Nos últimos anos tem crescido no Brasil a demanda e o número de programas judaicos voltados apenas para meninas e mulheres. Na vanguarda desse tipo de projeto está a Midrashá Shaarei Biná.

Em seis anos de existência, a Shaarei Biná recebeu em suas duas sedes,  São Paulo e Jerusalém, mais de 750 jovens brasileiras, proporcionando-lhes um reencontro com suas raízes judaicas e, para muitas, uma experiência totalmente nova. Os únicos requisitos para participar desses programas são a vontade de conhecer e se aprofundar no judaísmo.

A Shaarei Biná oferece às participantes todo o suporte e infraestrutura necessários, que inclui hospedagem, programas de estudos e, também, orientação e encaminhamento profissional e pessoal. A entidade já ajudou a realizar cerca de 200 casamentos.

Em entrevista à Revista Morashá, Rony Dayan, um dos idealizadores da Shaarei Biná, explicou como surgiu o interesse de desenvolver um projeto específico para o público jovem feminino. “Sempre houve muitos projetos judaicos voltados para homens. Desde a infância, os meninos se preparam para o bar-mitzvá e, em geral, frequentam mais a sinagoga do que as meninas. Some-se, também, o fato de que há muitas instituições brasileiras cujo público alvo é o masculino. Daí a necessidade de se pensar em maneiras de envolver o segmento feminino, pois, no que tange à formação do lar, a ‘equação’ só se fecha quando tanto o marido quanto a esposa têm fortes valores judaicos. Se ela não tiver recebido educação judaica sólida não terá como repassá-la aos filhos.

Tanto no Brasil como no exterior, o nível de aculturação - para não dizer de assimilação - tem sido uma das principais preocupações comunitárias. Para combater essa tendência, muitas comunidades da Diáspora fizeram da educação judaica feminina uma de suas prioridades. É importante lembrar que são as mães que educam os filhos, garantindo a continuidade judaica dentro do lar e trazendo a emoção do judaísmo para a sua família. Se não investirmos nisso, estamos regando as frutas sem molhar a raiz de nossas árvores”.

Midreshet Shaarei Biná

A Midrashá de São Paulo está sediada no bairro do Pacaembu e tem como meta receber, além das jovens locais, as que vivem em outras cidades brasileiras para uma vivência de um cotidiano estritamente judaico. Com acomodações para 15 pessoas, hospeda principalmente participantes que vêm de fora, pois a maioria das que moram em São Paulo pernoitam em seus lares. O programa de estudos inclui duas horas de aulas de judaísmo por dia e seminários sobre temas judaicos, além de bolsas em faculdades. A Shaarei Biná mantém, também, uma parceria com o SENAC em seus cursos profissionalizantes.

Paralelamente, a Midrashá oferece cursos de formação judaica para jovens que já terminaram o Ensino Médio e desejam dar continuidade aos estudos. Em geral, as jovens só têm aulas de judaísmo na escola, mas depois disso não havia continuidade. A Midrashá vem suprir essa lacuna, oferecendo cursos de judaísmo para solteiras e casadas a partir dos 18 anos.

Dividido por nível de conhecimento, o programa inclui aulas para iniciantes e também para as que possuem um maior conhecimento sobre temas judaicos. O currículo inclui temas como Halachot (leis e costumes), filosofia judaica, Torá, os Profetas e o idioma hebraico. Oferece, também, aulas de ginástica para as interessadas. Em breve, haverá um curso para formação de professoras na área de judaísmo, com diploma reconhecido pelo Ministério de Educação de Israel.

A sede da Midrashá Shaarei Biná em Jerusalém é no bairro nobre de Ramot Bet. A casa possui quatro andares e acomodações para 80 estudantes. Além dos dormitórios e refeitório,  o local possui infraestrutura completa para estudos com salas de aulas amplas e laboratórios de computação e uma piscina para lazer.

A instituição recebe meninas de todo o Brasil para programas de férias ou de longa duração. Há um ano a instituição começou a receber participantes da Argentina, do México e do Panamá.

O programa de férias é realizado nos meses de janeiro, fevereiro ou julho, com a duração de um mês, e inclui aulas e passeios, recebendo em média 160 estudantes em dois períodos. Os objetivos principais são vivência e educação judaica.

A Midrashá oferece também um programa com duração de 10 meses, que conta com cerca de 40 alunas. Denominado Morá Lagolá, é reconhecido pelo Ministério da Educação de Israel e permite às participantes ministrarem aulas em qualquer escola judaica na Diáspora.
As alunas da Midrashá podem participar de um programa no Ulpan, de três a 12 meses, para estudo da língua hebraica, em conjunto com os estudos judaicos. A instituição oferece, também, suporte para estudantes interessadas em cursar faculdades em Israel, oferecendo orientação pedagógica, hospedagem e uso das instalações para estudar.

A Shaarei Biná  é uma opção em Jerusalém para as jovens que, após terem frequentado seus cursos por um ou dois anos, podem continuar ali hospedadas enquanto não concluem os cursos de nível superior, trabalham e são solteiras. Se optarem pela volta ao Brasil, podem contar com o suporte e orientação da sede em São Paulo para a continuidade de uma vida baseada em valores judaicos.

Por trás da instituição

O principal responsável pela Midrashá Shaarei Biná de Israel é o rabino Yossef Bracha. Ele é respeitado por seu vasto conhecimento e por sua  habilidade em lidar com a juventude. Paulistano, enquanto viveu no Brasil, o Rabino Bracha fazia parte da CongregaçãoBeit Yaacov. 

O rabino Rony Bisker é o atual diretor da Midrashá. Dono de personalidade carismática, é formado em Engenharia Civil pela UFRJ e vive em Israel há 15 anos. 

No Brasil, o projeto está sob a direção do rabino Hersch Isler, ex-coordenador da Escola Maguen Avraham de São Paulo.   Enquanto viveu em Porto Alegre (RS), o rabino Hersch trabalhou intensamente pela difusão do judaísmo na capital gaúcha.
 
A Midrashá é uma instituição independente e não possui vínculo com nenhuma corrente religiosa específica, podendo assim atender um público judaico heterogêneo. Por trás do êxito que vem alcançando desde o início de suas atividades está uma diretoria ativa, incansável e profundamente envolvida com os objetivos da instituição.

No Brasil, atua segundo os conselhos do rabinato da Congregação  Beit Yaacov e da Mekor Haim e das ieshivot Guevoá e Cotia; e, em Israel, do rabino Shmuel Pinhassi, autor do  “Imrei Shefer”.

Uma experiência de vida

“Para todas que participam dos programas em Israel, seja por um mês ou por um ano, a experiência é inesquecível”, relata uma das participantes do projeto. “Voltamos para nossas casas não apenas com conhecimentos sobre judaísmo. Voltamos conscientes que mesmo vivendo na Diáspora, Israel tem uma importância central em nossa vida. Voltamos sentindo que tivemos um grande crescimento pessoal. Ao viver juntas 24 horas por dia, aprendemos a cuidar de nós e dos outros. Descobrimos ou redescobrimos o valor da amizade; e que cada ser humano tem problemas, angústias e, principalmente, que precisamos saber ouvir e ajudar, na medida do possível.  Esta convivência faz com que criemos fortes laços de amizades que nos unem mesmo após acabar nossa vivência na Midrashá”.