Miami, Los Angeles e Nova York são as três cidades dos Estados Unidos para onde aflui o maior número de judeus, tanto como turistas quanto como imigrantes. Pittsburgh, na Pensilvânia, por outro lado, nunca deu provas de ser um destino importante para os israelenses e o hebraico certamente não é a língua franca de judeus lá enraizados. Por isso, Eric Blaustein afiou seus ouvidos, em setembro de 2000, véspera de Rosh Hashaná, quando ouviu o hebraico, perto de sua sinagoga, em Monte Líbano, um subúrbio de Pittsburgh.

Em Nova York, seria comum ouvir alguém falar hebraico, mas não em Pittsburgh. Nostálgico, ao ouvir o idioma que antes dominava tão bem, Eric, com prazer e incapaz de controlar a curiosidade, aproximou-se do grupo que falava hebraico. Quem eram eles, queria saber, e o que faziam em Pittsburgh?

"Minha empresa acabou de me transferir", um jovem do grupo explicou. "E, naturalmente, minha família veio comigo", disse, apresentando a esposa e os filhos. Em seguida, apontou para um casal mais velho, a seu lado. "Estes são meus pais. Não moram aqui, mas vieram visitar-nos para as Grandes Festas".

Eric sentiu-se imediatamente atraído pelo pai, um homem da mesma idade que ele, e logo iniciou uma conversa, entrecortada por seu hebraico hesitante. O homem estava visivelmente impressionado, apesar da pouca fluência de Eric.

"Onde você aprendeu a falar hebraico", o israelense perguntou, agradavelmente surpreso.

"Sou sobrevivente dos campos de concentração", respondeu Blaustein, de origem alemã. "Fui para Israel na guerra e, em 1948, lutei como soldado voluntário durante a Guerra de Independência de Israel. Servi na 12ª Brigada, no 7º Regimento".

O israelense olhou para Blaustein com interesse redobrado. "Sei que foi há muito tempo, mas por acaso você esteve na 2ª Companhia?"

"Estive, sim", disse Blaustein.

Uma variedade de emoções, que Eric não conseguia decifrar, passaram pelo rosto do israelense: "Você estava no 3º Pelotão? Por acaso, era 2º tenente?"

Blaustein confirmou, surpreso e sem entender como o homem sabia aquilo tudo.

"Sua unidade só tinha um tenente?", continuou o israelense.

"Mas como você sabe isto?", perguntou Blaustein, cada vez mais estarrecido.

"Porque estou à sua procura há 52 anos", gritou o israelense, agarrando a mão de Eric e apertando-a com vigor. "Você se lembra dos Comandos franceses? Você salvou a minha vida!"

Haviam-se passado 52 anos, mas a memória continuava tão viva como se fosse ontem. Em um flashback, Eric reviveu tudo: o Neguev, a unidade de frente israelense formada de voluntários franceses sob fogo egípcio, a falta de munições... seu próprio pelotão sendo chamado para salvar os soldados capturados na linha de fogo. E então apareceu aquele soldado ferido e ele o carregara nas costas... Após tomar as providências para que fosse medicado, Eric teve de ir embora, ignorando o nome e destino do homem. Mas ele não foi facilmente esquecido pela vítima, que gravou em sua memória as insígnias do 2º tenente.

Havia esperado, a vida toda para encontrar o homem que salvara sua vida: "Pensar que eu teria que vir até Pittsburgh para reencontrá-lo!"Eric, incrédulo, respondeu: "E eu nem devia estar aqui, esta noite, pois todo Rosh Hashaná, minha esposa e eu vamos para Chicago visitar nossa filha, cujo marido é rabino e, naturalmente, nesta época não pode deixar sua congregação. É praticamente uma tradição - nós o fazemos todos os anos".Mas este ano, incompreensivelmente, ele e a esposa haviam subitamente decidido passar as Grandes Festas em casa.

Os dois homens se sentiam tocados por um milagre. O israelense estava empolgado em poder finalmente agradecer a seu benfeitor e, Blaustein, emocionado por encontrar o homem que milagrosamente salvara, há tantos anos, e ainda mais, em conhecer seu filho e netos. Três gerações encontravam-se postadas à sua frente, testemunhando o impacto de um único ato, 52 anos atrás.

Era uma forma maravilhosa de começar o Ano Novo!

Fonte: Halberstam, Yitta e Leventhal, Judith,Small Miracles for the Jewish Heart