Grão rabino das congregações judaicas unidas da Grã-Bretanha e da Commonwealth desde 1991, Lord Jonathan H. Sacks é um dos líderes religiosos mais importantes da atualidade. A convite do Instituto Morashá de Cultura e com apoio da Fundação Safra, o rabino Jonathan Sacks visitará São Paulo pela primeira vez em março de 2013.

Dono de uma personalidade marcante, o Rabino Chefe Lord Sacks é um professor excepcional, um autor extremamente prolífico; uma fonte de aconselhamento para políticos; um erudito bíblico e talmúdico e um filósofo. Foi indicado pelo Jerusalem Post, neste ano de 2012, como sendo uma das personalidades mais influentes do mundo judaico da atualidade. Além de seu grande dom de oratória, é autor de 24 livros que foram traduzidos para vários idiomas e colabora frequentemente com a mídia inglesa através do rádio, televisão e dos principais jornais.

Desde o início de sua jornada como rabino, os temas mais abordados por Rabi Sacks, através dos mais diferentes meios de comunicação e perante os mais diversos públicos, são ligados à moral e filosofia judaica. Com suas mensagens, procura sensibilizar judeus e não judeus para questões que considera essenciais para o mundo atual.

Rabi Sir Jonathan Sacks foi agraciado com inúmeros prêmios por sua atuação dentro e fora da comunidade judaica, entre eles o Prêmio Jerusalém de 1995 por sua contribuição à vida judaica na Diáspora; e, em 2011, o Prêmio “Ladislaus Laszt” pelo Envolvimento Ecumênico e Social, concedido pela Universidade Ben-Gurion.

Em 2005, a Rainha Elizabeth II da Grã Bretanha o condecorou como Cavaleiro. Elevado a Par do Reino, recebeu assento na Casa dos Lordes em 27 de outubro de 2009, como membro apartidário, sob o título de Barão Sacks de Aldgate, na Cidade de Londres.

Breve biografia

Jonathan Henry Sacks nasceu em Londres, em 1948. Casado com Elaine, desde 1970, tem três filhos, Joshua, Dina e Gila, e seis netos. Sua filha, Gila, foi Assessora Especial do Primeiro Ministro Gordon Brown.
Considerado um dos pensadores mais originais do mundo judaico, na atualidade, Rabi Sacks tem uma abrangente formação, tanto secular como religiosa. Antes de iniciar sua preparação teológica, ele estudou Filosofia na Universidade Gonville e no Caius College, em Cambridge, onde se formou em 1969. Logo após, estudou em Israel na Yeshivat Tomhei Temimim. De volta à capital inglesa, continuou seus estudos seculares obtendo o mestrado em Filosofia no New College, Oxford (1972) e, posteriormente, o doutorado no renomado Kings’ College de Londres (1981). Possui, ainda, 14 títulos de Doutor Honoris Causa, incluindo ainda o de Doutor em Divindade, que lhe foi conferido pelo Arcebispo de Canterbury para marcar sua primeira década como Rabino Chefe. Em 1973, Rabi Sacks deu continuidade a seus estudos religiosos no Jews’ College (hoje, Escola de Estudos Judaicos) de Londres. Recebeu sua Smichá, a ordenação rabínica, três anos mais tarde, dessa escola e da Yeshivá Etz Chaim. Em 1976, tornou-se rabino da Sinagoga Golders Green, em Londres, onde ficou até 1983, quando assumiu o posto na Sinagoga de Marble Arch.

Suas obrigações como rabino não o impediram de ensinar. Foi professor da cadeira de Pensamento Moderno Judaico no Jews’ College e, em 1984, assumiu a direção da escola, permanecendo no cargo até se tornar Rabino Chefe da Grã-Bretanha. Grande acadêmico, ocupou cátedras na Universidade de Londres e de Manchester, mantendo ainda hoje o cargo de Professor Visitante em prestigiosas universidades do Reino Unido, Estados Unidos e Israel.

Em 1o de setembro de 1991, aos 43 anos de idade, o Rabino Sacks se torna o Rabino Chefe das Congregações Judaicas Unidas, sucedendo o Rabino Lord Jakobovits. O Rabino Sacks anunciou seus planos de se afastar da função em 2013.

Um encontro inspirador

Muitos perguntam ao Rabino Sacks como ele se tornou o líder espiritual que é hoje? Durante uma entrevista, ele revelou o que o levou a seguir este caminho.

