Há cem anos, um cientista judeu chamado Albert Einstein começou a publicar uma série de trabalhos, dentre os quais a consagrada Teoria da Relatividade, nos quais provou que existiam, de fato, átomos e moléculas; criou a base para a mecânica quântica ao revelar que a luz se comportava como se fosse formada por partículas, além de revolucionar os conceitos de tempo, massa e energia em relação ao espaço. A partir de então, tudo mudou na percepção do universo e no mundo da ciência.

Um dia, perguntaram-lhe qual seria a sua reação se lhe provassem que a Teoria da Relatividade estava errada. "Eu teria sentido pena do nosso bom D'us. A teoria é mais do que correta", respondeu. Em 1921, quando chegou pela primeira vez aos Estados Unidos, ainda no navio, um repórter indagou: "O senhor pode explicar a relatividade em poucas palavras?" Respondeu: "Se você não levar minhas palavras muito a sério, mas como se fossem uma piada, eu tenho o seguinte a explicar: antigamente se acreditava que, se todas as coisas materiais sumissem do universo, restariam o tempo e o espaço; entretanto, de acordo com a Teoria da Relatividade, o tempo e o espaço também desapareceriam". Essa viagem aos Estados Unidos foi um importante marco na vida de Albert Einstein, não do ponto de vista científico, mas por ter correspondido à sua primeira ação pública e internacional em favor da causa sionista, à qual permaneceu fiel durante toda a vida.

Albert Einstein, filho de Herman e Pauline, nasceu às onze e meia da manhã do dia 14 de março de 1879, na cidade alemã de Ulm. Seus pais descendiam de uma comunidade judaica que ali vivia ao longo de gerações. Era um povoado no qual os judeus conservavam sua identidade de forma integral, sem se misturar, mas vivendo em harmonia com a sociedade alemã. No ano seguinte a família mudou-se para Munique e um ano mais tarde nasceu uma filha, Maja. A primeira escola freqüentada por Albert foi um colégio católico enquanto em casa tinha aulas de religião judaica. Com doze anos de idade começou a se preparar para o bar mitzvá, mas não chegou a cumprir a cerimônia porque já se julgava um livre pensador. A relação de Einstein com o judaísmo tem sido objeto de diferentes interpretações por seus biógrafos. Em sua época, a maioria dos cientistas eram agnósticos, mas Einstein deixou clara sua posição: "Ser judeu representa, em primeiro lugar, reconhecer e seguir na prática os princípios fundamentais da humanidade formulados na Bíblia, sem os quais nenhuma comunidade composta de homens sadios pode existir". E o professor Bernardo Kliksberg, presidente da Comissão de Desenvolvimento Humano do Congresso Judaico Latino-americano, acrescenta em seu livro Einstein, Humanismo e Judaísmo: "Para Einstein, em segundo lugar, ser judeu significa praticar uma espécie de culto pelo intelecto, pela cultura e pelo espírito. Classifica isto como um traço central na identidade dos judeus, fomentado através de gerações no lar e no povo".

Em 1894, a família Einstein transferiu-se para a Itália. Albert ficou com parentes na Alemanha, para terminar o segundo grau. Não chegou a se formar e partiu ao encontro dos pais, obtendo o diploma somente no ano seguinte. Com dezessete anos de idade, residindo na Suíça, decidiu renunciar à cidadania alemã e prosseguiu os estudos com a intenção de se tornar professor de física e matemática. Já cidadão suíço, começou a lecionar numa escola particular e depois conseguiu um emprego no Departamento Suíço de Patentes. Em 1903, casou-se com a húngara Mileva Maric, com a qual já tinha uma filha, Lieserl. O primeiro filho, Hans Albert, nasceu no ano seguinte. O ano de 1905 foi o do seu grande despertar. Os artigos que publicou nos Anais de Física, especialmente um deles, intitulado "Sobre a Eletrodinâmica dos Corpos Móveis", contém os fundamentos da Teoria da Relatividade com a famosa fórmula E=mc2. Desde então, sua carreira científica tornou-se meteórica. Recebeu o grau de Doutor das universidades de Berna e de Genebra e foi chamado, em 1910, para lecionar na Universidade Germânica, em Praga, ano em que nasceu seu segundo filho, Eduard. Após uma temporada na antiga Checoslováquia, seguiu para Berlim, onde se tornou membro da Academia Prussiana de Ciências e se separou da mulher, aproximando-se de uma prima divorciada, Elsa Lowenthal.

