Depois da 2ª Guerra, os Estados Unidos foram impregnados pelo macartismo, as perseguições dirigidas a dezenas de supostos comunistas que atuavam nos mais diversos segmentos da comunidade artística americana.

Como consequência, uma implacável lista negra incluiu atores, diretores, autores e produtores de Hollywood e um número um pouco menor da Broadway, entre os quais um ator judeu genial, chamado Zero Mostel, que celebra seu centenário de nascimento em 2015. Assim como muitos outros, Mostel, por sua inclinação para a esquerda, foi intimado a depor perante o Comitê do Senado Sobre Atividades Anti-Americanas, ou HUAC, conforme a sigla ficou conhecida. Ao ser inquirido para que estúdio trabalhava, respondeu: “Sou contratado da 20th Century Fox ou será que é a 18th Century Fox?”

Samuel Joel Mostel, filho de um casal de judeus ortodoxos oriundos da Europa Oriental, nasceu no Brooklyn no dia 28 de fevereiro de 1915. Seu pai, Israel, era um erudito em matéria de judaísmo e fluente em sete idiomas. No início de sua carreira num clube noturno, por sugestão de um empresário, o jovem Sammy adotou o nome artístico de Zero, “porque era por onde eu estava começando, do zero”. Numa época em que os reis da comédia, os Irmãos Marx, tinham nomes bizarros como Groucho, Chico e Harpo, Zero parecia um pseudônimo bastante apropriado.

Desde cedo, as artes plásticas eram o principal interesse de Mostel. Por volta dos 15 anos de idade, costumava ir diariamente ao museu Metropolitan, na Quinta Avenida, onde copiava a lápis num caderno de folhas grandes as obras dos grandes mestres. Tal era a sua habilidade que os visitantes do museu faziam um círculo a seu redor para vê-lo desenhar. Talvez tenha sido nessa circunstância que Zero começou a gostar de se sentir a atração do público. Tanto assim, que seu passo seguinte foi atuar como guia voluntário do museu, fazendo considerações e dando informações sobre as obras expostas. Logo passou a inserir piadas e trocadilhos em suas dissertações. Certa ocasião, um dos ouvintes lhe disse: “Rapaz, você tem que largar isso e ser comediante”. Mesmo assim, preferiu continuar a frequentar cursos de arte e fazer palestras em museus e galerias de Nova York. Suas apresentações no circuito das artes, sempre enriquecidas com incomparável verve e comicidade, se tornaram conhecidas e ele começou a ser convidado para festas particulares nas quais divertia os convidados. Seus cachês giravam em torno de 5 dólares, mas ele impunha uma condição: ao fim de cada show deveria receber uma batelada de sanduíches de pastrami.

Em 1941, após completar um de seus divertidos monólogos numa pequena boate, foi procurado por um empresário da noite que lhe disse: “Você é fantástico! Aonde mais está trabalhando?” Respondeu: “No estúdio”. O homem insistiu: “Qual estúdio, Paramount ou Fox?” Mostel: “No meu estúdio de pinturas”.

O sujeito ficou de lhe obter um trabalho na boate Café Society, mas a boa intenção gorou. O dono do lugar, o astuto Barney Josephson, queria apresentar cantores e não comediantes. Eis que, em novembro daquele mesmo ano, ocorre o ataque japonês a Pearl Harbour. Na percepção de Josephson, o que público então preferia era dar boas risadas como forma de escapismo para uma guerra de sombrias previsões. Josephson voltou a procurar o jovem comediante Sam Mostel e lhe ofereceu um emprego permanente: “Quanto você quer ganhar?” Mostel: “Quero mil dólares por semana”. O outro: “Eu estava pensando algo em torno de 25 dólares”. Acabaram fechando por 40, mais os sanduíches de pastrami. Na mesma ocasião, acertaram que doravante seu nome artístico seria Zero Mostel, com estreia marcada para o dia 16 de fevereiro de 1942, pouco antes que completasse 27 anos de idade.

