Reconhecida pela sua atuação na vida da comunidade dos Estados Unidos, desempenhou um papel fundamental em prol do sionismo e da saúde pública no Estado de Israel.

Se somos realmente sionistas como afirmamos, qual o sentido de nos reunirmos apenas para tomar chá? Vamos fazer algo útil – vamos organizar as mulheres judias da América e enviar enfermeiras e médicos para Eretz Israel”. Com estas palavras, Henrietta Szold deu início ao processo que levou ao surgimento da Organização de Mulheres Sionistas da América – Hadassah *, movimento que se espalhou dos Estados Unidos para o mundo e deu origem à organização médica que leva o mesmo nome em Israel. Contando atualmente com quatrocentos mil membros, o movimento criado por Henrietta, em 1912, com apenas 38 mulheres, tornou-se o maior de todos o grupos sionistas norte-americanos e a maior instituição feminina judaica do mundo.

A mais velha das oito filhas do rabino Benjamin Szold – um dos líderes da comunidade judaica de Baltimore – Henrietta nasceu em 1860 e estudou, com seu pai, hebraico, Bíblia, Talmud e História Judaica, algo raro entre as meninas da época, além de ter freqüentado a escola judaica da cidade, onde aprendeu também alemão. Posteriormente, formou-se professora e assistente social, tornando-se uma das pioneiras na estruturação da vida e da cultura judaica nos EUA.

Acompanhando sempre de perto a atuação comunitária de seu pai, Henrietta pode observar as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes europeus vindos da Europa Oriental, principalmente aqueles que buscavam refúgio na América fugindo dos pogroms da Rússia. Foi pensando principalmente neles que, em 1898, resolveu colocar em prática uma idéia – organizar cursos noturnos para adultos nos quais os recém-chegados poderiam estudar inglês e se familiarizar com os princípios básicos da vida americana. Assim, simultaneamente à função de professora – que exercia durante o dia – começou também a lecionar para adultos, depois de alugar uma sala em um dos pontos mais baratos da cidade de Baltimore. A primeira aula contou com 30 alunos.

Henrietta, no entanto, não era uma personalidade passiva que se contentasse em desenvolver apenas uma atividade. Assim, além de lecionar, acumulava outras funções. Foi correspondente do jornal de Nova York, Jewish Manager, e costumava assinar os seus artigos como Sulamit. Em 1893, aos 33 anos, assumiu o cargo de secretária do Conselho Editorial da Jewish Publication Society (JPS), cuja missão principal foi editar as primeiras edições do American Jewish Year Book. Sua dedicação ao trabalho fez com que, até 1916, ela fosse, na prática, a editora das obras da sociedade. Nesse ano afastou-se da JPS para se dedicar totalmente à Hadassah.

Fluente em hebraico, alemão, francês e com amplos conhecimentos de ídiche, decidiu editar os textos acadêmicos de seu pai, após a sua morte, em 1902. Para isso, no entanto, sentia que lhe faltavam conhecimentos. Decidiu candidatar-se a uma vaga no Seminário Teológico Judaico de Nova York, sendo a primeira mulher a ser aceita na instituição. Paralelamente ao seu trabalho em prol da comunidade de Baltimore, Henrietta também se identificava com os ideais sionistas.

Assim, em 1909, acompanhada por sua mãe, fez a sua primeira visita a Eretz Israel e, como inúmeros judeus, viu-se diante do seguinte dilema – estabelecer-se na região e ajudar a construir um novo país ou retornar para os EUA e retomar suas atividades. Posteriormente, quando questionada sobre esse momento, dizia ter tido o seguinte pensamento: “Se eu fosse dez anos mais jovem, saberia que o meu lugar era em Eretz Israel. Naquele momento eu percebi que o sionismo era a tarefa mais difícil que eu já enfrentara até então... (mas) se não for o sionismo, não haverá nada... então será a extinção dos judeus”. Henrietta permaneceu em Eretz Israel até 1910, quando retornou a Baltimore e reassumiu suas funções na JPS, sendo também nomeada secretária da Federação Sionista dos Estados Unidos.