“Eu tive o enorme privilégio, em 1968, com 20 anos, quando estudante em visita aos Estados Unidos, de ter dois encontros que mudaram a minha vida. Um com o Rebe de Lubavitch e outro com o Rabino Joseph N. Soloveitchi, ambos já falecidos. O Lubavitcher Rebbe me desafiou a ser um líder, enquanto que Rav Soloveitchik me levou a ser um pensador. Esses dois momentos, há tanto tempo, moldaram a minha vida”.

Rabi Sacks costuma contar que em três momentos cruciais de sua vida o Rebe de Lubavitch lhe indicou o caminho a ser seguido. O primeiro deles foi em 1968, como mencionado acima. Rabi Sacks foi ao número 770 da Eastern Parkway para ver o Rebe, mas os Chassidim lhe avisaram que seria praticamente impossível conseguir uma hora. Ele insistiu muito e deixou um telefone onde podia ser localizado. Quando recebeu a notícia de que o Rebe o receberia, estava em Los Angeles. Não teve dúvidas e viajou 72 horas de ônibus de volta a Nova York.

No encontro, após uma “conversa intelectual e filosófica”, o Rebe começou a lhe fazer perguntas: quantos estudantes judeus havia em Cambridge, quantos estavam envolvidos com a vida judaica e o que ele pessoalmente estava fazendo para atrair mais judeus?

Tentando se esquivar, ele respondeu: “Na situação em que me encontro…”, mas o Rebe fez algo que não lhe era comum: ele o interrompeu no meio da frase. Disse: “Ninguém se encontra em uma situação; você se coloca em uma situação. E se você se coloca em uma situação, pode também se colocar em outra”. “Aquele momento mudou a minha vida”, afirma Rabi Sacks.

Voltando à Inglaterra, o Rabino Sacks se casou, e começou a dar aula de Filosofia, enquanto trabalhava em sua tese de doutorado. Mas, sentindo que não tinha se empenhado em responder ao desafio do Rebe, começa a estudar para obter a Smichá e se qualificar como rabino. Considerando que isso era o bastante, decide que já era tempo de retomar sua vida.

Em 1978, novamente vai visitar o Rebe. Estava diante de um dilema pessoal: se devia seguir ou não carreira acadêmica – tornar-se professor, economista ou advogado – um advogado que debatesse em todos os tribunais superiores. A resposta do Rebe foi categórica: “Nenhuma das três opções.
O judaísmo inglês está carente de líderes religiosos e, assim sendo, você deve preparar rabinos no Jews’ College, e se tornar rabino de uma congregação. Assim, seus alunos ouvirão seus sermões e aprenderão com eles”. Rabino Sacks fez o que o Rebe lhe aconselhou: preparou rabinos, ensinou no Jews’ College e se tornou rabino de uma congregação.

Durante um jantar de gala da Conferência dos Emissários de Chabad-Lubavitch, em novembro de 2011, o Grão Rabino contou: “Desistindo de minhas três ambições de carreira, e decidindo seguir em uma direção totalmente oposta, uma coisa engraçada aconteceu.

Tornei-me fellow de minha faculdade, em Cambridge. E me tornei professor... Também fiz duas importantes palestras sobre assuntos econômicos prementes para a Grã Bretanha… e a Inner Temple1 me concedeu o título de Advogado Honorário e me convidou para proferir uma aula sobre Direito perante 600 juristas, além do Lord Chancellor – posto mais alto entre os advogados, e a Princesa Anne. Com isso, vejam, nunca se sai perdendo por colocar o judaísmo em primeiro lugar! E eu aprendi algo: às vezes, a melhor maneira de realizar suas ambições é parar de procurá-las e deixar que elas o procurem”.

Em 1990, mais uma vez o Rebe desempenhou um papel crucial na trajetória de vida de Rabi Sacks. O judaísmo britânico buscava um novo Rabino Chefe. Tudo indicava que ele seria um dos candidatos. Mas ele não tinha certeza de ser a pessoa certa para o cargo nem se o cargo era certo para ele. Pediu o conselho do Rebe: “Se eles me oferecerem a posição, devo aceitar?”. O Rebe respondeu que sim. E ele assim o fez, ajudando a traçar o rumo e a moldar o perfil da comunidade judaica britânica nas duas últimas décadas.