O sucesso na boate foi imediato, principalmente por causa das imitações que Mostel fazia, além de debochar de si mesmo por conta de seu gordo corpanzil. Certa noite, anunciou ao público que faria a imitação de uma azeitona grega com sotaque turco. Um jornalista escreveu: “Por incrível que pareça, o rapaz fica mesmo com cara de azeitona”. Seu melhor amigo, naquela época, era o ator Sam Jaffe que viria a trabalhar em dezenas de filmes de Hollywood. Jaffe estava no elenco de uma peça, Café Crown, encenada na Broadway. A peça era uma referência ao Café Royale, situado na Rua 12, perto da Segunda Avenida, em frente ao Yiddish Art Theatre, onde todas as noites se reuniam os artistas judeus para comer, beber e jogar cartas. Mostel fazia duas apresentações por noite na boate. Entre uma e outra, ia até o teatro onde estava sendo representada Café Crown. Entrava pelos bastidores e invadia o cenário, sentava-se à mesa e começava a jogar cartas com os demais atores, improvisando falas que nada tinham a ver com a peça. Algo semelhante jamais tinha sido visto no teatro americano.

Ao longo de toda a vida, Zero sempre acentuou que devia seu estilo ao teatro judaico de Nova York. Que estilo era esse? O historiador Irving Howe escreveu que os grandes atores judeus se caracterizavam por serem pessoas dotadas de vitalidade e grandiosidade, acostumadas a ocupar todos os espaços do palco. Em síntese, assim pode ser descrita a qualidade artística de Zero Mostel, que sempre foi reverente aos famosos atores judeus que assistiu nos palcos, entre os quais Boris Tomachefsky, Jacob Adler e Maurice Schwarz. Além disso, ele e o irmão, Aron, quando adolescentes, faziam figurações em representações do teatro em iídiche para ganhar um ou dois dólares.

O ano de 1943 foi particularmente generoso com Zero Mostel, que passou a integrar o elenco do programa de rádio Chamber Music Society of Lower Basin, transmitido de costa a costa dos Estados Unidos. Seu êxito foi tão extraordinário que foi eleito pelos colunistas especializados como o maior astro do ano. Logo ganhou seu próprio programa, The Zero Mostel Hour, com material que lhe era fornecido por Alan Jay Lerner, o futuro autor das letras das canções de My Fair Lady. Foi então chamado pela Metro que lhe ofereceu um longo contrato e, de início, um papel no filme DuBarry Was a Lady (DuBarry Era um Pedaço) ao lado de Gene Kelly e Lucille Ball. Entretanto, a participação de Mostel se resumiu a nada mais do que uma abreviada repetição dos monólogos que fazia nas boates. As cenas não agradaram aos produtores e a maior parte delas foi cortada na edição final. Ao mesmo tempo, a Metro estava rodando um filme chamado Tennessee Johnson, biografia do presidente americano Andrew Johnson. Ao lado de um grupo de funcionários da Metro, Mostel assinou uma petição contra a exibição do filme sob o argumento de que Johnson era uma escravocrata e reacionário e que o filme era uma distorção da história. Como consequência, a Metro cancelou seu contrato. Foi um dos primeiros embates políticos que Zero ainda travaria na indústria do cinema. Embora o macartismo ainda não estivesse em curso, foi apontado como comunista. Negou, afirmando que seu credo era a liberal democracia, embora, nos anos seguintes, viesse a participar de inúmeras manifestações da esquerda americana. Voltou para Nova York e começou a se apresentar na boate La Martinique, quando foi convocado para o exército. Contudo, não chegou aos campos de batalha. Serviu três anos como soldado raso em Camp Croft, na Carolina do Sul, com a missão de vigiar os prisioneiros de guerra alemães trazidos da Europa. Daquele tempo guardou uma recordação: “Eu ficava com muita raiva porque os malditos alemães ganhavam mais comida do que eu”. Seus contemporâneos do exército lembram que Mostel costumava entreter os companheiros de farda com engraçadíssimos monólogos, um gênero que depois viria a ser rotulado pela mídia como stand up comedy, até hoje em voga. Sua fama de comediante chegou aos altos escalões e ele foi enviado para a Europa, onde se juntou a outros famosos artistas de Hollywood, todos designados para entreter as tropas aliadas.