Em 1919, já famoso no mundo inteiro, Einstein foi alçado à condição de mito. Isto porque os fenômenos ocorridos durante um eclipse do sol, observados pelo astrônomo inglês Arthur S. Eddington, concorreram para ratificar integralmente a Teoria da Relatividade. Albert e Elsa se casaram no dia 2 de junho daquele ano. Pouco depois, o físico alemão Philip Lenard, já detentor de um Prêmio Nobel, lançou um feroz ataque contra a Teoria da Relatividade, com nítido conteúdo anti-semita. A investida foi tão virulenta e recebeu tantos endossos na área acadêmica que Einstein chegou a pensar em abandonar a Alemanha. Dois anos mais tarde, entretanto, sua vida ganharia nova dimensão por conta de seu engajamento na causa sionista.

Um dos melhores biógrafos de Einstein, o americano Ronald W. Clark, escreveu: "Como deve ter sido difícil para Einstein mover-se do mundo da física para a apaixonada turbulência da criação de uma nova Jerusalém. Como deve ter sido fatigante para os sionistas atrair para a sua causa o mais famoso dos judeus e, em seguida, constatar que ele era um mau orador e que, muitas vezes, por simples ingenuidade, emitia declarações que causavam problemas".

O próprio Einstein afirmou que só tomou plena consciência de seu judaísmo quando se radicou em Berlim, em 1914, e constatou que a corrente assimilacionista entre os judeus alemães era crescente porque eles não se sentiam parte do povo judeu, mas apenas membros de uma comunidade religiosa. Além disso, ele via o movimento iniciado por Herzl mais como uma fantasia do que como uma possibilidade concreta. Einstein se opunha a qualquer forma de nacionalismo, uma convicção que ficou ainda mais fortalecida depois da Primeira Guerra Mundial. O primeiro motivo para que revisse sua posição foi a Declaração Balfour, de 1917, na qual o governo britânico, mandatário na Palestina, admitia a futura existência de um Lar Nacional Judaico na Terra Prometida. Paralelamente, ficou impressionado com o afluxo para a Alemanha de refugiados judeus, provenientes do leste europeu, e com a indiferença com que eram recebidos pelos judeus alemães, embora suas condições de sobrevivência fossem as mais penosas. Outra razão que o aproximou do sionismo foi a perspectiva da implantação de uma Universidade Hebraica em Jerusalém, voltada para os judeus e dirigida por judeus.

O homem responsável pelo recrutamento de Einstein chamava-se Kurt Blumenfeld. Ele sabia que o cientista não tinha a menor ligação com o sionismo, mas estava certo de que tê-lo nas fileiras representaria um formidável exemplo. Blumenfeld deixou um testemunho sobre seu primeiro encontro com Einstein, no qual começou falando sobre a questão judaica, tal como havia sido formulada por Herzl, logo ouvindo a seguinte pergunta: "O que isso tem a ver com o sionismo?" Blumenfeld respondeu que a idéia sionista daria um sentimento de segurança ao povo judeu. Einstein gostou do argumento, mas prosseguiu com outras observações, algumas realmente ingênuas, como: "Será que é uma boa idéia tirar os judeus de onde nasceram? Não será um pensamento retrógrado querer que os judeus se dediquem a trabalhos manuais, como a agricultura, já que estão tão afastados da vida no campo? Será que é necessário criar um movimento nacional judaico para solucionar a questão judaica?" Em uma conversa posterior, Einstein lhe disse, com todas as letras: "Eu sou contra o nacionalismo, mas sou favorável ao sionismo. Isso me ficou muito claro quando refleti sobre o seguinte exemplo: se uma pessoa tem os dois braços e vive repetindo que tem o braço direito, não passa de um chauvinista; entretanto, se um braço faltar, alguma coisa tem que ser feita para substituí-lo".

O apoio de Einstein ao sionismo deu-se num momento em que era complicada a situação na Alemanha, com um acentuado crescimento de posições em favor da assimilação e também por causa do que era visto como uma poderosa influência judaica na revolução bolchevique. Inúmeros judeus dirigiram-se a Einstein, dizendo-lhe que a causa sionista em nada ajudava os judeus alemães e que a insistência pelo estabelecimento de um Lar Nacional fora da Europa poderia resultar na expulsão da comunidade para o Oriente Médio. Em abril de 1920, Einstein se recusou a comparecer a um ato público organizado pela "Associação Central de Cidadãos Alemães de Fé Judaica", endereçando-lhes uma carta na qual escreveu: "Quando vejo uma expressão como "cidadãos alemães de fé judaica", não posso deixar de sorrir, tristemente. O que há escondido atrás desse rótulo? O que é fé judaica? Existe alguma forma de descrença através da qual alguém deixa de ser judeu? Eu não sou cidadão alemão ou sequer existe algo em mim que possa ser designado como fé judaica. Mas, sou judeu e tenho orgulho de pertencer ao povo judeu".

