Joey Ricklis nasceu e cresceu em uma família abastada, em Cleveland, Ohio. Estudou nas melhores escolas e usufruiu de todas as vantagens e confortos que o dinheiro pode garantir. Entretanto...

Acima de tudo, no entanto, tinha um pai compreensivo. Adam Ricklis era tão compreensivo a ponto de entender os anseios próprios da juventude e aceitar a decisão do filho de, ao término da faculdade, viajar para a Índia em busca de uma "luz espiritual que o iluminasse".

A atitude de Adam Ricklis, no entanto, modificou-se quando seu filho lhe disse que pretendia romper com o judaísmo. Sobrevivente do Holocausto, tendo passado por três campos de concentração e sendo o único sobrevivente de sua família totalmente dizimada pelos nazistas, Adam Ricklis revoltou-se com a decisão de Joey. Para Adam, a religião pela qual seus familiares haviam perecido não poderia jamais ser abandonada. Para ele, tal gesto seria uma traição aos mortos.

Inconformado, Adam perguntava-se o que havia acontecido com Joey ao longo dos anos. Profundo seguidor das tradições judaicas, Adam enviou seus filhos à escola judaica, levava-os à sinagoga regularmente e estava certo de que eles se identificavam com o judaísmo. Tinha orgulho de si mesmo por ter conseguido criar filhos que certamente carregariam a herança familiar. Portanto, não poderia, de maneira nenhuma, aceitar a decisão do filho, e lhe disse:

"Saia daqui. Saia da minha casa e nunca mais volte. Você não é mais meu filho. Vou tirá-lo do meu coração, da minha alma e da minha vida. Nunca mais quero vê-lo". Joey então respondeu ao pai: "Está bem. Se está bem para você, está para mim, pois eu também não quero vê-lo nunca mais".
Assim, Joey partiu para a Índia, atrás de sabedoria, espiritualidade e respostas concretas para os mistérios da vida. Durante suas andanças, conheceu Sarah, uma garota que também havia abandonado o judaísmo de seus pais em busca de uma alternativa espiritual. Com certeza, Joey e Sarah eram duas almas gêmeas.

Durante seis anos permaneceram juntos, até que um dia, Joey encontrou um antigo companheiro da escola, em uma rua de Bombaim. Após a troca de abraços comum entre dois velhos amigos, o rapaz disse a Joey que sentia pelo seu pai. "Meu pai? O que aconteceu com meu pai?", perguntou ansiosamente Joey. E o amigo, então, contou-lhe que Adam Ricklis havia morrido há poucos meses, vítima de um enfarte. Não entendia como ninguém comunicara a Joey.

"Ninguém sabia onde eu estava", retrucou Joey, acrescentando: "Meu pai não morreu de enfarte. Foi algo mais parecido a um coração partido, tenho certeza. Eu fui a causa de sua morte, eu o matei". Sarah reagiu a estas palavras, afirmando que ele nada tivera a ver com a morte de seu pai. "Sarah, você está errada. Eu tenho tudo a ver com a morte de meu pai", afirmou Joey.

Joey passou vários dias perdido em seus próprios pensamentos. Ele não conseguia se libertar da certeza de que a dor que havia infligido ao seu pai, ao romper com o judaísmo, fora responsável por sua morte. No fundo de sua alma, Joey esperava pela reconciliação. Agora, não poderia mais pedir perdão ao pai ou retornar ao conforto de seu amor. E jamais teria a resposta de que tanto necessitava.

Assim, certa manhã, pegou a mão de Sarah e disse-lhe que não poderia mais permanecer na Índia, pois a viagem não tinha mais significado e acrescentou: "Eu sei que parecerá estranho para você, mas eu preciso ir a Israel". Surpresa, ela lhe perguntou por que ele queria ir a Israel.

"Não sei exatamente a razão, mas sinto-me impelido a fazer esta viagem. Sinto que preciso ir". Embora a contragosto, Sarah concordou em acompanhá-lo. Quando o avião aterrissou em Israel, Joey disse a Sarah que gostaria de rezar. Espantada, ela perguntou-lhe se estava brincando e, como Joey disse que não, quis saber a qual sinagoga iriam.

Mais uma vez, Sarah espantou-se com a resposta do namorado, que afirmou desejar ir ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. "As pessoas acreditam que a Presença Divina é mais forte nesse local do que em qualquer outro. Pessoas do mundo todo vêm rezar no Muro, pedindo a D’us por milagres".

Conformada, mas não convencida, Sarah concordou em segui-lo até o Muro. No caminho, Sarah falou de sua insatisfação diante do comportamento de Joey. Ele queixou-se de sua atitude, afirmando: "Ouça Sarah, eu estou sofrendo, eu amava meu pai. Ele está morto e eu sinto como se o tivesse matado. Por que você está tornando tudo tão difícil para mim?"