De volta aos Estados Unidos, passou a frequentar os círculos socialistas constituídos na maioria por jovens judeus. Há inúmeras controvérsias quanto ao seu engajamento com o comunismo. A atriz Madeline Gilford, sua amiga de infância e mulher do ator Jack Gilford, disse numa entrevista que “Zero não era uma pessoa capaz de repetir o chavão de que só acreditava na paz e na democracia; seu pensamento era bem mais sofisticado no sentido de julgar que o capitalismo correspondia a um sistema que pouco poderia fazer pelas artes”. De um modo geral, Mostel tinha o hábito de levar a comicidade também para fora dos palcos, a ponto de ser evitado pelos amigos em lugares públicos. Certa ocasião, andava pela Quinta Avenida quando avistou, vindo a seu encontro, a aclamada professora Stella Adler, idealizadora e fundadora do Actor’s Studio. Parou na frente dela e pôs-se a gritar tal como Marlon Brando numa celebérrima cena da peça e do filme Um Bonde Chamado Desejo: “Steeellaaa!”. Um artista plástico que mantinha um estúdio perto do estúdio de Zero e frequentemente o encontrava na rua, revelou que “por trás de tanta palhaçada, foi uma das pessoas mais sérias que conheci em toda a minha vida”. Numa entrevista, Mostel disse: “A verdade é que eu não me levo muito a sério. Todo o mundo, no mundo todo, se leva a sério. Um eletricista acha que está salvando a humanidade quando troca uma lâmpada. O que eu não gosto, mesmo, é de demonstrações de riqueza. Outro dia minha mulher me arrastou para um almoço na casa de um pessoal muito rico. Cheguei lá e pedi um suco de tomate. Disseram que só tinha champanhe. Aí eu pedi um alka seltzer. Novamente disseram que só tinha champanhe. Respondi, então, que ia morrer de sede com a maior dignidade”.

Em 1944, depois de um primeiro casamento que pouco durou, Zero começou um romance com Kathryn Harkin, uma das famosas “roquetes” da casa de espetáculos Radio City. Seus amigos entraram em pânico. Os pais de Mostel jamais aprovaram.

Na verdade, foi um casamento tumultuado que se estendeu por 33 anos com sucessivos altos e baixos. Eles mal conseguiam viver juntos, mas também não conseguiam viver separados. Tiveram dois filhos: Josh, nascido em 1946, e Tobias, nascido em 1949.

Depois de integrar os elencos de algumas peças de pouca repercussão em Nova York, Mostel voltou ao circuito das boates apresentando-se em Chicago, Hollywood e no célebre Palladium de Londres. Em 1948, chegou à televisão como protagonista do programa Off the Record que fracassou e só foi ao ar uma vez. De fato, a televisão não lhe era o veículo de comunicação mais apropriado. Mostel só tinha graça perante um público ao vivo e que pudesse interagir com sua espontânea comicidade. Dois anos antes, os eleitores do estado de Wisconsin haviam eleito para o cargo de senador um político até então inexpressivo chamado Joseph McCarthy. Em 1950, durante um discurso pronunciado em West Virginia, o senador anunciou que tinha coletado os nomes de “mais de duzentos comunistas ‘de carteirinha’ que têm a intenção de cometer atos de traição contra os Estados Unidos”. Estava plantada a semente do macartimso cuja paranoia tomou conta do país. Havia, porém, graves antecedentes. Em outubro de 1947 o HUAC intimou uma série de profissionais da indústria cinematográfica para comparecerem perante o Comitê em face da suspeita de que havia propaganda comunista infiltrada nas produções dos grandes estúdios. Assim, foi elaborada a tristemente famosa lista dos “Dez de Hollywood”, que incluía nomes conhecidos como o do roteirista Dalton Trumbo e do escritor Ring Lardner Jr.