Nessa mesma vertente, ele escreveu cinco anos depois: "O judeu alemão que luta pelo povo judeu e pelo lar nacional judaico na Palestina não deixa de ser alemão, assim como o judeu que se converte e troca de nome não deixa de ser judeu. A antítese não está entre ser judeu ou ser alemão, mas entre a honestidade e a falta de caráter. Quem permanece fiel à sua origem e tradição, também é fiel ao estado do qual é cidadão".

Quem, de fato, fez com que Einstein se engajasse no ideal sionista foi o cientista judeu Chaim Weizmann, nascido na Rússia e naturalizado cidadão inglês, depois eleito primeiro presidente de Israel. A princípio, o relacionamento entre os dois conteve áreas de atrito. Um homem como Einstein, cuja mente sempre estava voltada para valores ideais, discordava das manobras políticas que Weizmann era obrigado a empreender para fazer avançar o movimento. De fato, enquanto o movimento sionista via o futuro Lar Nacional Judaico como um estado político a ser criado para propósitos políticos, Einstein o encarava de modo emocional, antevendo a Terra Santa como um grande centro para o florescimento da cultura. Enquanto os sionistas conclamavam as massas judaicas para emigrar para a então Palestina, Einstein anteviu que a oposição dos árabes seria intensificada e, mesmo diante de uma possível futura confrontação, continuou fiel a seus ideais pacifistas.

No final de 1920, Weizmann pediu a Einstein que o acompanhasse numa viagem aos Estados Unidos, com a finalidade de arrecadar contribuições para o Fundo Nacional Judaico, o Keren Hayesod. Ele relutou, embora tivesse ficado seduzido pela perspectiva da criação de uma Universidade Hebraica, item prioritário que também constava da agenda de Weizmann. Em sua primeira resposta a Blumenfeld, o cientista disse não se sentir à altura do que dele esperavam. Seguiu-se novo telegrama de Weizmann, novo pedido, e Einstein, possivelmente movido pelo furioso ataque recebido por parte de Lenard, disse a Blumenfeld: "Para você, o telegrama de Weizmann é uma ordem. Eu concluo que faço parte do esquema e, portanto, sou obrigado a aceitar o convite. Diga a Weizmann que concordo em viajar".

A notícia da viagem de Einstein aos Estados Unidos espalhou-se como um rastilho de pólvora. Dezenas de universidades e associações científicas americanas afluíram com pedidos de palestras. Ficou claro para Weizmann que a presença de Einstein na América valeria pelo menos o dobro para a disseminação da causa sionista. No dia 21 de março de 1921, Albert e Elsa embarcaram na Holanda no navio Rotterdam, onde já os aguardavam Vera e Chaim Weizmann. A chegada em Nova York correspondeu a uma frenética investida da imprensa e o comitê de recepção incluía as mais destacadas autoridades locais. Atônito, Einstein apenas murmurou: "Estou me sentindo uma prima donna". No dia seguinte, um repórter escreveu: "Com aquele sobretudo já meio surrado, o cachimbo numa mão e o violino na outra, ele mais parecia um artista, um músico". No Lower East Side de Nova York, Weizmann e Einstein tiveram uma recepção triunfal. Cerca de cinco mil pessoas usavam distintivos com lemas sionistas e agitavam bandeiras azuis e brancas, naquele tempo ainda sem a Estrela de Davi no meio. No decorrer da viagem, Albert Einstein ocupou-se com três assuntos: a arrecadação de fundos para o Keren Hayesod, o mesmo com relação à futura Universidade Hebraica e palestras científicas para o mundo acadêmico americano.

De volta a Berlim, Einstein refletiu que os judeus americanos lhe haviam proporcionado uma imagem bem diferente daquela que fazia com relação aos judeus da Europa e escreveu: "Foi na América que eu descobri o povo judeu. Aqueles judeus, vindos da Rússia, da Polônia, do leste da Europa de um modo geral, mantinham um saudável sentimento nacional que não foi destruído pela dispersão. Considero-os criativamente práticos e prontos para o auto-sacrifício".