As imagens do que havia visto nas comunidades judaicas de Eretz Israel, porém, não saíam de seus pensamentos, principalmente no referente à falta de infra-estrutura e serviços básicos de saúde. Foi, então, que decidiu concentrar suas energias na organização de um movimento que tivesse como objetivo primordial melhorar as condições da saúde dos judeus na terra de seus ancestrais. Reunindo um grupo de 38 mulheres, expôs suas idéias. Era o dia 24 de fevereiro, que coincidia com a comemoração de Purim e lembrava a atuação da rainha Ester para salvar os judeus da trama armada por Haman. Inspiradas no exemplo da sobrinha de Mordechai, essas mulheres escolheram para sua organização o nome Hadassah, que significa Ester em hebraico, e Henrietta foi eleita sua primeira presidente. Durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou ao lado da organização norte-americana Joint Distribution Committee em favor dos judeus de Eretz Israel.

Em 1916, a Hadassah já possuía quatro mil membros e Henrietta foi encarregada de organizar a formação da Unidade Médica Sionista Americana em Eretz Israel. Nesse mesmo ano, a entidade conseguiu o apoio do juiz federal Julian Mack, que se tornaria um dos principais filantropos de Henrietta e de sua instituição. Para que ela pudesse se dedicar integralmente a essa missão, um grupo de beneméritos liderados por Mack garantiu-lhe uma renda vitalícia.

A Hadassah iniciou suas atividades em Eretz Israel em 1913, com a implantação de um berçário e, em 1918, para lá foi enviada uma unidade médica. Naquela época, quatro em cada dez crianças não sobreviviam sequer um ano. Assim, em 1920, Henrietta retornou para Eretz Israel prevendo ficar apenas dois anos para supervisionar a unidade médica. Porém, o que se iniciou como um projeto provisório acabou estendendo-se pelo resto de sua vida e a aliá, que não fora feita em 1909, acabou concretizando-se.

Totalmente absorvida pela importância do trabalho que estava sendo realizado, Henrietta enfrentou crise após crise, superando desafios e implantando uma gama de serviços. Sob seu comando e juntamente com a Escola de Treinamento de Enfermagem de Jerusalém espalharam-se berçários, laboratórios e clínicas que ofereciam tratamentos gerais para a população judaica e árabe da região, além de implantar programas de medicina preventiva nas escolas e nos lares.

Com a fundação da Universidade Hebraica de Jerusalém, em 1925, Henrietta estimulou a aproximação da unidade médica que chefiava à entidade educacional que nascia, dando os primeiros passos para o surgimento de uma instituição médica moderna que se transformaria, posteriormente, no Hospital Hadassah, um dos mais importantes e respeitados centros de medicina em Israel e no mundo. A pedra fundamental da instituição foi lançada no Monte Scopus, em Jerusalém, em 1934.

Em reconhecimento ao seu empenho na reconstrução de um lar nacional para os judeus, em 1927 Henrietta foi indicada para ser um dos três líderes da nação embrionária, passando a integrar o Executivo Sionista. Este era o órgão de autogoverno judaico, encarregado dos assuntos internos da comunidade judaica, durante o Mandato Britânico na Palestina. Ela assumiu as pastas de Educação e Saúde, estabelecendo cursos profissionalizantes.

O passar dos anos, ao invés de diminuir seu entusiasmo e sua energia, levava-a a buscar novos projetos. Aos 70 anos, Henrietta começou a organizar o Escritório Central de Assistência Social de Eretz Israel, concentrando sua atenção principalmente nos jovens delinqüentes e no cenário europeu, em particular na Alemanha, país no qual ascendia o nazismo e frutificava o ódio aos judeus. Em 1933, ela participou da Conferência sobre Judaísmo Alemão, em Londres.