As oitivas começaram com depoimentos de Walt Disney e Ronald Reagan, então presidente do sindicato dos atores. Disney confirmou que a ameaça comunista era de fato muito séria. Reagan revelou os nomes de diversos membros do sindicato que ele julgava serem comunistas. Como protesto, alguns dos mais consagrados astros de Hollywood, como o diretor John Huston, Humphrey Bogart, Lauren Bacall e Danny Kaye organizaram o Comitê Pela Primeira Emenda, ou seja, aquela que garantia no país a plena liberdade de expressão, inclusive tendo feito uma manifestação em frente ao Congresso americano. A mídia, porém, disse de forma quase unânime que se tratava de um movimento ingênuo e sem possibilidade de êxito, como de fato aconteceu. Os chamados “Dez de Hollywood” se recusaram a comparecer perante o HUAC e foram todos incriminados e sentenciados por desacato a um ano de prisão. A realidade é que o HUAC provocou um terremoto de imensas proporções na comunidade artística dos Estados Unidos. A primeira pergunta dos senadores aos depoentes era sempre a seguinte: “O senhor é atualmente ou já foi membro do partido comunista?” Em seguida, os inquisidores insistiam para que as testemunhas citassem os nomes dos comunistas de que tinham conhecimento. Alguns artistas, como o diretor Elia Kazan, apontaram nomes, o que lhe valeu o rompimento com um de seus melhores amigos, o dramaturgo Arthur Miller. Outros optaram pela sustentação da Quinta Emenda, que não obriga qualquer pessoa a se auto-incriminar, conforme a lei americana.

Dentre os que citaram nomes de comunistas, estava o coreógrafo Jerome Robbins (verdadeiro nome Rabinovitch) que incluiu Zero Mostel em sua lista, sem ter qualquer prova do que dizia, mas por ouvir falar. O depoimento de Mostel foi marcado para o dia 14 de outubro de 1955, sob a presidência do senador Clyde Doyle. Embora Mostel tivesse se comprometido com seu advogado a manter um ar solene durante a inquirição, Mostel transformou seu testemunho num verdadeiro circo. Quando lhe perguntaram se era ou tinha sido membro do partido comunista, esticou os braços num gesto como se fosse estrangular o senador e gritou: “Socorro! Este homem está me chamando de comunista!” O recinto explodiu com gargalhadas. Em seguida, quando fêz referência à “18th Century Fox”, outro senador, Frank Taverner, disse que não aceitava tal resposta e Mostel aparteou: “Então pode corrigir para 19th Century Fox”. Taverner continuou: “Seu nome é Samuel, mas o senhor também é conhecido pelo pseudônimo de Zero. Posso saber o motivo?” Mostel: “É por causa da minha situação financeira”. Taverner: “O senhor compareceu a dezenas de eventos promovidos por dezenas de organizações, todas filiadas ao partido comunista. Não é verdade?” Mostel: “Correto. Compareci a eventos em benefício de doentes de câncer, do coração e até mesmo de gripes”. Taverner: “Outra testemunha aqui afirmou que o senhor compareceu a uma reunião do partido comunista em Hollywood, em 1938”. Mostel: “Sinto muito, mas eu só cheguei a Hollywood em 1942”. O senador resolveu ser mais incisivo: “Ivan Black, responsável pela publicidade do Café Society era comunista”? Mostel: “Opto pela Quinta Emenda”. E acrescentou: “Minhas convicções religiosas impedem que eu seja um delator”. Volta o senador Doyle: “Por que o senhor não se distancia dessa atmosfera de subversão? O público americano vai lhe admirar muito mais se o senhor deixar bem claro que não há o mais leve resquício de comunismo em suas posições”. Mostel: “Meu caro amigo, eu sou adepto da antiquada ideia de que um artista exerce sua profissão a partir de seu talento e não de seu pensamento político”.

