter-se tornado um jogador profissional. Mas ele fez outra opção, preferindo seguir a carreira militar”.

Segundo seus irmãos e amigos, Yoni jamais gostou de viver nos Estados Unidos, para onde a família se mudou quando ele tinha 17 anos, para que seu pai, Bentzion, pudesse aprofundar suas pesquisas sobre história judaica. Mesmo obtendo notas excelentes na escola, falava sempre em voltar a Israel, o que acabou fazendo ao completar 18 anos e decidir alistar-se nas Forças de Defesa de Israel (FDI). Optou pelo núcleo mais difícil – a unidade de pára-quedistas. Mesmo no exército, manteve estreito contato com os pais e irmãos e, em suas cartas, colocava-os a par de suas idéias e projetos.

“Yoni costumava conduzir sua vida de acordo com seus ideais e isso tornou-se muito claro na maneira como se dedicou ao exército. Acreditava que suas atitudes deveriam ser coerentes com suas idéias. Entendeu a importância de defender Israel contra aqueles que desejavam destruí-lo. Da mesma maneira, identificou o sentimento imperativo que o levou a colocar seu talento e sua vida em defesa de seu país. Estava convicto, assim como toda a sua geração, que deveria lutar pela sobrevivência de Israel e ele o faria por todos os meios ao seu alcance, até o fim”, conta seu irmão Iddo.

Este sentimento em relação à pátria não foi algo absorvido apenas na vivência familiar, pois segundo Bibi e Iddo, eles não foram criados em um ambiente de doutrinação sionista. A relação com o país no qual nasceram foi construída a partir do exemplo de seus pais e de sua própria vida em Israel. “Ninguém nos disse vocês devem agir assim, sionismo é isso ou aquilo”. Fomos observando e descobrindo por nós mesmos e fazendo nossas próprias opções. Para nós, sempre foi muito claro que a vida e o futuro de Yoni estavam em Israel”.

Como prova dessa afirmação de seus irmãos, mesmo tendo sido aceito em Harvard, com notas excelentes, adiou a ida para a universidade, participando da Guerra dos Seis Dias, em 1967, na qual foi ferido. Meses depois começou o curso e encerrou o ano entre os dez primeiros alunos da classe. Mesmo assim, não estava satisfeito e carregava dentro de si um sentimento de tristeza constante. Decidiu, então, retornar a Israel e continuar sua carreira nas FDI, apesar de seu ferimento, engajando-se na unidade anti-terror, da qual Bibi fazia parte. Tomou parte em várias missões na Jordânia e Líbano, muitas das quais ainda permanecem secretas.

Quando lembra dos anos que passaram juntos combatendo o terrorismo, Bibi sempre menciona uma missão da qual Yoni não participou, fato com o qual não se conformava: o resgate de um avião da Sabena seqüestrado em 1972, no qual também participou Ehud Barak. “Yoni não pôde-se integrar ao grupo, pois eu já havia sido designado para a equipe e, segundo as regras das FDI, dois irmãos não podem tomar parte da mesma missão. Ele queria que eu desistisse de qualquer jeito para que ele pudesse ir, mas eu lhe disse que não poderia fazer isso, pois eram os soldados sob meu comando que participariam da missão. Ele me disse que poderíamos, então, ir os dois. Respondi que não seria uma boa idéia, pois o que aconteceria com nossos pais se nós dois morrêssemos? Mesmo sem concordar, Yoni foi obrigado a desistir da missão”.

Quatro anos mais tarde, foi a vez de Yoni liderar uma das mais surpreendentes missões anti-terrorismo. A ação foi bem sucedida; houve apenas uma vítima militar: ele próprio.