Em seqüência à sua ação sionista nos Estados Unidos, Einstein desembarcou em Tel Aviv no dia 2 de fevereiro de 1923, sendo em seguida recebido em Jerusalém pelo Alto Comissário Britânico, um judeu, Sir, depois Lord Herbert Samuel, com quem estabeleceu uma sólida amizade pelo resto dos anos. Em Tel Aviv, foi saudado nas ruas por centenas de escolares e, no interior de um colégio, fez um discurso no qual afirmou: "Eu considero este como o maior dia da minha vida. Estou feliz por ver à minha frente o povo judeu se reconhecendo a si próprio e para ser reconhecido como uma força no mundo. Esta é uma grande era, a era da libertação da alma judaica. Isto só foi possível graças ao movimento sionista e, portanto, nenhuma força no mundo será capaz de destruí-lo". À tarde, no mesmo dia, Einstein compareceu à inauguração do primeiro prédio provisório da Universidade Hebraica, no Monte Scopus. O salão estava ornamentando com bandeiras azuis e brancas, uma grande fotografia de Theodor Herzl e uma faixa na qual se lia Orah ve Torah (Luz e Conhecimento). O famoso líder sionista, Menachem Ussishkin, disse em seu discurso: "Há dois mil anos, Tito e seu exército se encontravam neste mesmo lugar onde agora estamos. Hoje, aqui estamos inaugurando um novo templo, um templo para a ciência". E, dirigindo-se a Einstein: "Por favor, doutor, suba neste pódio que o está esperando há dois mil anos".

A viagem à então Palestina concorreu para que Albert Einstein se tornasse um sionista ainda mais convicto. Em outubro, escreveu uma carta para Chaim Weizmann: "Eu bem sei das dificuldades que são interpostas em seu caminho para realizar uma tarefa tão difícil. Não deve ser fácil ser o eleito do povo eleito". Em 1926, foi a Paris em missão do Keren Hayesod e, em 1929, foi um dos delegados ao 16o Congresso Sionista Mundial, realizado em Zurique. Em 1930, Einstein viajou novamente para os Estados Unidos, desta vez apenas com propósitos científicos e passou um tempo pesquisando no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena. No ano seguinte, recebeu um doutorado honorário em Oxford, Inglaterra, e voltou para Pasadena, onde o aguardava um convite para trabalhar um semestre no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, Nova Jersey, que estava para ser criado.

Em janeiro de 1933, quando Hitler subiu ao poder, Einstein declarou que não mais poria os pés na Alemanha e renunciou ao título que havia recebido da Academia Prussiana de Ciências. Depois de percorrer Inglaterra, Bélgica e Suíça, regressou aos Estados Unidos com a mulher Elsa e a secretária, Helen Dukas, instalando-se em Princeton, no número 112 da rua Mercer, que passou a ser sua residência permanente. Naturalizou-se americano em outubro de 1940.

Sua vida continuou tranqüila na casa da rua Mercer, onde soube da morte de Chaim Weizmann, ocorrida no domingo, 9 de novembro de 1952. Poucos dias depois, o jornal israelense Maariv publicou uma notícia afirmando que Albert Einstein seria o novo presidente do Estado de Israel. Ao que tudo indica, tratava-se de um balão de ensaio engendrado pelo primeiro-ministro Ben Gurion para perceber a reação da opinião pública, que foi amplamente favorável. Einstein não levou a notícia a sério, até receber uma proposta pelo telefone, do embaixador de Israel em Washington, Abba Eban. Respondeu nos termos mais diplomáticos possíveis: "Eu sei um pouco sobre a natureza e quase nada sobre os homens. Não posso aceitar. Só lhe peço, por favor, que ajude a tirar a imprensa da porta da minha casa". Ebban voltou a lhe telefonar, dizendo que um assunto de tal magnitude não poderia ficar restrito a uma conversa telefônica e que um telegrama formal seria enviado, para o qual aguardavam uma resposta por escrito. Seu texto foi comovente: "Estou profundamente sensibilizado com o oferecimento feito pelo nosso Estado de Israel e, ao mesmo tempo, triste e envergonhado por não poder aceitá-lo. Durante toda a minha vida sempre lidei com questões objetivas e não possuo dons naturais, nem experiência, para tratar com pessoas e exercer uma função oficial.

Fico muito constrangido em face dessas circunstâncias porque o relacionamento com o povo judeu se tornou a minha mais forte ligação humana, desde que tomei plena consciência da nossa precária situação em face das nações do mundo".

Albert Einstein morreu à uma e quinze da manhã do dia 18 de abril de 1955, no hospital de Princeton, depois de operado de um aneurisma da aorta. No dia seguinte, foi publicada uma charge no jornal Washington Post que mostrava a Terra em meio a outros planetas e onde se avistava um cartaz com os dizeres: "Albert Einstein morou aqui".

Zevi Ghivelder é escritor e jornalista

Bibliografia

· "Einstein, the Life and Times". Ronald W. Clark, World Publishing Company, 1971.