O historiador inglês Michael Freedland sustenta que toda a atuação do HUAC foi, na verdade, uma orquestrada ação antissemita. Como os donos dos maiores estúdios de Hollywood eram judeus, a verdadeira intenção do macartismo era atingi-los e prejudicar seus vultosos lucros, além de minar sua influência. Na Câmara dos Representantes, o deputado John Rankin fez um discurso em apoio do HUAC, enfatizando: “Não se esqueçam que o verdadeiro nome de Danny Kaye é Daniel Kaminsky; Eddie Cantor se chama Isic Iskopwitz; Edward G. Robinson se chama Emmanuel Goldenberg e Melvyn Douglas é Melvyn Hesselberg”. A pressão sobre os donos dos estúdios foi de tal natureza que, acovardados, emitiram o que chamaram de Declaração Waldorf, documento segundo a qual se comprometiam a jamais dar emprego a um comunista. O único que se recusou a assinar foi Samuel Goldwyn, (verdadeiro nome Shmuel Gelbfisch), que declarou: “Ninguém vai me ensinar a dirigir o meu próprio negócio”. A lista negra começou a se diluir quando o ator Kirk Douglas (verdadeiro nome Issur Danielovich) chamou Dalton Trumbo para escrever o roteiro do filme Spartacus e fez questão que ele assinasse o trabalho com seu próprio nome e não com um nome de fantasia como era costume entre os perseguidos pelo macartismo. Há pouco, Douglas declarou numa entrevista: “Eu trabalho em Hollywood há 60 anos e atuei em 85 filmes. Mas, o que mais me orgulha é ter acabado com a lista negra”.

O fato é que depois do depoimento no HUAC, Zero Mostel foi incluído na lista negra, ou seja, estava impedido de exercer sua profissão. Para sustentar a família, passou a vender os quadros que pintava, embora não merecesse grandes elogios por parte da crítica especializada em artes plásticas. Um fiel retrato do que foi o flagelo do macartismo pode ser visto no filme The Front (Testa de Ferro por Acaso), de 1976, com Woody Allen no principal papel. Conta a história de um roteirista sem talento que vende às televisões, sob seu nome, os trabalhos de profissionais listados, de modo a garantir-lhes a sobrevivência. No filme, Mostel interpreta um ator listado que, levado ao desespero, acaba se suicidando no quarto de um hotel em Nova York. O personagem foi inspirado na trágica e verdadeira história do ator Philip Loeb, incluído na lista negra, que assim deu fim à vida. A rigor, a dita lista era mais voltada para o cinema do que para o teatro. No ano seguinte, Zero pôde fazer um pequeno papel numa peça de Brecht encenada fora da Broadway. Em 1958, através de seu grande amigo, o ator Burgess Meredith, ficou com o principal papel em Ulysses, peça baseada no décimo quinto episódio do romance de James Joyce. O sucesso foi espetacular e Mostel, além de receber o prêmio Obie, dedicado às peças produzidas fora do circuito tradicional da Broadway, levou o espetáculo a Londres e Paris. Em 1960, obteve outro grande êxito, desta vez na Broadway, e um prêmio Tony, com a peça Rinoceronte, de Ionesco. Em seguida, outro sucesso na televisão, com o programa especial O Mundo de Sholem Aleichem. No mesmo ano, foi atropelado por um ônibus em Nova York, o que o obrigou a uma permanência de cinco meses no hospital. Por sorte e muita habilidade dos médicos, não perdeu a perna esquerda.

Recuperado, foi escalado para o principal papel do musical Something Funny Happened on the Way to the Forum (Um Escravo das Arábias em Roma, título do filme subsequente). Houve, porém, antes dos ensaios, algo que poderia provocar um obstáculo intransponível. O diretor Hal Prince fazia questão de que a coreografia coubesse a Jerome Robbins. Com muito tato e receio foi conversar a respeito com Zero e deu-se o seguinte diálogo. Zero: “Eu vou ter que jantar ou almoçar com ele?” Prince: “Não, apenas trabalhar”. Zero: “Então diga a ele que nós, da esquerda, não temos lista negra”. No primeiro dia em que os dois se encontraram no palco, o elenco todo ficou em suspense para ver o que ia acontecer. Robbins caminhou até Mostel e estendeu-lhe a mão. Zero retribuiu e exclamou: “Fala, boca mole!”