Atuação como Rabino Chefe

O cargo de Rabino Chefe foi criado na Grã-Bretanha em 1845 e Rabi Sacks é o sexto líder espiritual a desempenhar a função. Ele lidera o Gabinete do Rabinato Chefe, que consiste de outros 14 rabinos, seus conselheiros em várias áreas, como educação judaica, Israel, relações cristão-judaicas, assuntos relacionados ao Beit Din e inúmeras outras que requerem a atenção dos membros religiosos da comunidade.

Desde o dia em que assumiu o cargo, ele tem se empenhado em implementar vários projetos inovadores, construir novas escolas e melhorar o nível da educação judaica inglesa, visando a formação de líderes. O Rabino sempre enfatizou a necessidade de chegar aos judeus que, de alguma forma, sentem-se negligenciados pela comunidade judaica.

Durante os dez primeiros anos, priorizou as áreas da juventude, das mulheres e pequenas comunidades espalhadas pela Grã-Bretanha, através de um programa que denominou Década da Renovação Judaica. Uma iniciativa que tinha como objetivo aprimorar inúmeros aspectos da vida judaica britânica, incluindo educação e desenvolvimento comunitário.

Em 1993, como parte do programa Década da Renovação Judaica, criou a Continuidade Judaica, uma fundação nacional voltada à elaboração de programas educacionais, culturais e trabalho comunitário de campo. Esta fundação abrange toda a comunidade e visa, principalmente, despertar o interesse da juventude em relação à sua herança judaica.

Criou, ainda, a Associação de Ética Judaica nos Negócios (Association of Jewish Business Ethics), e o programa de bolsas de estudo do Rabinato Chefe e o Desenvolvimento Comunitário, um programa nacional para aperfeiçoar a vida judaica nas comunidades, em parceria com a União das Sinagogas. Em 1993 criou o Prêmio de Excelência do Rabinato Chefe, premiando pessoas comuns por trabalho de valor, em todo o país, cujo mérito ainda não fosse reconhecido pela comunidade.

O Rabino Chefe iniciou sua segunda década no cargo com um apelo à “Responsabilidade Judaica” e um renovado comprometimento com a dimensão ética do judaísmo.

Assimilação e antissemitismo

Para o Rabi Sacks, os maiores desafios que a Diáspora enfrenta atualmente são a assimilação e o antissemitismo e o caminho para combatê-los é fortalecer a identidade judaica através da educação judaica desde a infância. O Rabino se empenha em levar os membros da comunidade a colocarem seus filhos em escolas judaicas. Ele acredita que esta é a única forma efetiva de combater a assimilação. Segundo ele, os setores da comunidade que assim pensam conseguiram reduzir consideravelmente os casamentos mistos. Enfatiza sua crença na educação judaica: “Nós estamos perdendo judeus em um ritmo alarmante. Se não fizermos nada, a comunidade morrerá. Para nós, a solução é evidente: temos que revigorar e rejuvenescer a comunidade e a história nos ensinou que a educação é a ferramenta mais poderosa… Estamos em uma guerra, e na guerra os fins justificam os meios”.

Há alguns anos, visando atingir os pais de crianças judias, Rabi Sacks endossou uma polêmica campanha publicitária para promover um debate público, ele lembra: “Lançamos um grande anúncio com lindos jovens judeus, aqueles que nós todos queríamos que nossos filhos fossem, e um a um eles iam caindo no abismo... No título, dizia: ‘A Grã-Bretanha vem perdendo judeus dia após dia, há 40 anos’. A campanha funcionou!”.

Em 1993, 25% das crianças da comunidade estudavam em escolas judaicas; em 2005, este índice subiu para 63%. Essa tendência teve reflexos na vida comunitária em geral, com um aumento das manifestações artísticas judaicas, maior participação em festivais de cinema, realização de conferências, além da criação de centros comunitários e museus. “A comunidade está crescendo novamente”, afirma o Rabino Chefe.

O antissemitismo é, sem dúvida, um grande problema na Europa. O Rabino Sacks acredita que para combatê-lo, os judeus devem contar com aliados: “Não podemos combater o antissemitismo sozinhos. A vítima não pode curar o crime, os odiados não podem curar o ódio. Assim, estamos trabalhando sobre este problema, na Inglaterra, e conseguimos ser o primeiro país onde a luta contra o antissemitismo é conduzida por não judeus”.