No mesmo ano, fundou a Aliat Hanoar – movimento que organizou, inicialmente, a saída e o estabecimento de jovens da Alemanha nos kibutzim de Eretz Israel. Ela supervisionou, pessoalmente, a emigração das crianças e dos jovens da Alemanha e sua posterior absorção em seu novo lar. Mais tarde a Aliat Hanoar estendeu sua ação por todos os países onde o nazismo avançava e, no período de 1933 a 1945, foi responsável pela chegada a Eretz Israel de cerca de 30 mil órfãos e menores desacompanhados, que de outro modo teriam perdido a vida nos campos de morte de Hitler. Sua atuação na Aliat Hanoar valeu-lhe o título de “Mãe da Comunidade”.

Pouco antes de sua morte em Eretz Israel, em 1945, escreveu a seguinte frase sobre o conflito entre árabes e judeus: “Acredito que haja uma solução; e se nós não pudermos encontrá-la, então, para mim, o sionismo terá falhado totalmente em seus objetivos”. O kibutz Kfar Szold, localizado no norte da Galiléia, foi assim denominado em sua homenagem.

Hadassah, centro de referência em medicina

A Organização Médica Hadassah, em Jerusalém, é o projeto pioneiro da Organização de Mulheres Sionistas da América, que leva o mesmo nome. Fundada em 1912, nos Estados Unidos, por Henrietta Szold foi criada com o objetivo de criar a infra-estrutura básica para a saúde em Eretz Israel. Em 1913, foram enviadas para a região duas enfermeiras especializadas em saúde pública com a meta de implantar uma maternidade e os serviços para tratamento de crianças com tracoma. Em 1918, com a queda do Império Otomano e início do Mandato Britânico na Palestina, foi inaugurada a primeira Unidade Médica Sionista da América na área. Nos anos seguintes, a entidade patrocinou a implantação de uma rede de clínicas e hospitais nas comunidades judaicas da região.

Em 1934 foi lançada a pedra fundamental do Hospital Hadassah, no Monte Scopus, inaugurado em 1939, garantindo atendimento igualitário para árabes e judeus. Em abril de 1948, 78 médicos e enfermeiras foram massacrados quando se dirigiam ao hospital. De então até 1967, a região de Monte Scopus, incluindo o hospital, permaneceu sob controle árabe, retornando ao domínio israelense após a reunificação de Jerusalém pelas Forças de Defesa de Israel, durante a Guerra dos Seis Dias.

Mesmo sem ter o Hospital como centro de suas atividades, a Organização Médica Hadassah não interrompeu o seu trabalho. A rede de serviços foi estabelecida em caráter de emergência em missões cristãs e conventos, no centro de Jerusalém, enquanto os esforços eram concentrados para a construção de um novo centro de excelência médica, ensino e pesquisa. Assim, em 1961, foi inaugurado o novo centro médico Hadassah, em Ein Kerem, no setor ocidental da cidade, centralizando novamente todas as atividades.

Em 1978, como resultado de amplos esforços e dedicação dos membros da Organização de Mulheres Sionistas da América, o prédio original do Hospital Hadassah no Monte Scopus foi reinaugurado. Alas antigas foram totalmente reformadas e outras, novas, construídas, transformando o nome Hadassah em uma das principais instituições médicas e de pesquisa científica de Israel, reconhecida em todo o mundo. Os dois hospitais possuem aproximadamente mil leitos e mais de seiscentos mil pacientes de Israel e do exterior são atendidos anualmente.

O Hospital de Ein Kerem dedica-se principalmente a novas especialidades e práticas médicas, sendo pioneiro em áreas como esterilidade masculina, transplantes de medula, coração, pulmão e fígado, terapias genéticas, entre outras áreas. A unidade de Monte Scopus atua mais como centro regional atendendo as populações judaica e árabe das regiões norte e oriental de Jerusalém.

* A organização Hadassah usa, no Brasil e em outros países, o nome Wizo (Women’s International Zionist Organization).