Após uma hora de discussão, Sarah disse que suas almas não estavam mais em harmonia, que não eram mais almas gêmeas e cada um seguiu seu caminho.

Ao se aproximar do Muro das Lamentações, Joey parou para observar as pessoas que circulavam. Etíopes usando trajes africanos, iemenitas em roupas tradicionais, americanos de camisetas e pequenas quipot. Todos se dirigindo a D’us.

Joey, então, chegou mais perto e, carregando um livro de orações e com uma quipá na cabeça, começou a imitar os movimentos das pessoas. Encostou sua cabeça nas pedras e começou a orar silenciosamente. Ele pensou que não saberia como rezar, mas as palavras aprendidas há anos, na escola judaica, brotaram de sua mente e de seu coração, trazendo-lhe conforto.

De olhos fechados, foi transportado ao mundo de sua adolescência, relembrando a maneira como o seu pai orava. "Oh, pai, como eu gostaria de pedir o seu perdão. Como gostaria de ter dito o quanto eu o amava; o quanto eu lamento toda a dor que lhe causei. Eu não pretendia feri-lo, pai. Estava apenas tentando encontrar o meu próprio caminho. Você era tudo para mim e eu gostaria de lhe ter dito isso".

Ao terminar, abriu os olhos e olhou ao seu redor, tentando descobrir o que deveria fazer. Observou várias pessoas escrevendo mensagens, dobrando os papéis e colocando-os nos espaços vazios entre as pedras do Muro das Lamentações. Decidiu, então, perguntar a um homem o que este gesto significava e ouviu a seguinte resposta:

"São pedidos e preces. As pessoas acreditam que as pedras são sagradas e que as mensagens serão especialmente abençoadas". Joey perguntou se poderia fazer o mesmo. O homem disse-lhe que sim, avisando-o, no entanto, que não seria muito fácil encontrar um local para a sua mensagem.

Joey então escreveu: "Querido pai, imploro que perdoe a dor que lhe causei. Eu o amava muito e jamais o esquecerei. Saiba que nada do que me ensinou foi em vão. Não trairei jamais os nossos antepassados. Eu prometo". Ao procurar um espaço para sua mensagem percebeu que não seria fácil. Levou quase uma hora para encontrar um espaço, mas logo percebeu que este não estava vazio. Ao tentar colocar a sua mensagem nas pedras, sem querer, derrubou um papel. Ao recolocá-lo nas pedras, abriu-o impulsivamente, encontrando a seguinte mensagem:

"Meu querido filho Joey. Se você algum dia vier e Israel e, por algum milagre, encontrar esta mensagem, quero que saiba que eu sempre o amei, mesmo quando você me magoou. Nunca parei de amá-lo. Você é e sempre será o meu filho amado. Joey, por favor, saiba que eu o perdôo por tudo e espero que você seja capaz de perdoar este homem velho e enlouquecido". A mensagem estava assinada por Adam Ricklis, de Cleveland, Ohio.

Parado, diante do Muro, Joey ouviu uma voz distante perguntando-lhe se estava tudo bem. Ao virar o rosto, Joey viu o homem com o qual conversara anteriormente e que o estava convidando para passar o Shabat em sua casa.

Joey retornou à vida judaica e, três anos mais tarde, estava estudando em uma ieshivá, em Jerusalém. Um dia, o rabino-chefe da instituição disse-lhe que já era tempo de Joey se casar e que sua esposa gostaria de lhe apresentar uma jovem que, segundo ela, era sua alma gêmea. Uma jovem que, como ele, também havia retornado ao judaísmo.

Assim, Joey aceitou um convite para jantar na casa do rabino-chefe. Ao chegar, foi levado para a sala de estar. Lá, sentada em um sofá, estava Sarah, sua ex-namorada. Espantados, ficaram de pé, um em frente ao outro, com lágrimas nos olhos. "Como isso aconteceu, Sarah?", Joey perguntou.

Ela explicou-lhe que depois da separação, já que estava em Israel, decidiu conhecer melhor o país. "E, sem querer, apaixonei-me por Israel, pelas pessoas, e acabei encontrando a escola para moças, onde comecei a estudar. E aqui estou".

Joey disse-lhe, então, que jamais a esquecera, e ela respondeu, com um sorriso: "Acho que agora as nossas almas estão novamente em harmonia".

Extraído do livro "Pequenos milagres – Coincidências extraordinárias
do cotidiano", de Yitta Halberstam e Judith Leventhal