Seu país, afirma, tem uma tradição de convivência entre os diferentes grupos que formam a sociedade e cita como exemplo a criação do Conselho de Cristãos e Judeus em 1942, durante o Holocausto, pelo arcebispo William Temple e pelo Rabino Chefe Joseph Hertz. “Esta foi uma das primeiras grandes organizações interreligiosas da Grã-Bretanha. Atualmente, há centenas de grupos similares que criam laços de amizades através das fronteiras das diferentes religiões, onde, de outro modo, imperaria a desconfiança e o medo”, disse Rabi Sacks. Em 1952, no primeiro ano de seu reinado, a Rainha Elizabeth tornou-se patrona da entidade.

Sobre a Rainha

Quando fala das relações entre a comunidade e a realeza, a Rainha em especial, o Rabino Sacks costuma mencionar um episódio que presenciou durante o 60º aniversário de libertação do campo de Auschwitz. “Era o dia 27 de janeiro de 2005. Estávamos no Palácio St. James. A Rainha encontrava-se com um grupo de sobreviventes do Holocausto. Quando chegou o momento de partir, ela permaneceu no local. Um de seus acompanhantes disse que jamais a tinha visto ficar após a hora marcada. Ela deu a cada sobrevivente – era um grupo grande – total atenção, sem nenhum sinal de pressa. E permaneceu no local até que cada um terminasse de contar sua história pessoal. Foi um ato de bondade que quase me fez chorar.

Um após o outro, os sobreviventes vinham a mim dizendo: ‘Há 60 anos, eu não sabia sequer se estaria vivo no dia seguinte, e veja, estou aqui hoje, conversando com a Rainha’ ”. Segundo Rabi Sacks, os judeus sentem grande respeito pela soberana e pela família real. Em cada Shabat, as comunidades fazem uma prece especial abençoando-a e brindam em sua homenagem em cada jantar comunitário. “Eles dão valor à Rainha, pois sabem que ela faz o mesmo em relação a eles”.

Sua obra

Escritor nato, o Rabino Sacks já escreveu 24 livros de interesse de judeus e não judeus. Sua obra é traduzida ao francês, italiano, holandês, alemão, português, coreano e hebraico. Esses livros refletem seu pensamento e sua filosofia de vida. Em One People, ele defende a unidade judaica. No livro The Dignity of Difference: How
to Avoid the Clash of Civilizations
(A dignidade da diferença: Como evitar o confronto das civilizações), ele fala sobre a importância das diferenças religiosas. Em seu ver, “para evitar um choque de civilizações não
se deve tentar vencer as diferenças entre as diferentes fés, mas apreciar ‘o outro’ em toda a sua diferença”.
Seu livro mais recente, The Great Partnership: God, Science and the Search for Meaning (A grande parceria: D’us, a Ciência e a busca pelo significado), foi publicado em julho de 2011.

O Rabino apresenta o livro como uma forma de promover a discussão entre a Ciência e a Religião, tendo sua força moral, intelectual e literária apoiada nas várias passagens onde podemos entrever uma pessoa profundamente preocupada em busca de “significado”, ou talvez procurando formular uma resposta inteligente e humana para um Universo que vive equilibrando-se à beira da insensibilidade. O autor acredita que enquanto “os indivíduos podem viver sem significado, as sociedades não o conseguem” – e apenas D’us pode prover o significado de que tanto carecemos.

Rabi Sir Jonathan Sacks recebeu vários prêmios literários, como o “Grawemeyer” para Religião, em 2004, por The Dignity of Difference; o Prêmio Nacional do Livro Judaico, em 2000, por Letter in the Scroll (Uma letra no pergaminho), e em 2009, por Covenant & Conversation Volume (Volume sobre alianças e conversas).

1   A Honorável Sociedade de Inner Temple, que congrega as três associações profissionais de advogados e juízes

Livros publicados no Brasil

Editora Maayanot:
Teremos Netos Judeus?
Cartas para a próxima geração - Reflexões sobre Yom Kipur - Vol. I
Cartas para a próxima geração - Reflexões sobre a vida judaica agora - Vol. II

Editora Sêfer:
Uma letra da Torá
Para curar um mundo fraturado
Celebrando a vida