Entretanto, seu grande triunfo, o ponto mais alto, o momento culminante de sua carreira, o cume da glória ainda estava por vir: a encenação do musical Violinista no Telhado, no qual interpretou o personagem Tevye, doce criação do escritor Sholem Aleichem, novamente com coreografia de Jerome Robbins. O espetáculo ficou em cartaz de 22 de setembro de 1964 a 2 de julho de 1972, com um total de 3.242 representações. Para que se tenha uma ideia do sucesso de Fiddler, contava-se no meio teatral americano uma anedota segundo a qual, certa noite, havia um lugar vago na quinta fila, no centro do teatro, e uma senhora idosa ao lado. Alguém lhe perguntou: “Desculpe, mas como se explica este lugar vazio?” A mulher respondeu: “É que eu e meu marido compramos os ingressos quatro meses atrás e nesse meio tempo ele faleceu”. A pessoa insistiu: “Mas não tinha ninguém da sua família para lhe acompanhar ao teatro?” Ela: “Está todo o mundo no velório”. Mostel foi colocado nas nuvens pela crítica, tendo ele e o espetáculo recebido uma enxurrada de prêmios. Com efeito, o Tevye de Mostel está para a história do teatro musical americano assim como a Teoria da Relatividade está para Einstein..

O indomável Samuel Joel Mostel faleceu no dia 8 de setembro de 1977, vítima de um aneurisma da aorta, com apenas 62 anos de idade. Dizem que ninguém é insubstituível. Zero Mostel é.

Ele costumava contar o que apontava como o fato mais intrigante de sua carreira e que jamais conseguiu compreender. Certa noite, depois de uma apresentação de O Doente Imaginário, de Molière, uma senhora foi ao seu camarim e lhe disse: “Parabéns, o senhor é um ator excepcional. Pena que essa obra-prima não tenha sido representada no original, no idioma francês”. Mostel indagou: “A senhora fala francês?” E ela: “Não, nem uma palavra”.

BIBLIOGRAFIA
Zero Mostel: A Biography, de Jared Brown, editora Atheneum, EUA, 1989. Fontes da internet:IMDB e IDBD.

 

ATUAÇÕES DE ZERO MOSTEL

CINEMA E TELEVISÃO

•  The Electric Company (série de TV)
•  The Little Drummer Boy Book (curta para TV)
•  Mastermind
•  Journey Into Fear (Jornada do Pavor)
•  Foreplay
•  Once upon a Scoundrel
•  Rhinoceros
•  Old Faithful (filme para TV)
•  Marco
•  Saga of Sonora (filme para TV)
•  The Hot Rock (Os Quatro Picaretas)
•  The Angel Levine (O Anjo Levine)
•  The Great Train Robbery (O Grande Roubo do Trem)
•  Great Catherine (Catarina da Rússia)
•  Children of the Exodus (curta)
•  Monsieur Lecocq
•  The Producers (Primavera Para Hitler)
•  A Funny Thing Happened on the Way to the Forum (Um Escravo das Arábias em Roma)
•  The World of Sholem Aleichem (filme para TV)
•  The Model and the Marriage Broker
•  The Guy Who Came Back (O Último Jogo)
•  Mr. Belvedere Rings the Bell (Belvedere, o Gênio do Asilo)
•  Sirocco
•  The Enforcer (Um Preço Para Cada crime)
•  Panic in the Streets (Pânico nas Ruas)
•  DuBarry Was a Lady (DuBarry Era um Pedaço)

TEATRO NA BROADWAY

•  Café Crown (Substituição)
•  Keep’em Laughing
•  Top Notchers
•  Concert Varieties
•  Beggar’s Holiday
•  Flight Into Egypt
•  Lunatics and Lovers (Substituição)
•  The Good Woman of Setzuan
•  Good as Gold
•  The Good Soup
•  Rhinoceros
•  A Funny Thing Happened on the Way to the Forum
•  Fiddler on the Roof